Crédito, BAS

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A76a: o gelo se estende a centenas de metros de profundidade abaixo da linha d’água

  • Author, Jonathan Amos
  • Role, Correspondente de Ciência da BBC

Cientistas britânicos estão monitorando dois dos maiores icebergs do mundo, à medida que eles se aproximam de áreas onde podem afetar a navegação, a pesca e a vida selvagem.

Esses blocos congelados, do tamanho de cidades, que se separaram da Antártida podem levar décadas para derreter.

Um grupo de pesquisadores fotografou um deles, chamado A81, enquanto voava da base Halley do Reino Unido. Este iceberg é tão grande quanto a cidade de São Paulo.

Outra equipe navegou ao redor do A76a, com área equivalente a duas cidades de São Paulo. Esse é um gigante de 3.000 km² e tem o formato longo e fino.

Alguns compararam a aparência dele a uma tábua de passar roupa gigante.

O professor Geraint Tarling estava a bordo do Royal Research Ship Discovery e aproveitou a oportunidade para inspecionar o iceberg à deriva, flutuando do mar de Weddell, na Antártida, para o Atlântico Sul.

“Estava diretamente em nosso caminho quando voltávamos para casa, então levamos 24 horas para contorná-lo”, disse o oceanógrafo biológico à BBC News.

“Chegamos bem perto em alguns pontos e tivemos uma visão muito boa dele. Coletamos água ao redor do iceberg usando canos especiais não contaminados sob o navio, então temos muitas amostras para estudar.”

O cientista do British Antarctic Survey disse que os enormes icebergs de topo plano, ou tabulares, tiveram uma influência considerável em seu ambiente – tanto perturbador quanto produtivo.

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O iceberg A81 é tão grande quanto a cidade de São Paulo

À medida que derretem, esses icebergs despejam volumes gigantescos de água doce no mar, o que pode dificultar o funcionamento de alguns organismos.

Por outro lado, o derretimento também libera a poeira mineral que foi incorporada ao gelo quando fazia parte de uma geleira em contato com o leito rochoso da Antártida. Essa poeira é uma fonte de nutrientes que estimulam a vida em mar aberto.

O A76a se originou bem ao sul de sua posição atual, na plataforma de gelo Filchner-Ronne, em maio de 2021.

Agora, ele está seguindo para o norte, levado por correntes e ventos em direção à lacuna entre os territórios ultramarinos britânicos das Malvinas e da Geórgia do Sul.

Há certa preocupação de que ele possa virar para o leste em direção à Geórgia do Sul e ficar preso nas águas rasas de sua plataforma continental —ou possivelmente em uma série de ilhotas próximas conhecidas como Shag Rocks.

Em qualquer local, seria uma complicação para a vida selvagem e a população local.

“Se ele ficar encalhado, nossa maior preocupação é a ruptura e o impacto dos icebergs (menores) nos movimentos das embarcações na região”, explicou Mark Belchier, diretor de pesca e meio ambiente do governo da Geórgia do Sul e das Ilhas Sandwich.

“Embora a temporada turística esteja chegando ao fim, nossas pescarias operam durante os meses de inverno, então isso pode afetar as operações. Esse iceberg tem o potencial de causar problemas localizados em alguns de nossos animais selvagens, embora, é provável que seja um problema menor se ele acabar durante o inverno, quando a maioria dos animais pode se alimentar em distâncias maiores e não precisam voltar para a terra para alimentar os filhotes – ou se tiver se deslocado mudando completamente da ilha.”

O A81 se separou da plataforma de gelo Brunt no final de janeiro.

Esperava-se que ele se desprendesse há vários anos, mas de alguma forma conseguiu se agarrar ao continente pelos mais finos fios de gelo, desafiando as previsões dos cientistas. O destino final é seguir o a A76a pelas rotas marítimas do Atlântico Sul.

Uma equipe da BAS teve a oportunidade de sobrevoar o iceberg quando ele deixou a estação de pesquisa Halley no final da temporada de verão do Hemisfério Sul.

Muitas vezes é difícil avaliar o tamanho dos icebergs ao visualizar sua massa branca em fotos.

Mas tanto em relação ao A81 quanto ao A76a, vale lembrar que o que você vê é apenas uma fração do volume desses objetos.

As falésias visíveis se elevam acima da linha d’água por dezenas de metros, o que significa que o gelo se estende abaixo da superfície da água por centenas de metros.

Os maiores icebergs podem pesar um trilhão de toneladas.

O bloco de gelo conhecido como A23a é atualmente o maior iceberg do mundo. Ele mede cerca de 4.000 quilômetros quadrados de área, o equivalente a mais de três vezes o tamanho da cidade do Rio de Janeiro.

Como o A76a, ele partiu da plataforma de gelo Filchner-Ronne, mas há muito tempo – em 1986. O bloco passou décadas desde então como uma “ilha de gelo”, ancorada no centro-sul do Mar de Weddell.