• Fernando Duarte
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A morte da rainha Elizabeth 2ª e a ascensão do rei Charles 3º ao trono deixaram em evidência a natureza extremamente cerimonial da família real. Mas algumas dessas tradições e costumes podem surpreender até mesmo aqueles que se consideram conhecedores da monarquia.

A seguir, confira alguns dos exemplos mais inusitados.

Abelhas recebem a notícia

Apesar da grande cobertura na imprensa — e nas redes sociais — da morte da rainha, um grupo de indivíduos teve que ser “informado pessoalmente” sobre o falecimento da soberana: suas abelhas.

John Chapple é o apicultor real há 15 anos. Ele manteve uma tradição secular de dar a triste notícia às colmeias que ficam nos terrenos do Palácio de Buckingham e da Clarence House (residência oficial de Charles como príncipe de Gales).

Em entrevista ao jornal britânico Daily Mail, Chapple explicou que também pediu às abelhas que fossem boas com o novo rei. O ritual faz parte de uma superstição de que as abelhas podem parar de produzir mel se não forem informadas sobre uma mudança de dono.

“A pessoa que morreu é o mestre ou senhora das colmeias — alguém importante na família. E não há ninguém mais importante do que a rainha, não é?”, disse o apicultor.”

“Você bate em cada colmeia e diz: ‘A senhora está morta, mas não vá embora. Seu mestre será bom com você.'”

O rei também vai ter dois aniversários?

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Resta saber se o rei Charles 3º vai manter a tradição dos ‘dois aniversários’

Entre as muitas decisões que o rei Charles 3º vai tomar em relação à pompa, uma é bastante pessoal: suas comemorações de aniversário.

A rainha Elizabeth 2ª tinha dois aniversários: nascida em 21 de abril, a falecida soberana celebrava oficialmente no segundo sábado de junho, com um desfile conhecido como Trooping the Colour.

Por quê? Abril geralmente é um mês frio no Reino Unido para eventos ao ar livre, enquanto o verão começa em junho.

A tradição, no entanto, é muito mais antiga. Começou com George 2º em 1748. Foi ele quem decidiu associar as comemorações de aniversário ao desfile cerimonial já existente.

Será que Charles 3º vai manter a tradição? Ainda não sabemos, mas vale lembrar que o novo rei nasceu em novembro — um mês pouco conhecido pelo Sol e clima quente no Reino Unido.

“Minha aposta é que o novo rei vai manter as coisas como estão, já que ele nasceu em um mês de outono, e o Trooping the Color é um espetáculo popular”, diz à BBC o historiador real Richard Fitzwilliams.

Ele lembra, no entanto, que outra tradição britânica é a imprevisibilidade do clima, usando como exemplo a coroação da rainha Elizabeth 2ª, em junho de 1953.

“O tempo estava horrível no dia”, diz ele. “Rainhas e reis não podem controlar o clima.”

Força humana, em vez de cavalos

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Os marinheiros da Marinha Real intervieram para salvar o funeral da rainha Vitória

Desde 1901, os funerais reais no Reino Unido são marcados pela imagem de marinheiros da Marinha Real usando cordas para puxar o caixão do soberano, convenientemente colocado em uma carruagem de armas.

Esta escolha de usar a força humana em detrimento da potência dos cavalos pode parecer confusa, mas é uma tradição que começou em 1901 durante o funeral da rainha Vitória. Naquela ocasião, ainda era comum os cavalos puxarem a carruagem com o caixão do soberano.

Mas a procissão teve um momento aterrorizante quando os animais ficaram descontrolados.

“Os cavalos não reagiram muito bem a um dia extremamente frio, e acabou que o caixão da rainha Vitória quase caiu”, conta a historiadora real Kelly Swab à BBC.

Por ordem do rei Edward 7º, herdeiro de Vitória e novo monarca, os marinheiros que participavam do cortejo fúnebre entraram em cena.

“Havia dignitários de todo o mundo, e a coisa toda poderia ter sido um grande constrangimento.”

“Em vez disso, uma tradição real nasceu do puro caos”, acrescenta Swab.

Durante o funeral do rei George 6º, em 1952 — última vez que uma cerimônia soberana deste tipo ocorreu —, 138 homens estavam encarregados da função.

A tradição de quebrar o bastão

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Andrew Parker, ex-chefe do MI5, vai quebrar seu bastão sobre o túmulo da rainha Elizabeth 2ª

Entre toda pompa e circunstância esperada nas cerimônias reais, há uma que poucas pessoas devem ter ouvido falar.

A tradição prevê uma tarefa para o Lord Chamberlain, título concedido ao mais alto oficial da Casa Real e cujos deveres cerimoniais incluem acompanhar o soberano à visita parlamentar anual.

Ele deve quebrar seu bastão branco cerimonial sobre o túmulo do monarca falecido para marcar o fim de seu serviço a ele.

O atual Lord Chamberlain é Andrew Parker, ex-chefe do MI5, uma das agências de inteligência britânicas. Ele assumiu o cargo em abril de 2021.

O gesto cerimonial remonta há séculos.

Foi realizado pela última vez há mais de 70 anos, quando o conde de Clarendon quebrou seu bastão sobre o túmulo de George 6º, pai da falecida rainha.

E, de acordo com Richard Fitzwilliams, costumes como este dão à monarquia do Reino Unido um charme próprio.

“É por causa de tradições como esta que a família real britânica é verdadeiramente única.”