- Author, Paul Kirby
- Role, BBC News
- Twitter, @paulkirbyuk
“Cada membro do Hamas é um homem morto”, disse o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu depois de combatentes do grupo militante matarem 1.300 pessoas num ataque brutal a Israel no último sábado (7/10).
O objetivo da Operação Espadas de Ferro parece muito mais ambicioso do que qualquer coisa que os militares tenham planejado anteriormente em Gaza.
Mas será esta uma missão militar realista e como os seus comandantes poderão cumpri-la?
Os ataques aéreos já custaram centenas de vidas e mais de 420 mil pessoas fugiram das suas casas.
Herzi Halevi, chefe do Estado-Maior das Forças de Defesa de Israel (IDF), prometeu “desmantelar” o Hamas e destacou o seu chefe político em Gaza.
Mas existe uma visão definitiva de como será Gaza após 16 anos de governo violento do Hamas?
“Não creio que Israel possa desmantelar todos os membros do Hamas, porque é uma ideia do Islã extremista”, afirma o analista militar Amir Bar Shalom, da Rádio do Exército de Israel.
“Mas você pode enfraquecê-lo o máximo que puder para que não tenha capacidade operacional.”
Esse pode ser um objetivo mais realista. Israel travou quatro guerras com o Hamas e todas as tentativas para interromper os ataques do grupo extremista com foguetes falharam.
O porta-voz, tenente-coronel Jonathan Conricus, disse que até o final desta guerra o Hamas não deveria mais ter capacidade militar para “ameaçar ou matar civis israelenses”.
Invasão terrestre repleta de riscos
A operação militar está à mercê de diversos fatores que podem inviabilizá-la.
O braço armado do Hamas, as Brigadas Izzedine al-Qassam, está certamente preparado para uma ofensiva israelense.
Dispositivos explosivos devem ter sido montados e emboscadas, planejadas.
Além disso, podem usar a sua notória e extensa rede de túneis para atacar as forças de Israel.
Em 2014, os batalhões de infantaria israelense sofreram pesadas perdas devido a minas antitanque, franco-atiradores e emboscadas, enquanto centenas de civis morreram em combates num bairro ao norte da Cidade de Gaza.
Essa é uma das razões pelas quais Israel exigiu a evacuação de 1,1 milhão de palestinos da metade norte da Faixa de Gaza.
A questão é quanto tempo Israel poderá continuar a sua campanha sem pressão internacional para recuar.
Gaza está se tornando rapidamente num “buraco do inferno”, alertou a agência da ONU para os refugiados.
O número de mortos está aumentando rapidamente; o abastecimento de água, energia e combustível foi cortado, e agora metade da população está sendo orientada a fugir de grandes áreas.
“O governo e os militares sentem que têm o apoio da comunidade internacional — pelo menos dos líderes ocidentais. A filosofia é ‘vamos mobilizar, temos muito tempo'”, diz Yossi Melman, um dos principais jornalistas de segurança e inteligência de Israel.
Mas mais cedo ou mais tarde ele acredita que os aliados de Israel intercederão se virem imagens de pessoas passando fome.
Salvando os reféns
Muitos dos reféns são israelenses, mas também há um grande número de cidadãos estrangeiros e com dupla nacionalidade entre eles.
Vários outros governos, incluindo os EUA, a França e o Reino Unido, têm interesse nesta operação e na sua libertação segura.
O presidente da França, Emmanuel Macron, prometeu às famílias franco-israelenses que levariam os seus entes queridos para casa: “A França nunca abandonará os seus filhos”.
Não está claro até que ponto o destino dos reféns influenciará os planejadores militares, e há também pressão interna sobre os líderes de Israel.
Amir Bar Shalom compara a situação aos Jogos Olímpicos de Munique de 1972, quando um homem armado palestino capturou atletas israelenses e matou 11 pessoas.
Foi lançada uma operação para encontrar e matar todos os envolvidos no ataque, e ele acredita que o governo vai querer caçar todos os responsáveis pelos sequestros.
Resgatar tantas pessoas detidas em diferentes áreas de Gaza pode se revelar algo que está além do alcance dos comandos da unidade de elite de Israel, Sayeret Matkal.
O Hamas já ameaçou atirar em reféns como forma de dissuasão do ataque israelense.
Em 2011, Israel trocou mais de 1.000 prisioneiros pela libertação de um soldado, Gilad Shalit, detido pelo Hamas durante cinco anos.
Mas Israel pensará duas vezes antes de outra grande libertação de prisioneiros, porque um dos homens libertados nessa troca foi Yahya Sinwar, que desde então se tornou o líder político do Hamas em Gaza.
O que também poderá afetar a duração e o resultado de uma ofensiva terrestre é a forma como os vizinhos de Israel reagem.
O país poderá enfrentar exigências crescentes do Egito, que faz fronteira com Gaza e já está pressionando para que a ajuda seja permitida através da passagem em Rafah.
“Quanto mais os habitantes de Gaza sofrerem após a campanha militar israelense, mais pressão o Egito enfrentará, para parecer que não virou as costas aos palestinos”, diz Ofir Winter, do Instituto de Estudos de Segurança Nacional de Israel.
Mas isso não se estenderá ao Cairo, permitindo uma passagem em massa de habitantes de Gaza para o Egito ou agindo militarmente contra Israel em seu nome, acredita ele.
A fronteira norte de Israel com o Líbano também está sob escrutínio minucioso.
Até agora, ocorreram vários ataques transfronteiriços envolvendo o grupo militante islâmico Hezbollah, mas que não representaram uma nova frente contra Israel.
O Irã, principal patrocinador do Hezbollah, já ameaça lançar “novas frentes” contra Israel. Eles foram o foco do alerta do presidente dos EUA, Joe Biden, esta semana, quando ele disse: “A qualquer país, qualquer organização, qualquer pessoa que pense em tirar vantagem desta situação, tenho uma palavra: não o faça!”
Um porta-aviões dos EUA foi enviado à parte oriental do Mediterrâneo para enfatizar essa mensagem.
Qual é o objetivo final de Israel para Gaza?
Se o Hamas terminar esta guerra enfraquecido, a questão é quem o substituirá.
Israel retirou o seu Exército e milhares de colonos da Faixa de Gaza em 2005 e não terá qualquer intenção de regressar como força de ocupação.
Ofir Winter acredita que uma mudança de poder poderia potencialmente abrir caminho ao regresso gradual da Autoridade Palestina (AP), expulsa de Gaza pelo Hamas em 2007. A AP, que não é um grupo que tem reconhecimento internacional, controla atualmente partes da Cisjordânia.
O Egito também acolheria bem um vizinho mais pragmático, argumenta.
As infraestruturas devastadas de Gaza terão, em última análise, de ser reconstruídas da forma como foram depois das guerras anteriores.
Mesmo antes das atrocidades do Hamas em Israel, havia restrições rigorosas à entrada de “bens de dupla utilização” em Gaza, que poderiam ter um papel militar e civil.
Israel deve impor restrições ainda mais pesadas.
Tem havido apelos para uma ampla zona tampão ao longo da cerca com Gaza para proporcionar maior proteção às comunidades israelenses.
Ex-chefe do serviço de segurança Shin Bet, Yoram Cohen, acredita que será necessária uma zona de “atirar à vista” de 2 km para substituir a zona existente.
Qualquer que seja o resultado da guerra, Israel vai querer garantir que um ataque semelhante nunca mais aconteça.
Fonte: BBC
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