- Author, Alejandro Millán Valencia
- Role, BBC News Mundo
Um exercício comum nas tarefas escolares era colocar nosso Sistema Solar na forma de uma maquete.
Graças a este exercício, sabemos que o Sistema Solar é um grupo de planetas que giram em torno da grande estrela dourada. Mas nesses modelos o sol era estático e flutuava na imensidão.
No entanto, os astrônomos vêm apontando há décadas que o Sistema Solar, e especialmente nossa galáxia, a Via Láctea, estão viajando pela vastidão do universo a cerca de 600 quilômetros por segundo.
E também já se sabe há muito tempo que essa jornada tem um destino.
As descobertas feitas na década de 70 por um grupo de astrônomos determinaram a existência de uma “grande força” cuja origem seria o destino da jornada que a galáxia está fazendo no momento. Essa força foi chamada de Grande Atrator.
“Nossa galáxia está indo na direção de algo que não podemos ver claramente. O ponto focal desse movimento é o Grande Atrator, produto de bilhões de anos de evolução cósmica”, explica o cosmólogo Paul Sutter, professor de astrofísica na Stony Brooks University em Nova York, à BBC Mundo (serviço em espanhol da BBC).
E, apesar da impressionante velocidade com que nossa galáxia viaja, ela provavelmente não chegará ao destino definido pelo Grande Atrator.
“Nunca chegaremos ao nosso destino porque, em alguns bilhões de anos, a força acelerada da energia escura destruirá o universo”, explica Sutter.
A energia escura, como explica a Nasa, é uma força misteriosa que permeia o cosmos e acelera a expansão do universo.
Isso se traduz em galáxias se afastando cada vez mais umas das outras, até que em bilhões de anos a estrutura do universo que conhecemos hoje seja destruída.
Portanto, entender os efeitos do Grande Atrator tem a ver com o esforço de conhecer a estrutura do universo.
“Dentro do estudo do universo, é muito importante saber como ele se organiza, por que se arranja a partir de estruturas que têm determinados tamanhos, e conhecer cada uma delas e sua dimensão ajuda muito nessa empreitada”, diz Carlos Augusto Molina, astrofísico colombiano que trabalha no Planetário de Bogotá, à BBC Mundo.
Como foi descoberto
À medida que a exploração espacial progrediu, em grande parte graças ao lançamento do telescópio Hubble na segunda metade do século 20, os astrônomos enfrentaram o desafio de organizar de alguma forma tudo o que estavam vendo.
Uma espécie de mapa começou a ser traçado e, claro, um dos pontos fundamentais era saber onde fica o nosso Sistema Solar e a nossa galáxia no universo.
“Por volta da década de 1970, começamos a estudar o movimento do nosso Sistema Solar, da nossa galáxia, e o comparamos com o movimento de outras galáxias próximas, e tudo parecia ir na mesma direção da expansão do universo”, explica Sutter.
“No entanto, os astrônomos começaram a notar algo curioso: parecia haver uma vaga direcionalidade além desse movimento expansivo, como se todas as galáxias próximas a nós também estivessem indo em direção ao mesmo ponto focal”, acrescenta.
Para muitos astrônomos, essa “direção” tinha a ver com defeitos nas observações ou outros fatores que levavam a uma leitura errônea das informações que recebiam.
Mas os telescópios foram aprimorando suas tecnologias e, por volta de 1986, a ciência conseguiu determinar que de fato as galáxias mais próximas, inclusive a nossa, caminhavam em uma direção comum.
“Com esses novos instrumentos, os astrônomos são capazes de determinar não apenas que estávamos caminhando para uma concentração de matéria, mas também a velocidade com que estávamos fazendo isso. Em outras palavras, eles foram capazes de estabelecer com certeza o que era”, aponta Molina.
Nesse sentido, embora não possa ser determinado com exatidão, uma das principais teorias aponta para o fato de que o Grande Atrator é uma grande estrutura de matéria escura localizada dentro do superaglomerado de galáxias conhecido como Laniakea e que tem a capacidade de atrair galáxias em um raio de mais ou menos 300 milhões de anos-luz de distância.
A matéria escura é outro dos componentes enigmáticos do universo.
É um tipo de matéria que não pode ser observada, apenas se pode intuir que existe devido ao efeito gravitacional que exerce sobre os objetos do cosmos.
Essa grande concentração de matéria que arrasta as galáxias foi chamada de Grande Atrator, que se localiza a cerca de 200 milhões de anos-luz da Terra.
Uma das razões pelas quais Sutter tem se dedicado a estudar mais sobre o Grande Atrator é que, apesar dos avanços na observação astronômica, essa superestrutura permanece um mistério.
“Uma das grandes desvantagens de saber mais sobre o Grande Atrator é que ele está localizado em uma posição muito inconveniente: totalmente no lado oposto da nossa galáxia”, diz ele.
“Quando tentamos observar há muito ruído: muitas estrelas, planetas, nebulosas no meio que não permitem uma análise mais completa dessa força que nos atrai.”
Não é um buraco negro
Tanto Sutter quanto Molina deixam claro que o Grande Atrator não é um buraco negro, apontando que é uma anomalia gravitacional.
“É uma força totalmente diferente e não há conexão com buracos negros no universo”, diz Sutter.
A verdade é que, ao conseguir determinar isso, também foi possível estabelecer que havia outras anomalias semelhantes em outras partes do universo que teriam uma função semelhante: arrastar galáxias.
“Saber isso nos ajuda em uma tarefa fundamental para entender o universo: como ele é constituído por essas estruturas que classificamos ou hierarquizamos de acordo com sua capacidade gravitacional”, diz Molina.
Para Molina, o “mapeamento” do universo se faz aprendendo mais sobre como essas áreas interagem com outras forças, como a luz ou a gravidade.
“Conhecer essa estrutura nos permite comparar como processos como a interação com a luz — ou não — ou sua densidade ocorrem em estruturas semelhantes em outras galáxias do universo”, acrescenta.
Outro aspecto importante é que nos permite estudar o “futuro” do nosso ambiente espacial.
“Saber o quão rápido nossa galáxia está se movendo e para onde está indo nos permite pensar ou estudar aspectos de como ela se comportará no futuro”, observa Sutter.
No entanto, embora a partir desses desenvolvimentos saibamos o destino dessa jornada em que a galáxia está, também sabemos que a Terra ou nosso Sistema Solar podem muito bem não ser capazes de ver o fim.
“Existe outra força muito poderosa no universo que chamamos de energia escura, que é o completo oposto da gravitacional: em vez de puxar, ela empurra”, diz Sutter.
“Por isso, quando realmente nos aproximarmos do Grande Atrator daqui a alguns milhões de anos-luz, essa energia escura, da qual sabemos muito pouco, vai ter um efeito nessa viagem, que é muito possivelmente a destruição de tudo o que conhecemos”, concluiu o cientista.
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