Crédito, NOAA

Legenda da foto, Imagem do olho do furacão Milton

  • Author, Ronald Ávila-Claudio
  • Role, BBC News Mundo

A única coisa 100% previsível sobre os furacões são suas constantes mudanças.

Esses fenômenos atmosféricos, que se formam com a energia das águas quentes e dos ventos, representam um desafio para os meteorologistas devido à sua instabilidade.

É necessário acompanhá-los minuto a minuto através de radares e satélites para prever seu comportamento — e, assim, preparar-se para os riscos.

E uma das mudanças que mais surpreende os especialistas é a chamada substituição da parede do olho do furacão.

Este evento, que normalmente ocorre em grandes furacões de categoria 3, 4 e 5, pode alterar os efeitos do fenômeno quando ele chega à terra firme.

Na segunda-feira (07), o furacão Milton atingiu a categoria 5, a mais preocupante.

Mais cedo na terça-feira (08/10), ele enfraqueceu, ao entrar no ciclo de substituição da parede do olho.

O Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos (NHC) informou que, com base em suas observações, o “Milton completou um reposição da parede do olho durante a noite”.

Após a substituição, Milton voltou a atingir a categoria 5 na tarde de terça-feira, com ventos chegando a 270 km/h.

Isto ocorreu enquanto ele se deslocava pelas águas quentes do Golfo do México em direção à península da Flórida, onde deverá chegar na noite de quarta-feira (09).

A parede do olho

A primeira coisa que você deve saber é que os furacões possuem uma estrutura dividida em três partes: o olho, a parede do olho e as faixas de precipitação.

Nessas faixas, ocorrem nuvens e fortes trovoadas que se movem em espiral, produzindo ventos e às vezes tornados.

Enquanto isso, o olho é uma área de relativa calma, um centro em torno do qual giram as faixas de precipitação.

E a parede é justamente a área mais próxima do olho.

“A parede do olho consiste em um anel de fortes tempestades que produzem chuvas fortes e normalmente ventos mais fortes também”, explica o NHC sobre esta parte do furacão.

Mudanças na estrutura do olho ou em sua parede podem tornar os ventos de um ciclone mais fortes ou mais fracos.

“O olho pode aumentar ou diminuir de tamanho, e podem formar-se paredes duplas”, explica o centro nacional.

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A reposição da parede e seus efeitos

A substituição da parede do olho geralmente ocorre em furacões de alta intensidade, explicou à BBC News Mundo o meteorologista Ernesto Rodríguez, do Serviço Meteorológico Nacional dos Estados Unidos.

Estes ciclones, que variam da categoria 3 a 5 na escala Saffir-Simpson, têm ventos de mais de 178 km/h.

À medida que os furacões se intensificam, as paredes dos olhos tornam-se mais estreitas e intensas até atingirem a força máxima.

Neste ponto, uma nova parede pode começar a se formar no exterior da parede interna do olho anterior, cortando a força da parede interna e eventualmente fazendo com que ela desapareça.

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“O que acontece é que uma parede maior de trovoadas começa a cercar e sufocar o núcleo interno que se formou originalmente. O novo anel de trovoadas rodeia a parede do olho antiga e eventualmente desaparece”, explicou Rodríguez.

Quando os furacões passam por esse processo, que geralmente acontece enquanto estão se fortalecendo, eles param momentaneamente de ganhar força.

“Eles passam por ciclos em que o diâmetro do olho muda. A substituição do olho os mantém [os furacões] estáveis, ​​e depois eles se intensificam novamente.”

A substituição da parede ocular pode levar de 12 a 18 horas ou até dois a três dias para ser concluída, e esses ciclos podem ocorrer várias vezes durante a vida de um furacão.