- Author, Paul Kirby
- Role, BBC News
O primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, fez um aviso contundente de que a Europa entrou numa “era pré-guerra” e afirmou que se a Ucrânia for derrotada pela Rússia, ninguém na Europa poderá se sentir seguro.
“Não quero assustar ninguém, mas a guerra já não é um conceito do passado”, disse ele à imprensa europeia. “É real e começou há mais de dois anos.”
Sua declaração vem após um recente lançamento de mísseis russos que tinham como alvo a Ucrânia.
A Rússia intensificou os ataques à Ucrânia nas últimas semanas. A Força Aérea da Ucrânia disse ter abatido 58 drones e 26 mísseis e o primeiro-ministro Denys Shmyhal disse que a infraestrutura energética foi danificada em seis regiões no oeste, centro e leste do país.
Tusk, que foi presidente do Conselho Europeu, apontou que o presidente russo, Vladimir Putin, culpou a Ucrânia pelo ataque jihadista à casa de shows Crocus, em Moscou, sem qualquer prova e “evidentemente sente necessidade de justificar ataques cada vez mais violentos a alvos civis na Ucrânia”.
Ele afirmou que a Rússia atacou Kiev com mísseis hipersônicos à luz do dia pela primeira vez no início desta semana. E fez um apelo direto aos líderes europeus para que façam mais esforço para reforçar as suas defesas.
Independentemente de Joe Biden ou Donald Trump vencerem as eleições presidenciais dos EUA em novembro, ele argumentou que a Europa se tornaria um parceiro mais atraente para os EUA se ela se tornasse mais autossuficiente militarmente.
Não se trata de a Europa alcançar a autonomia militar em relação aos EUA ou de criar “estruturas paralelas à Otan”, disse ele.
A Polônia gasta agora 4% da sua produção econômica em defesa e Tusk defendeu que todos os outros países europeus deveriam gastar 2% do PIB nessa área.
Desde que a Rússia lançou a sua guerra em grande escala na Ucrânia, as relações com o Ocidente atingiram o seu ponto mais baixo desde os piores dias da Guerra Fria, embora Putin tenha dito nesta semana que Moscou “não tinha intenções agressivas” em relação aos países da Otan.
A ideia de que o seu país atacaria a Polônia, os Estados Bálticos e a República Tcheca era “total absurdo”, disse. No entanto, também alertou que se a Ucrânia utilizasse aviões de guerra F-16 ocidentais de aeródromos de outros países, eles se tornariam “alvos legítimos, onde quer que estivessem localizados”.
Não é o primeiro alerta
Este não é o primeiro aviso de Tusk sobre uma era pré-guerra. Ele transmitiu aos líderes europeus de centro-direita uma mensagem semelhante no início deste mês.
No entanto, ele revelou que o primeiro-ministro de Espanha, Pedro Sánchez, pediu aos colegas líderes da União Europeia que parassem de usar a palavra “guerra” nas suas declarações no encontro, porque as pessoas não queriam se sentir ameaçadas.
Tusk disse ter respondido que na sua parte da Europa a guerra já não era uma ideia abstrata.
Apelando à ajuda militar urgente à Ucrânia, afirmou que os próximos dois anos de guerra decidiriam tudo: “Vivemos o momento mais crítico desde o fim da 2ª Guerra Mundial”.
O mais preocupante agora, disse ele aos jornalistas de alguns dos maiores jornais europeus, era que “literalmente qualquer cenário é possível”.
Ele se lembrou de uma foto na parede da casa de sua família na Polônia, que mostrava pessoas rindo na praia de Sopot, perto de Gdansk, onde ele nasceu, na costa sul do Báltico.
A imagem era de 31 de agosto de 1939, disse ele, e algumas horas depois e a 5 km de distância, a Segunda Guerra Mundial começou.
“Sei que parece devastador, especialmente para as pessoas da geração mais jovem, mas temos de nos habituar mentalmente à chegada de uma nova era. A era pré-guerra”, alertou.
Apesar das suas observações assustadoras, Tusk mostrou-se mais otimista quanto ao que chamou de uma verdadeira revolução de mentalidade em toda a Europa.
Quando foi primeiro-ministro da Polônia pela primeira vez, de 2007 a 2014, disse que poucos outros líderes europeus, além da Polônia e dos Estados Bálticos, perceberam que a Rússia era uma ameaça potencial.
Tursk elogiou vários líderes europeus e destacou a importância da cooperação em segurança entre a Polônia, a França e a Alemanha – uma aliança conhecida como Triângulo de Weimar. E citou a Suécia e a Finlândia, outrora modelos de pacifismo e neutralidade, mas agora membros da Otan.
Fonte: BBC
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