Crédito, Getty Images

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A síndrome foi notificada pela primeira vez por diplomatas na embaixada dos EUA em Cuba em 2016

  • Author, James FitzGerald
  • Role, BBC News

Uma unidade de inteligência russa pode estar por trás da doença misteriosa que afetou diplomatas e agentes americanos nos últimos anos, a chamada “Síndrome de Havana“.

É o que indica uma investigação conjunta realizada pelo site investigativo independente The Insider, a revista alemã Der Spiegel e o programa 60 Minutes, da rede americana CBS.

Desde 2016, funcionários dos EUA baseados em diferentes partes do mundo relataram sintomas inexplicáveis, como tonturas, dores de cabeça e zumbido. E, de acordo com a nova investigação dos meios de comunicação, eles podem ter sido alvo de armas sônicas da Rússia.

Moscou nega as acusações. E autoridades dos EUA haviam dito anteriormente que era improvável que a culpa fosse de uma potência estrangeira.

Mas em sua análise sobre os “incidentes de saúde anômalos” — apresentada no ano passado —, não ofereceram qualquer explicação alternativa, frustrando aqueles que foram afetados.

Reconheceram ainda que havia níveis variados de confiança na avaliação entre as diferentes agências de inteligência envolvidas.

O nome do fenômeno remete à capital de Cuba, Havana — onde o primeiro caso foi detectado em 2016 —, embora a nova denúncia sugira que os primeiros casos podem ter acontecido dois anos antes, na Alemanha.

Os americanos afetados pela doença — incluindo funcionários da Casa Branca, da CIA, a agência de inteligência, e do FBI, a polícia federal americana — se queixaram de tonturas, dores de cabeça, dificuldade de concentração e um zumbido intenso e doloroso nos ouvidos.

Mais de 1.000 casos da doença misteriosa foram notificados — e dezenas de casos ainda são considerados oficialmente inexplicáveis.

Os legisladores dos EUA aprovaram uma lei destinada a apoiar as vítimas — e as pessoas com confirmação de lesão cerebral em decorrência da doença são elegíveis a receber indenização.

A nova investigação dos meios de comunicação alega que agentes de uma unidade de inteligência militar russa — conhecida como 29155 — podem ter atingido os cérebros de diplomatas americanos com armas de “energia dirigida”.

A denúncia diz que há evidências que colocam membros da unidade em cidades ao redor do mundo nas épocas em que funcionários dos EUA relataram incidentes.

Como parte da investigação, o site The Insider — focado na Rússia — também informou que os oficiais da unidade 29155 haviam sido recompensados por seu trabalho relacionado com o desenvolvimento de “armas acústicas não letais”.

O investigador militar americano Greg Edgreen, que analisou casos da síndrome, disse ao programa 60 Minutes que o elo comum entre as vítimas era uma “ligação com a Rússia”.

“Havia uma óptica em que eles haviam trabalhado contra a Rússia, focado na Rússia e se saído extremamente bem.”

Ele também afirmou que o padrão oficial de evidências estabelecido pelos EUA para mostrar o envolvimento russo foi colocado num patamar muito alto, já que seu país não queria “enfrentar algumas verdades muito duras”.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, negou que houvesse qualquer evidência de envolvimento russo — e disse que as acusações contidas na reportagem eram infundadas.

Uma agente do FBI vítima da síndrome contou ao programa 60 Minutes sobre sua experiência ao ser atingida por uma força poderosa em sua casa na Flórida, em 2021.

“Dentro da minha orelha direita era como se houvesse um dentista perfurando um asteroide”, disse ela. “Aquela sensação de quando [algo] chega muito perto do tímpano? É assim, multiplicado por 10.”

A agente, conhecida como Carrie, afirmou que acabou desmaiando — e, mais tarde, teve problemas de memória e concentração.

Em resposta à reportagem, as autoridades americanas disseram à rede CBS News, parceira americana da BBC, que iriam “continuar a examinar de perto os incidentes de saúde anômalos”, mas repetiram sua posição de que era “muito improvável que um adversário estrangeiro seja o responsável”.

Acrescentaram, no entanto, que “não colocavam em dúvida as experiências e sintomas bastante reais que os nossos colegas e familiares relataram”, afirmando que seu trabalho em relação a tais incidentes era uma prioridade.