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O jovem Equador bateu um Catar que deu à seleção tudo que o dinheiro pode comprar

Copa do Mundo abertura Catar Equador Enner Valencia comemora gol — Foto: REUTERS/Kai Pfaffenbach




Um dos pontos mais interessantes das Copas do Mundo é quando seus jogos ajudam a traçar um painel mais amplo do futebol de um país, ou mesmo de traços de uma sociedade. A estreia mostrou que, em meio a tantas controvérsias e a uma compreensível reação da comunidade internacional, o Catar dotou a sua seleção de tudo o que o dinheiro pode comprar. E nem sempre é o bastante. Já o Equador levou a campo o que pode ser uma das mais jovens escalações do Mundial, retrato de um fenômeno de revelação de jogadores que ocorre no país. Nem precisou ser brilhante para vencer com conforto e com dois gols de um experiente Enner Valencia.

Entraram em campo dez equatorianos com 25 anos ou menos. O país se tornou um revelador de jogadores em todos os setores e, aos poucos, amplia presença nas principais ligas do mundo. E um dos polos é o Independiente del Valle, não por acaso o atual campeão da Copa Sul-Americana. Ao bater o Catar por 2 a 0, o Equador tinha em seu time titular cinco jogadores formados nas divisões de base do clube de Sangolquí. Uma juventude que permite ao time pressionar e atacar rapidamente, tentar chegar ao gol em poucos toques. Não era um time que sufocava a saída de bola, mas o fazia a partir da intermediária. Foi assim que construiu sua vitória: uma interceptação de Jhegson Mendez resultou no passe em profundidade e no pênalti do primeiro gol; uma pressão no centro do campo acabou na arrancada de Moisés Caicedo e no cruzamento de Preciado para Enner Valencia marcar pela segunda vez.

E foi este estilo dinâmico e de ataques rápidos que venceu um Catar que não estava disposto a fazer concessões a um plano trabalhado por 12 anos, desde que o país ganhou o direito de sediar o Mundial. Quatro anos antes disso, foi criada a Aspire, uma academia de esportes destinada a buscar talentos e desenvolvê-los num país em que falta o básico para achar grandes futebolistas: gente. No topo da gestão esportiva estão espanhóis, já que o sucesso da seleção da Espanha entre 2008 e 2012, além do Barcelona de Guardiola, fizeram o país escolher se inclinar por esta forma de jogar.

O dinheiro comprou a melhor estrutura, contratou treinadores, o país trabalhou por algumas naturalizações, longos períodos de treinos e participações em competições mundo afora: Copa América, Copa Ouro da Concacaf (América Central e do Norte) e, claro, a Copa da Ásia, da qual foi campeão em 2019. A Aspire comprou até dois clubes na Europa para que jogadores ganhassem experiência internacional. Nem tudo foi em vão, os últimos torneios mostraram que o time pode fazer mais do que apresentou na estreia. Parece ter sentido a ocasião. No universo das seleções, ainda não é possível comprar o melhor talento, tampouco garantir que a mais nobre ocasião do futebol do país na história não pese sobre os jogadores.

O fato é que o Catar não se limitava a defender. Aliás, o que menos fazia era defender. Tentava jogar, mas tampouco conseguia. Buscava saídas de bola pelo chão, mas insistia nos passes pelo centro, onde o Equador, compacto, fechava linhas de passe e recuperava bolas. Uma vez retomada a posse, tentava passes longos para Enner Valencia e Estrada duelarem. Gustavo Alfaro optou por uma formação ofensiva, com os pontas Gonzalo Plata e Romario Ibarra. E atacava uma defesa exposta e frágil. O Catar tem seu jogo muito estruturado, prepara-se para ter a bola e se posiciona no ataque sem fazer concessões em nome do tamanho do desafio que o espera. É até ousado. Mas torna-se frágil nas duas extremidades do campo: não ganha duelos na área e tem dificuldades para marcar gols.

Já o Equador, além de sua capacidade de atacar rápido, tinha em Hincapié um outro destaque. Mais um produto do Del Valle, o zagueiro do Bayer Leverkusen mostrava, aos 20 anos, uma grande capacidade de distribuir jogo na saída de bola. Atraía um dos meias cataris, enquanto o lateral Estupiñán fazia Pedro Miguel, ala do Catar, deixar a linha defensiva para marcá-lo. A partir daí o Equador saía sempre pela esquerda, com lançamentos às costas da pressão, colocando seus atacantes em vantagem contra os defensores locais. No segundo tempo, já em vantagem, o time esperou um pouco mais atrás para tentar explorar o espaço. Teve até duas chances de ampliar, mesmo tendo permitido um pouco mais de posse aos donos da casa.

Para o Equador, a estreia significava uma espécie de classificação para jogar por uma das vagas do grupo, seja com Senegal ou com a Holanda, que estreiam nesta segunda. Sua juventude resistiu ao teste do primeiro jogo de uma Copa, um prêmio a um país que consegue fazer jogadores florescerem. Os desafios, a partir de agora, serão maiores.

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