Findava-se a tarde do domingo de páscoa, 31 de março de 2024, quando micro-ônibus desceu a ladeira descontrolado e atropelou 34 pessoas das quais 5 faleceram logo após. Os fiéis quando foram alcançados pela tragédia participavam da procissão de ramos rememorando desfile de jesus seguido por multidão, montado num jumento, apregoando seu reino, que não era deste mundo, num desafio nada simpático aos poderosos de Roma nem aos seus cortejadores.
As vítimas do sinistro foram tantas que entulharam a estrada impedindo a continuidade do veículo desgovernado. O motorista evadiu-se, apresentando-se em seguida na delegacia de polícia onde foi ouvido em sigilo. Tratava-se de um idoso e o transporte coletivo era conduzido sem passageiro. Mortos e feridos foram só os religiosos em sua demonstração de fé no leito da rua. De tanto ouvir notícias sobre terror pensou-se de início que o acidente fosse terrorismo o que aumentou a angústia e o pânico dos acidentados.
A data do ocorrido coincidiu com o aniversário de 60 anos do episódio histórico que os direitistas denominaram de “Revolução redentora” e os esquerdistas chamaram de Golpe militar. O termo golpe traz conotação pejorativa muito em voga para denominar os crimes praticados dia 08/01/2024 pela multidão que invadiu desrespeitosa os edifícios que sediam os 3 poderes da República Brasileira, em Brasília.
Golpe pode significar ainda falcatrua, enganação, estelionato, fatos cuja autoria não enaltece ninguém. No dia seguinte, após sepultadas as vítimas, comunidades fizeram um protesto clamando por justiça, como se esta estivesse omissa ou tarda no cumprimento do dever. Usou-se, então, um velho chavão dos agitadores de massa: “O povo unido jamais será vencido”, anacronismo que não vem dando certo nas eleições.
A união popular tem elegido todos os presidentes da República, governadores, prefeitos e parlamentares, mas os famintos, os desempregados, os analfabetos, os que dormem nas calçadas e vivem ao relento, continuam existindo. O povo unido está vencido em todas as batalhas porque é enganado. Durante o protesto por justiça foram exibidas tabuletas cobrando a prisão dos generais. Que generais? Os de 1964 morreram quase todos ou passam dos 100 anos, porque nenhum deles tinha a época do levante menos de 40 anos.
Havia algum centenário ou fantasma deles dirigindo o ônibus? Ao que conste havia apenas o motorista, um civil, no interior do veículo. Com todo o respeito aos mortos, feridos e familiares, não faltem com verdade. Não bajulo generais, mas asseguro que eles não cabem nesse protesto e estão sendo
injustiçados.
Deixem-nos em paz no seu direito ao esquecimento. Justiça não se faz só de condenação, de prisão, de fuzilamento, de lembranças amargas desarrazoadas. Faz-se sobretudo na absolvição dos inocentes. No caso do motorista, a depender da prova dos autos ainda inconclusa, ele tanto pode ser condenado quanto inocentado. O que não pode é ser lixado.
José de Siqueira Silva é Coronel da reserva da PMPE
Mestre em Direito pela UFPE e Professor de Direito Penal
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03/04/2024 às 22:35