- Author, Zoe Kleinman
- Role, Editora de tecnologia da BBC
- Twitter, @zsk
O mundo da tecnologia está em choque.
Nesta sexta-feira (17/11), Sam Altman — uma das mentes mais brilhantes da emergente indústria da Inteligência Artificial, um homem que para muitos se tornou o porta-voz da AI — foi demitido sem cerimônia da empresa que cofundou.
A AI está em nossas vidas há muito tempo — organizando nossos feeds de redes sociais, recomendando filmes em plataformas de streaming de vídeo, ajudando no cálculo de nossos prêmios de seguro.
Mas foi a partir do lançamento do ChatGPT por Altman que a maioria das pessoas passou a falar sobre AI.
A Inteligência Artificial é uma tecnologia incrivelmente poderosa e divide opiniões: alguns dizem que ela poderia salvar o mundo ou destruí-lo.
Sua demissão da OpenAI, empresa por trás do bot ChatGPT, foi tão repentina quanto dramática. É justo dizer que meu telefone explodiu quando a notícia foi divulgada, enquanto a comunidade de tecnologia e os jornalistas se esforçavam para entender o que estava acontecendo.
Num comunicado, o Conselho de Administração da empresa disse acreditar que Altman não tinha sido “consistentemente sincero nas comunicações” com eles e, como resultado, tinha “perdido a confiança” na sua liderança.
Nas entrelinhas, pode-se supor que havia algo que Altman lhes contou ou não — e de alguma forma ele foi pego de surpresa por isso. O texto do comunicado é tão poderoso que quase parece pessoal.
Existem rumores, mas, até agora, nada mais veio à tona.
Não é incomum nas empresas de tecnologia que uma cultura de trabalho tóxica leve à queda do CEO — mas até agora nenhum caso do gênero apareceu envolvendo a OpenAI.
Em outubro, a empresa estava avaliada em US$ 80 bilhões (cerca de R$ 400 bilhões) — ou seja, não parece ter havido nenhum problema financeiro.
Será que o problema é com a própria tecnologia? Há alguns dias, Altman escreveu sobre o ChatGPT tendo dificuldades para atender a um “aumento na demanda’, o que fez com que as inscrições para seu serviço de assinatura paga fossem pausadas.
Mas isso é suficiente para uma demissão?
Seu cofundador, Greg Brockman, que foi demitido do conselho poucos minutos depois de Altman, disse que os dois homens ficaram chocados com a rapidez com que tudo aconteceu.
Havia apenas seis pessoas nesse conselho, incluindo Brockman e Altman. Se eles foram realmente pegos de surpresa, isso significa que essa decisão foi tomada por apenas quatro membros. O que aconteceu para que este pequeno grupo agisse de forma tão decisiva e rápida?
Altman, agora ex-CEO da OpenAI, dirigiu-se a líderes mundiais em discussões sobre os riscos e benefícios representados pela poderosa tecnologia em que foi pioneiro.
Ele disse, de forma memorável, que a AI era “uma ferramenta e não uma criatura” e parecia honesto sobre seus temores de que um dia ela pudesse sair de controle.
Há apenas duas semanas, Altman esteve no Reino Unido, na primeira cúpula mundial de segurança de AI, como um dos cerca de 100 delegados globais. Ele fez um discurso na semana passada sobre o futuro de sua empresa e sua tecnologia.
Como repórter de tecnologia, considero seguro presumir que ele realmente não tinha ideia do que estava por vir.
Até agora, os grandes nomes do Vale do Silício ofereceram apoio a Altman, incluindo o cofundador do Google, Eric Schmidt, que o descreveu como “meu herói”.
O CEO da Microsoft, Satya Nadella, disse ter “confiança” na empresa. Não surpreende, uma vez que a Microsoft investiu bilhões na OpenAI, e a tecnologia por trás do ChatGPT agora está incorporada nos aplicativos de escritório da Microsoft.
Um personagem que tem estado estranhamente quieto até agora é Elon Musk.
Ele e Altman criaram a OpenAI juntos, em parceria com outras pessoas, mas teriam se desentendido sobre a decisão dela deixar de ser uma organização sem fins lucrativos.
Há rumores de que é exatamente essa questão que mais uma vez dividiu opiniões dentro da empresa.
O X (anteriormente conhecido como Twitter) de Musk, por sua vez, lançou um novo chatbot chamado Grok. Talvez Musk não esteja chateado com o fato de a OpenAI estar um pouco distraída por um drama que não é de hoje.
Enquanto isso, cabe à diretora de tecnologia da ChatGPT, Mira Murati, assumir interinamente o cargo de CEO.
O mundo da tecnologia é pequeno — coincidentemente, ela já trabalhou na Tesla, empresa automobilística de Musk.
A grande pergunta é: Murat poderá conter tamanha instabilidade?
Fonte: BBC
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