Renato S. Cerqueira/Estadão Conteúdo
A propaganda de algumas lojas empurrava os preços para baixo, antecipando o esquentamento da frequência dos fregueses aos seus estabelecimentos. Outras, na moita, supervalorizaram seus produtos para simular maiores descontos na concorrência de novembro.
A propaganda insistia que o lucro nas compras seria grande e quem quisesse aproveitar comprasse logo, pois os estoques estavam acabando. Dizem que a pressa é inimiga da perfeição, mas, nesse caso, era amiga dos vendedores e, no final, se o engodo não fosse muito, todos saíam ganhando porque a
felicidade não tem preço. O comerciante desovava as unidades estocadas, e eram
muitas, lucrando na quantidade.
O lucro dos consumidores era menor do que imaginavam, todavia o imaginado era altamente compensador e a fantasia valorizava o negócio. É bom saber-se inteligente, um ganhador de dinheiro, mesmo quando o ganho seja insignificante ou apenas aparente. A imaginação vale mais do que a
realidade.
Todos os dias de novembro transformaram-se em “quinta-feira promocional” (Black Friday), avançando para dezembro e antecipando-se para outubro como planta invasora. O adubo especial era a euforia, a necessidade de comprar mais barato. Meu vizinho, um octogenário, foi com a mulher ao shopping levando algumas moedas para fazer compras. No estacionamento, uma jovem o abordou:
- Moço… E ele pensou, “me chamou de moço?”, acrescentando, está falando
comigo? - Sim! Você me conhece da televisão.
- E eu fiz alguma coisa errada?
- Não, só quero fazer-lhe uma oferta. Com 70% de abatimento!
- Aqui no estacionamento?
- Sim! Restam-me apenas quatro unidades do produto, terei que expô-lo aqui
mesmo. - Que produto?
O idoso estava interessado a essa altura por qualquer produto, e a esposa de
olho nele. - Está no meu carro, venha ver…
A esposa, pronta para o ataque, bradou: – Não vai, não! Que produto misterioso
é esse que você quer mostrar em segredo ao meu marido?!
A vendedora respondeu: – Não é o que você pensa! É um jogo de panelas que não engorduram. O idoso perguntou: – Qual o preço?
- 12 mil reais, 30% do valor de venda.
- 30%? Eu quero ver!
A esposa retomou a palavra: – Se 12 mil equivalem a 30%, o preço do conjunto
fica em torno dos 40 mil reais, só se as panelas forem de ouro.
E o idoso: – 30% é muito barato! Quero ver!
A esposa: – Ver coisa nenhuma! Estou com pressa, vamos embora.
As pessoas que assistiam à cena não se contiveram e gritaram: – viva o Black
Friday! Mostre as panelas, nós também queremos ver.
Vai vender barato assim no inferno!
José de Siqueira Silva é Coronel da reserva da PMPE
Mestre em Direito pela UFPE e Professor de Direito Penal
Contato: jsiqueirajr@yahoo.com.br
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20/11/2023 às 08:13