Encontro – que chega à 60ª edição – celebrou a luta do povo negro pela própria existência. (Foto: Diego Nigro/PCR)
Na segunda-feira de Carnaval, o Pátio do Terço foi palco da 60ª edição da Noite dos Tambores Silenciosos, uma das mais potentes manifestações afro-brasileiras do Carnaval do Recife. A festa, que celebra a ancestralidade e representa a luta e resistência do povo negro, atraiu milhares de pessoas. Este ano, o evento contou com a presença de 43 agremiações de maracatu de baque virado, tanto mirins quanto adultos de diversas regiões do Recife.
Para saudar os ancestrais, conectando as gerações presentes às passadas, a Noite dos Tambores Silenciosos teve início com a participação das crianças dos Tambores Mirins, que desfilaram pela Rua Vidal de Negreiros até chegar ao palco em frente à Igreja de Nossa Senhora do Terço. “Para mim, é primordial a valorização desse momento da louvação das crianças, porque é onde a gente vê que isso não vai acabar. São eles que irão continuar essa tradição quando nós não estivermos mais aqui. Eles estão aí, tocando divinamente, aprendendo sempre, com a maior alegria. É uma tarde dedicada exclusivamente às crianças, em que todas as nações que têm crianças estão aqui. É uma celebração do futuro também”, destaca Paz Brandão, uma das organizadoras do evento.
Por volta das 18h, as apresentações dos tambores mirins cessaram, e todos os reis e rainhas mirins foram convidados a subir ao palco. A cerimônia em reverência aos Eguns, termo utilizado nas religiões de matriz africana para se referir aos espíritos dos que já se foram, teve início com o anoitecer, às 18h, sendo conduzida pela ialorixá Mãe Fátima de Oxum.
Desfilando cores, brilhos e muita religiosidade, às 20h, foi a vez das nações adultas que seguiram o mesmo percurso para se apresentarem no palco. A apoteose ocorreu à meia-noite, na virada da segunda para a terça-feira de Carnaval, e foi marcada pelo apagar das luzes do Pátio do Terço e pelo silenciamento dos tambores e das pessoas presentes. “Todos os anos venho acompanhar a Noite dos Tambores Silenciosos. Venho ver o Maracatu Porto Rico, de Olinda, mas também apreciar os outros”, disse Prazeres da Silva, camareira, 46 anos.
Aos 81 anos, o babalorixá Tata Raminho de Oxossi conduziu a cerimônia que ele realiza desde a primeira edição da Noite dos Tambores Silenciosos, abrindo espaço para os cânticos dedicados à orixá Iansã. O rufar alto dos tambores assinalou o encerramento da celebração. “A celebração é para que sempre a gente possa fazer um carnaval de felicidade. Peço a Deus que enquanto eu puder fazer essa festa eu vou fazer”, disse o babalorixá.
A tradição histórica é apreciada há mais de 50 anos no Pátio do Terço, no bairro de São José, no Centro do Recife, espaço em que historicamente recebe o encontro de dezenas de nações de maracatus, valorizando a preservação da ancestralidade dos povos africanos. Mayara Fonseca, professora, 29 anos, é de João Pessoa, mas pelo segundo ano consecutivo vem ao Recife para acompanhar a festa. “Pra mim é algo único no mundo um desfile de tantos maracatus. E só acontece um dia por ano, por isso faço questão de vir”, afirmou.