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Nathê Ferreira e Fany Lima assinam o primeiro megamural do Recife feito por artistas negras

Intervenção artística, intitulada “Nossa Rainha já se Coroou”, presta homenagem às personagens negras do Maracatu Nação, na fachada do Edifício Almirante Barroso, na Boa Vista. Iniciativa é promovida pela Prefeitura do Recife com apoio das Tintas Coral. (Foto: Uenni/PCR)

O mega mural intitulado “Nossa Rainha já se Coroou”, criado pelas muralistas e grafiteiras Nathê Ferreira e Fany Lima, é uma poderosa homenagem às personagens negras do Maracatu Nação, manifestação cultural afro-brasileira pernambucana. A obra está em execução na fachada do Edifício Almirante Barroso, localizado no bairro da Boa Vista, no coração do Recife. As artistas foram selecionadas em primeiro lugar no Edital de Credenciamento para Realização de Intervenções Artísticas em Empenas Cegas, promovido pela Prefeitura do Recife, por meio da Secretaria Executiva de Inovação Urbana (SEIURB).

A Tintas Coral está apoiando a realização do mega mural, fornecendo as cores necessárias para transmitir a cosmovisão e simbologia africanas presentes na obra. “Nossa Rainha já se Coroou” é a primeira intervenção artística em empenas cegas aprovada em um edital público direcionado para a realização de mega murais em Pernambuco, marcando um momento histórico significativo para a arte urbana no Estado. Além disso, é importante ressaltar que esta é a primeira obra de tais proporções realizada por duas mulheres negras no Recife, sendo produzida pela Afinco Produções.

A artista Nathê destacou a presença majoritária de pessoas negras, mulheres e LGBTs na equipe de produção, fotografia e arte, reforçando a importância de valorizar quem está por trás do projeto, que visa homenagear mulheres negras e a ancestralidade na cultura popular pernambucana, enquanto impulsiona a economia cultural e criativa no Recife. “É uma equipe muito qualificada e, além da representatividade, temos engenheiras, arquitetas e educadores. O uso da tecnologia também foi muito importante. Pintamos e desenhamos tudo digitalmente, e a partir disso usamos o aplicativo da Coral para selecionar as cores que foram fabricadas exclusivamente para o nosso mega mural. Também utilizamos drone para mapeamento e projeções em 3D”, completou.

Situado na Rua do Riachuelo, uma das vias mais movimentadas do Centro, a obra é facilmente visível para milhares de pessoas durante os horários de pico. Além disso, o prédio e a pintura podem ser admirados até mesmo do outro lado do Rio Capibaribe, nas proximidades do Palácio do Campo das Princesas e do Recife Antigo.

Elaborado a partir do mote “Recife Cidade da Música”, título dado pela Unesco, o megamural é inspirado pelo Maracatu Nação, conhecido também como Maracatu de Baque Virado, importante manifestação afro-pernambucana reconhecida como Patrimônio Cultural Brasileiro. O mural busca transmitir a vivência das artistas, duas mulheres negras, em suas respectivas comunidades: o Maracatu Nação Xangô Alafim, localizado em Jaboatão dos Guararapes, e o Maracatu Nação Cabeça de Nêgo, em Camaragibe.

Dividido entre o baque e o cortejo, uma das principais características do Maracatu Nação é seu forte vínculo com a espiritualidade de matriz africana, cujas práticas remontam às coroações de reis e rainhas do Congo. A composição do cenário traz como referência uma carta de baralho, mais especificamente à Rainha de Ouros, possibilitando o encaixe e a interação proporcional entre duas personagens pertencentes à cultura do Maracatu, cada uma sendo retratada por uma das artistas: a Rainha, interpretada por Nathê, e a Calunga, retratada por Fany.  

Durante o cortejo, essas duas figuras importantes se destacam. A Rainha, vestida nas cores rosa e vermelho, simboliza a orixá Iansã e representa a liderança feminina hierárquica e material. Já a Calunga, em tons de azul, representa a orixá Yemanjá e assume a forma de uma boneca negra esculpida em madeira. A Calunga desempenha um papel fundamental no maracatu, sendo considerada uma divindade e a principal representação do vínculo espiritual, trazendo consigo segredos e fundamentos mágicos ancestrais que enriquecem essa manifestação cultural.

“O megamural das artistas Nathê e Fany é um verdadeiro presente para a cidade do Recife, enriquecendo a paisagem urbana com sua beleza e ao mesmo tempo exaltando e valorizando a cultura afrodescente através de personagens importantes no Maracatu Nação. Através do Edital de Credenciamento para Realização de Intervenções Artísticas em Empenas Cegas, a Prefeitura do Recife demonstra seu compromisso com o apoio e o incentivo à arte urbana, reconhecendo o seu poder transformador. E vem mais mega murais por aí!”, conta Flaviana Gomes, secretária executiva de Inovação Urbana do Recife.

EDITAL MEGAMURAIS – Ao todo foram classificados 24 projetos que retratam através da arte o tema “Recife Cidade da Música”, onde dois deles estão em andamento. A contratação para execução dos megamurais depende da disponibilidade de realização e capacidade técnica do proponente conforme exigência do edital, bem como à disponibilidade orçamentária durante o tempo da vigência. O valor pago pelos serviços prestados é de R$ 75 mil, correspondente ao tamanho padrão da empena de 200 (duzentos) a 400 (quatrocentos) metros quadrados – ficando sob a responsabilidade do proponente credenciado a totalidade dos custos referentes ao planejamento e a execução  das intervenções artísticas em empenas cegas (fachadas sem aberturas) de edifícios de visibilidade pública no Recife.

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