Foto: Sergio Moraes/Reuters
Torcida desportiva não é exército, deve andar desarmada física e espiritualmente, sem ânimo de agredir ao próximo. Campo de futebol não é território de batalha, nem praça de guerra. Ir assistir ao jogo não é ir ao abatedouro onde se vai para o sacrifício próprio ou de outro. Estado desportivo não é rinha de galo, que por razões humanitárias é proibida.
O ser humano não pode ser adestrado para matar ou morrer sem razão, desportivamente como se a vida fosse banal. O jogo das seleções argentina e brasileira de futebol, dia 21 de novembro de 2023, no Maracanã, tinha tudo para ser um divertimento saudável e imperdível para os amantes da atividade futebolística. Duas das melhores e mais categorizadas equipes do mundo credenciadas pelos títulos e troféus de campeonatos mundiais que conquistaram.
Durante a solenidade prévia e protocolar de evento desportivo desse nível, a banda de música executou, em sinal de respeito e cidadania, os hinos nacionais da seleção argentina e brasileira. Foi quando um equivoco imperdoável entrou em cena, torcedores incivilizados brasileiros, poucos mas agressivos, ignorantes sobre o respeito devido ao hino nacional de um país, tentaram ridicularizar os argentinos quando entoavam o canto solene desse símbolo da sua nacionalidade. O desagrado dos circunstantes argentinos foi natural, não apenas em defesa dos compatriotas, mas por questão de brios já que sentiam a ofensa ao seu patriotismo.
Iniciou-se uma pancadaria generalizada, não se sabe por quem, que atraiu mais pancadas para terminar, as pauladas ministradas pelo Estado. Concorreu para o tumulto a ausência de distribuição prévia e racional do público com separação dos torcedores habituados em sua minoria à baderna, às agressões e violências recíprocas, pondo em risco a integridade física e a vida das pessoas.
Situação caótica, angustiante. Choro de mulheres amparando crianças, preocupação de pais com os filhos, gente querendo afastar-se sem conseguir. Tiros, pauladas, garrafadas podiam acontecer. Era o pânico. A seleção brasileira pagou o pato, perdeu de 1×0. Os argentinos tornaram questão de
honra vencer. A seleção toda no ataque, foi quando um jogador de pequena estatura, subiu
quase cinco metros, mais do que todos os outros, nas asas do amor próprio, e cabeceou a bola
para o fundo das redes. Era o gol da vitória. Subiu novamente para o abraço.
Como evitar esse tipo de conflito? Educação doméstica, escolar e cívica. Religiosidade, combate à ociosidade, campanhas publicitárias de esclarecimento. A curto prazo tolerância zero não faz mal.
José de Siqueira Silva é Coronel da reserva da PMPE
Mestre em Direito pela UFPE e Professor de Direito Penal
Contato: jsiqueirajr@yahoo.com.br
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24/11/2023 às 07:04
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