Crédito, AFP

Legenda da foto,

Iwao Hakamada, fotografado com sua irmã Hideko em 2019, foi solto em 2014

  • Author, Shaimaa Khalil e Simon Fraser
  • Role, Da BBC News

Um japonês que esteve no corredor da morte por quase meio século terá um novo julgamento.

Iwao Hakamada, agora com 87 anos, é o condenado à morte mais antigo do mundo, de acordo com a Anistia Internacional. Ele foi sentenciado em 1968 por assassinar seu chefe, a esposa dele e seus dois filhos em 1966.

O ex-boxeador profissional confessou o crime após 20 dias de interrogatório durante o qual disse ter sido espancado. Posteriormente, ele recuou na confissão.

Grupos de direitos humanos criticam o sistema judicial do Japão. Segundo os críticos, o Japão depende demais de confissões — que, segundo eles, costumam ser obtidas à força pela polícia.

No novo julgamento, os juízes decidirão se o DNA das manchas de sangue encontradas nas roupas supostamente usadas pelo assassino corresponde ao de Hakamada.

Seus advogados dizem que as evidências foram forjadas.

Iwao Hakamada foi preso e acusado de roubar e matar seu empregador e sua família em uma fábrica de processamento de missô em Shizuoka, cidade a oeste de Tóquio, em 1966. Eles foram encontrados mortos a facadas após um incêndio.

Em 2014, Hakamada foi solto e teve direito a um novo julgamento por um tribunal distrital, que concluiu que os investigadores poderiam ter plantado evidências. A decisão foi então anulada pelo tribunal superior de Tóquio.

Mas, após um recurso, os juízes da Suprema Corte instruíram o tribunal superior a reconsiderar, levando à decisão de realização de um novo julgamento.

Crédito, AFP

Legenda da foto,

Hideko Hakamada e o advogado de seu irmão

“Eu esperei por este dia por 57 anos e ele chegou”, disse a irmã de Hakamada, Hideko, de 90 anos, que passou anos fazendo campanha em nome de seu irmão.

“Finalmente um peso foi tirado dos meus ombros.”

A família de Iwao Hakamada diz que sua saúde mental se deteriorou depois de décadas na prisão.

O Japão e os EUA são as únicas grandes democracias entre os países desenvolvidos que ainda usam a pena de morte.

A Anistia elogiou a decisão de realizar um novo julgamento como uma “chance há muito esperada de se fazer justiça”.

“A condenação de Hakamada foi baseada em uma ‘confissão’ forçada e há sérias dúvidas sobre as outras evidências usadas contra ele”, disse o diretor do grupo no Japão, Hideaki Nakagawa.

O processo para um novo julgamento pode levar anos se houver novo recurso e os advogados têm protestado contra esse sistema.

Muitos advogados no Japão também elogiaram a decisão, mas pediram aos promotores que “iniciem rapidamente o processo de novo julgamento sem fazer um apelo especial à Suprema Corte”.

“Não podemos mais demorar para remediar o caso do senhor Hakamada, que está em idade avançada de 87 anos e sofre de problemas mentais e físicos após 47 anos de restrição física”, disse o chefe da Federação Japonesa de Associações de Advogados, Motoji Kobayashi.