- Author, Petra Zivic
- Role, Journalista da BBC
A apenas meio metro abaixo do solo, arqueólogos encontraram os restos de uma taverna que se acredita datar de 2.700 a.C.
O espaço público foi encontrado na antiga cidade de Lagash, no atual Iraque.
“Consistia de uma grande área comum que provavelmente era o lugar onde a comida era consumida”, diz Sara Pizzimenti, da Universidade de Pisa, na Itália, à BBC.
Ela é uma das pesquisadoras que vem estudando a cidade antiga há cinco anos como parte do Projeto Arqueológico de Lagash.
Lagash foi uma das maiores e mais antigas cidades do sul da Mesopotâmia e um dos primeiros centros urbanos do mundo.
Fazia parte da civilização suméria, formada por uma série de cidades-estado às margens dos rios Tigre e Eufrates, que durou do final do Período Neolítico até o início da Idade do Bronze.
Bancos, um forno e uma geladeira de 5 mil anos
Por meio de novas técnicas, como imagens de drones e análises de magnetometria — método que permite aos arqueólogos “ver” o solo sem escavar —, a equipe conseguiu cavar com mais precisão.
Ao chegarem à taverna, eles descobriram bancos, uma espécie de geladeira de barro, um forno e restos de recipientes para armazenar alimentos, muitos dos quais ainda continham comida.
“Graças ao tipo de cerâmica encontrada no local e à arte glíptica (de talhar ou gravar em pedras preciosas), não há dúvida de que a taverna tenha quase 5 mil anos”, diz Holly Pittman, diretora do projeto, à BBC.
Mas como um dispositivo de resfriamento funcionava sem eletricidade?
Um refrigerador de pote de barro depende da evaporação — e consiste de dois potes de tamanhos diferentes (um dentro do outro).
O pote externo, forrado com areia molhada, continha um pote interno, que era esmaltado para evitar a entrada de líquido — e a comida era colocada nele. A evaporação do líquido externo extraía o calor do pote interno. Qualquer coisa podia ser resfriada nesses potes.
Localizada às margens do Rio Tigre, ao norte de onde ele encontra o Eufrates, Lagash foi um movimentado centro comercial durante o início do Período Dinástico, que durou de 3.200 a 2.900 a.C., quando foram fundadas algumas das primeiras cidades do mundo.
“Estamos tentando entender como esta cidade se desenvolveu do sítio arqueológico menor que caracterizava a área em períodos anteriores para uma rede muito maior e muito mais integrada”, diz o arqueólogo Reed Goodman, da Universidade da Pensilvânia, nos EUA, à BBC.
Sobras de comida de 5 mil anos
Próximo ao forno e à geladeira de barro, os arqueólogos encontraram outro cômodo com tigelas de comida, frascos e potes.
E não estavam vazios.
“Encontramos mais de 100 tigelas com restos de comida, o que nos faz acreditar que este era um lugar em que as pessoas da época passavam e pegavam algo para comer ou beber”, diz Pizzimenti.
O local não poderia ser uma cozinha doméstica, segundo ela, “pela quantidade enorme de comida que era preparada”.
Os vestígios de comida revelam que a taverna servia peixe aos clientes que a visitavam há 5 mil anos.
“Dentro de cada um desses recipientes encontramos uma quantidade enorme de espinhas de peixes, muito bem preservadas”, conta Pittman.
O que intriga os arqueólogos é por que a comida não foi consumida.
“Todas as coisas que encontramos foram simplesmente deixadas lá, então algo provavelmente aconteceu, mas não sabemos o quê —
e isso é algo que queremos descobrir”, afirma Pizzimenti.
Falta uma peça do quebra-cabeça
Eles também querem descobrir quem eram os visitantes da taverna e qual era seu status social.
Escavações anteriores no sítio arqueológico revelaram que a cidade de Lagash abrigava três complexos de templos, onde as classes altas viviam.
Mas os arqueólogos acham que a taverna não estava localizada em uma área nobre da cidade.
“A vizinhança onde a taverna foi encontrada não parece ser uma área nobre. Parece que era um lugar frequentado por pessoas comuns”, diz Pizzimenti.
Eles acreditam que a taverna era um lugar em que as pessoas que trabalhavam fora de casa podiam fazer suas refeições diárias.
“O que precisamos descobrir é se essas pessoas trabalhavam na produção de cerâmica”, afirma Pittman.
A equipe está ansiosa para descobrir mais sobre a vida das pessoas comuns em Lagash.
“Esperamos fornecer um bom contraponto a esse tipo de narrativa que há muito tempo defende esses lugares como espaços apenas para ricos e pobres, com muito pouca diversidade no meio”, diz Goodman.
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