Morreu Marília Mendonça, numa tarde clara e cheia de luz como lhe convinha ao desencarne. Havia o frio das alturas e das águas correntes da Serra de Caratinga, Minas Gerais. Talvez ela haja sentido o temor da incerteza da queda veloz e estrondosa do avião que a conduziu das alegrias e das esperanças costumeiras de sucesso à iminência da morte.
Faria um show para alegria dos fãs naquele dia, e gostava disso. Sentia-se feliz com a felicidade dos que a assistiam. A tragédia que não fora prevista e nem convidada abateu-se no caminho aéreo a que estava acostumada. Frequentava as alturas nas asas da poesia, embalava-se transportando-se por sobre as nuvens da fantasia e voltava plenificada de felicidade. Dessa vez não voltou.
Gênia precoce, aos 12 anos de idade iniciou-se como compositora, exprimindo em canções sublimes e românticas dores de paixões e amores alheios, também afetos, carências e felicidades. Referiu a dias alegres, encontros calorosos, lembranças amargas de separações como a de agora, em que ela parte e nós ficamos, seus familiares, fãs e amigos, com uma saudade que não tem cura.
“Talvez ela haja sentido o temor da incerteza da queda veloz e estrondosa do avião que a conduziu das alegrias e das esperanças costumeiras de sucesso”
Marília foi uma pessoa linda e corajosa, desafiou e venceu contrastes, entre eles o da vida curta, vinte seis anos, para construir uma grande fama. Viveu pouco, era o seu destino, mas viveu apressada uma paixão intensa pela música pela expressão comunicativa e bela da sonoridade deliciosa transbordante na sua voz forte e sensual. Atraiu milhões de seguidores tornando-se campeã imbatível na mídia social.
Uns quilinhos a mais do que os exigidos pela tirania esteticista da beleza magra não a inibiram de subir aos palcos, exibir-se inteira, brilhar, apaixonar a todos, esbanjando sensibilidade feminina, conservando-se a criança expansiva, brincalhona e inteligente que a todos encantava. Comunicava-se com as multidões sem esconder quem era, como era, e colhia o retorno da admiração pela simplicidade com que se expunha cativando aos que a contemplavam com os olhos do corpo e a percepção da alma.
Escrevia letras musicais poetando sobre temas atemporais como as emanações por vezes sofridas e desencontradas, por vezes harmoniosas e sintonizadas, que fazem feliz ou infeliz a humanidade. Grande Marília Mendonça, fulguraste rápida como estrela cadente, iluminando o espaço do teu breve trajeto. Agora ficas adormecida, quem sabe no aguardo de novas chances de brilhar em nova vida. Vai em paz, oramos por ti.
José de Siqueira Silva é Coronel da reserva da PMPE
Mestre em Direito pela UFPE e Professor de Direito Penal
da FOCCA
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06/11/2021 às 11:54