- Author, Jonathan Amos e Erwan Rivault
- Role, Correspondente de Ciência da BBC e Designer de Dados
Existe agora menos gelo marinho ao redor da Antártida do que em qualquer outro momento desde que os cientistas começaram a usar satélites para medi-lo no final dos anos 1970.
O Hemisfério Sul está no verão, quando se espera menos gelo marinho na região, mas o observado em 2023 é excepcional, de acordo com o Centro Nacional de Dados sobre Neve e Gelo, dos Estados Unidos.
Ventos, ar e águas mais quentes reduziram a cobertura de gelo para apenas 1,91 milhão de quilômetros quadrados no dia 13 de fevereiro.
O derretimento ainda pode se alongar até o fim deste verão.
No ano passado, o mínimo recorde de 1,92 milhão de quilômetros quadrados só foi alcançado em 25 de fevereiro.
Três dos últimos recordes de gelo marinho abaixo da média ocorreram em sete anos mais recentes: 2017, 2022 e agora 2023.
Navios de pesquisa, cruzeiro e pesca relatam um quadro semelhante ao passarem pelo continente: a maioria dos setores está praticamente sem gelo.
Apenas o Mar de Weddell permanece dominado por plataformas congeladas.
Quão incomum é o novo recorde?
Os cientistas consideram o comportamento do gelo marinho da Antártida um fenômeno complicado, que não pode ser simplesmente atribuído às mudanças climáticas.
Ao analisar os últimos 40 anos de dados de satélite, a extensão do gelo marinho mostra uma grande variabilidade. Uma tendência de queda para quantidades cada vez menores de gelo de verão só é visível nos últimos anos.
Modelos de computador previram que o gelo marinho mostraria um declínio de longo prazo, muito parecido com o que vemos no Ártico, onde a extensão desse território vem diminuindo de 12 a 13% a cada década como resultado do aquecimento global.
Mas a Antártida não se comportou do mesmo modo.
Outras fontes de dados além dos satélites nos permitem olhar para o que aconteceu lá atrás, pelo menos até 1900.
Esses dados indicam que o gelo marinho da Antártida estava em declínio no início do século passado, mas depois começou a aumentar de novo.
Recentemente, esses fenômenos têm mostrado grande variabilidade, com recordes máximos mostrados pelos satélites no inverno e, mais recentemente, também recordes mínimos durante os meses de verão.
No inverno, os blocos podem cobrir mais de 18 milhões de quilômetros quadrados.
Quanto gelo é acumulado em um milhão de quilômetros quadrados?
Para se chegar à quantidade de gelo que faltou este ano, comparou-se a plataforma de gelo do verão atual com a média observado nas últimas décadas.
A perda, de 0,91 milhões de km² (quase 1 milhão), seria suficiente para cobrir as ilhas britânicas.
O gelo marinho começará a crescer novamente muito em breve — e é importante que isso aconteça, por uma série de razões.
O congelamento da água do mar na superfície do oceano expele o sal, o que torna as águas profundas mais densas, fazendo com que elas afundem ainda mais.
Isso faz parte do motor que impulsiona o movimento de massas de águas que ajudam todo o sistema climático do planeta.
O gelo marinho também é extremamente importante para a vida nos polos.
Na Antártida, as algas que se agarram ao gelo servem de alimento para os pequenos crustáceos conhecidos como krill que, por sua vez, são um recurso alimentar básico para baleias, focas, pinguins e outras aves.
O gelo do mar também é uma plataforma sobre a qual algumas espécies se locomovem e descansam.
Ar quente aumento o derretimento
É provável que o mínimo recorde de gelo marinho deste ano tenha sido influenciado pelas altas temperaturas do ar anormais a oeste e leste da Antártida.
Estes locais estão com uma temperatura 1,5 °C acima da média de longo prazo.
Há também algo chamado Oscilação Antártica, que é um fator importante na região.
O fenômeno engloba variações na pressão atmosférica que, por sua vez, influenciam os famosos ventos a oeste ao redor do continente.
Os cientistas apontam que esse movimento está numa fase fortemente positiva no momento atual.
Isso fortalece os ventos a oeste predominantes e os arrasta em direção aos pólos.
O aumento das tempestades, por sua vez, ajuda a quebrar os blocos de gelo e a empurrá-los para o norte, onde as águas mais quentes promovem o derretimento.
Os pesquisadores acreditam que as tendências mais positivas observadas na Oscilação Antártica provavelmente estão ligadas à presença de um buraco na camada de ozônio sobre o continente e ao aumento dos gases de efeito estufa na atmosfera.
Como isso se compara ao derretimento do gelo do Ártico?
É importante entender as diferenças entre os polos.
O Ártico é um oceano cercado por continentes. A Antártida é um continente cercado pelo oceano.
A divergência na geografia significa que o crescimento do gelo no inverno na Antártida é muito menos restrito. Ali, as plataformas geladas podem se desenvolver tão ao norte quanto as condições permitirem.
Isso explica as extensões de gelo muito maiores do que no Ártico, onde os recordes máximos raramente ultrapassam 15 milhões de quilômetros quadrados.
Mas esses fatores geográficos também significam que o calor do verão pode derreter o gelo marinho até a costa da Antártida em muitos lugares.
E, como a Antártida tem dificuldade em reter o gelo de ano para ano, os blocos são mais finos do que no Ártico — eles geralmente têm até um metro de espessura, ante 3 a 4 metros para o gelo no norte polar.
Com reportagem de Becky Dale e Jana Tauschinski
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