• Juan Francisco Alonso
  • BBC News Mundo

Crédito, Cortesia do Governo da Baixa Califórnia do Sul

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Incêndio de um navio, que não deveria estar na região, provocou vazamento de combustível em área classificada como Patrimônio da Humanidade pela Unesco

Os mexicanos estão testemunhando um desastre que atingo um de seus tesouros naturais, a praia Balandra, considerada a “mais bonita” do país.

A praia foi fechada devido a um vazamento de combustível causado pelo incêndio de uma embarcação de passeio que, de acordo com a legislação nacional, não poderia estar ali.

As autoridades enviaram dezenas de funcionários para tentar limpar o local, que desde 2012 detém não apenas o título de “área de proteção de flora e fauna”, mas também de Patrimônio Mundial concedido pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação e Cultura).

O incidente preocupa os habitantes do estado de Baixa Califórnia do Sul — localizado na Península da Baixa Califórnia, a noroeste do país — para quem os milhares de turistas que, ano após ano, chegam atraídos pelas famosas águas azul-turquesa das praias representam uma importante fonte de renda.

Sem vítimas

O vazamento que tingiu de preto as águas azuis e as areias brancas de pelo menos três praias do parque Balandra ocorreu na noite de sábado (20/8), quando um barco identificado como Fortius pegou fogo.

Oito turistas que viajavam na embarcação e quatro tripulantes foram resgatados ilesos, informou a imprensa local.

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As causas do acidente permanecem desconhecidas. No entanto, o fato de o iate, com mais de 24 metros de comprimento e quase 6 de largura, ter afundado com diesel em seus tanques, levanta temores de que o derramamento continue.

“A embarcação afundada também deve ser resgatada, para não contaminar mais, embora a Marinha já tenha feito uma contenção para que [a mancha de combustível] não continue se espalhando”, declarou o governador de Baixa Califórnia do Sul, Víctor Castro Cosío, após o incidente.

Em um primeiro comunicado, as autoridades da Área Natural Protegida de Balandra, a Procuradoria Federal de Proteção Ambiental (Profepa), a Capitania dos Portos e a Secretaria da Marinha admitiram que a quantidade de combustível derramado é “considerável”.

Avaliações contraditórias

Dias após o vazamento, as autoridades não informaram sobre a extensão da área afetada ou quando os trabalhos de limpeza poderão ser concluídos e se este importante centro turístico poderá ser reaberto.

Crédito, Cortesia do Governo da Baixa Califórnia do Sul

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Dezenas de pessoas participam dos trabalhos de limpeza nas praias do Parque Balandra, que as autoridades não informaram quando terminarão

Apesar de tudo isso, há quem avalie positivamente o desempenho das autoridades governamentais.

“Todas as autoridades agiram corretamente em tempo hábil”, garantiu Alberto Guillén, da Rede de Observadores Cidadãos, um dos primeiros grupos civis que compareceu ao local do ocorrido e colaborou na evacuação dos turistas.

Guillén, que é biólogo marinho, avalia que em alguns dias a limpeza dos resíduos de superfície estará concluída. No entanto, esclareceu que isso não implicará na reabertura de Balandra.

“Devemos avaliar o impacto no fundo do mar”, diz, acrescentando que na quarta-feira (24/8) mergulhadores da Universidade Autônoma da Baixa Califórnia realizaram uma incursão ao fundo do mar para determinar a magnitude dos danos causados ​​pelo combustível derramado.

Mais crítico, Miguel Rivas, diretor de santuários marinhos da organização Oceana, considerou que o acidente revela que a legislação ambiental é uma “letra morta”.

“Os regulamentos da Área Protegida não permitem a presença de barcos a motor na área, mas esta embarcação estava lá e, aliás, foi numa altura em que os visitantes não são permitidos”, explicou à BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC.

O Programa de Gestão da Área de Proteção da Flora e Fauna Balandra para a Área Natural Protegida, lançado em outubro de 2015, proíbe o “uso de veículos motorizados” na área.

Crédito, Getty Images

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Balandra é considerada a ‘praia mais bonita do México’ por suas águas azul-turquesa e areias brancas, mas também é um refúgio para uma enorme diversidade de flora e fauna

Rivas também qualificou como “lamentáveis” ​​as declarações do governador Castro Cosío, que tentou inocentar os proprietários da embarcação.

“Esse tipo de evento não pode ser previsto, foi um incêndio em um barco. Acho que toda a comunidade entende que foi um acidente. Poderia ter acontecido a um carro na cidade e derramado gasolina. Os donos, coitados, também tiveram perdas”, disse o governador.

“O que aconteceu prova que a nossa regulamentação é muito boa no papel, mas que na prática não é cumprida. A falta de vigilância e fiscalização tem permitido esta situação”, diz o ativista.

Evitar novos derramamentos

Se divergem sobre outros temas, os ativistas concordaram, porém, que punições devem ser impostas aos proprietários do iate danificado.

“Devem ser impostas multas exemplares aos proprietários do navio para que reparem os danos e evitem que esse tipo de situação se repita no futuro”, diz Rivas.

Demandas semelhantes também foram ouvidas no Congresso. O deputado Eduardo Van Wormer Castro exigiu todo o peso da lei para os responsáveis ​​pelo desastre e para a reorganização da área, informou o jornal El Independiente.

Balandra não é apenas importante economicamente pelo seu valor turístico, mas também é de grande importância ambiental. A razão? É um santuário para baleias, golfinhos e outras espécies marinhas, e contém três dos quatro tipos de manguezais do México.

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