Tão importante quanto apontar as consequências do racismo na construção de uma sociedade plural e igualitária é estimular iniciativas, e despertar potenciais individuais e coletivos, por meio de exemplos de quem venceu as adversidades. E foi a partir desse pensamento que a Prefeitura do Jaboatão dos Guararapes, por meio da Secretaria Municipal de Saúde e do Caps-AD Recanto dos Guararapes, abriu as portas, nesta quarta-feira (24), para discutir, no formato de roda de diálogo, temas ligados ao Mês da Consciência Negra.
À frente do debate, o coletivo pernambucano Futuro Black, encabeçado pela consultora em diversidade racial Dayse Rodrigues e pelo jornalista e pesquisador Thiago Augustto, que, entre outras frentes, oferece cursos de qualificação para jovens negros e atua junto a empresas de forma a buscar, por meio da implementação de políticas de equidade racial, a inserção do público-alvo no mercado de trabalho. A mediação do encontro foi conduzida pela coordenadora de Saúde Mental do Jaboatão dos Guararapes, Paula Pereira.
Durante sua fala, Thiago levantou dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que apontam que 56% da população brasileira é composta por pessoas negras, mas que, ainda assim, essa parcela continua sendo vista como minoria, segundo ele, por ocupar “espaços mais subalternos da sociedade”. “É por isso que é de extrema importância estar nesses espaços, falando sobre o racismo estrutural e buscando conscientizar a população sobre o tema. Entender que o racismo não só tem a ver com a intencionalidade é o ponto de partida para avançarmos. O racismo está enraizado na sociedade e se reproduz, sobretudo, no silêncio, no viés do inconsciente e na falta de ação”, observou.
A quebra de barreiras por quem “furou a bolha do sistema”, aponta Dayse, acaba sendo um argumento de destaque na hora de estimular o sentimento de protagonismo na juventude negra e, principalmente, na fatia periférica. “Participar da ação foi muito gratificante, por entrar em contato com tantas histórias e pessoas cheias de potencial, que tantas vezes são reduzidas a um ato que aconteceu em sua vida. E a maioria desse público são pessoas negras, que têm sua vida atravessada pelas consequências do racismo estrutural e acabam acreditando em um sistema que diz que sua vida vale menos. Mostrar que eles são potência, que são pessoas cheias de habilidade e com total capacidade de mudar seus caminhos e linha de chegada foi o foco da conversa de hoje”, explicou.
Representante da Prefeitura do Jaboatão na iniciativa, a psicóloga Paula Pereira lembrou que o acesso ao conhecimento sobre o tema é um dos caminhos para combater os danos causados pelo racismo à sociedade. “O objetivo dessa atividade é motivar e empoderar os usuários, mostrando os avanços da luta do povo negro e proporcionar, por meio dos relatos aqui contados e das experiências pessoais, a instigação necessária para que as pessoas aqui presentes busquem novas possibilidades de vida”, pontuou.
Ao final do encontro, Thiago Augustto reforçou que “antirracismo não é um título, é uma prática diária”.