Stéphanie Frappart, Salima Mukansanga e Yoshimi Yamashita: uma francesa, uma ruandesa e uma japonesa farão história no Catar ao serem as primeiras árbitras a apitar os jogos da Copa do Mundo.
Mulheres acostumadas a quebrar tabus em seus trabalhos e que foram convocadas para arbitrar partidas no maior torneio de futebol do mundo em um país conhecido pela pouca liberdade de gênero.
As três pioneiras farão parte de um grupo de 36 árbitros principais. Além delas, a brasileira Neuza Back, a mexicana Karen Díaz Medina e a americana Kathryn Nesbitt serão assistentes de campo, outra conquista para as mulheres em um meio predominantemente masculino.
“Há vários anos elas vêm colecionando atuações de alto nível”, parabenizou o consagrado ex-árbitro italiano Pierluigi Collina, agora presidente do Comitê de Arbitragem da FIFA.
“A soma” de um bom trabalho
Para Frappart, de 38 anos, o Mundial é o ponto alto e esperado de um avanço no universo da arbitragem.
Primeira mulher a apitar partidas no Campeonato Francês, Supercopa da Europa, Liga dos Campões, segunda divisão francesa e na final da Copa da França, a árbitra de 38 anos já faz parte do cenário de arbitragem europeu.
“Estou muito emocionada porque não era algo que eu necessariamente esperava”, comemora a francesa que apita regularmente as partidas da Ligue 1 na temporada atual.
Yamashita, por sua vez, tem vivido evolução semelhante no Japão, ao se tornar a primeira mulher no comando de um jogo da Liga dos Campeões da Ásia, em 2019. Mais um passo em direção ao estatuto de arbitragem profissional, licença que obteve este ano e que foi suficiente para abandonar sua atividade de professora de educação física, que exercia em tempo parcial.
Apitar um Mundial “é uma grande responsabilidade, mas estou feliz por tê-la”, disse a japonesa à AFP.
Yamashita descobriu a profissão graças à insistência de uma colega de faculdade, Makoto Bozono, que a “arrastou” para apitar sua primeira partida e, desde então não se separou do apito, lembra ela.
Mukansanga, de 34 anos, foi a primeira mulher a dirigir uma partida da Copa Africana de Nações, no início de 2022. A ruandesa, que anteriormente sonhava em ser jogadora profissional de basquete, com 20 anos de idade já apitava partidas do Campeonato Nacional Feminino de futebol em Ruanda.
Modelos
A Concacaf está duplamente representada, com a americana Nesbitt e a mexicana Karen Díaz, árbitra assistente que é símbolo de um país no qual a igualdade de gênero avança pouco a pouco, apesar do machismo frequentemente denunciado pelas feministas.
Aos 38 anos, Díaz demonstra às mexicanas que tudo é possível. “O fato de nós, mulheres, chegarmos a posições importantes e de realizarmos nossos sonhos é fruto do nosso trabalho constante, mas também daquelas que nos abriram as portas pela primeira vez”, declarou a árbitra recentemente.
Ela nunca perde a chance de homenagear seu pai, um “fanático” por futebol de quem herdou sua paixão. “Comecei a jogar aos oito anos”, recorda.
Engenheira agrônoma de formação, Díaz trabalha desde 2016 em jogos da liga mexicana e renunciou a um emprego fixo para ser árbitra: “Minha chefe me disse: ‘Arbitragem ou trabalho’. Não hesitei nem por um segundo. Disse que preferia a arbitragem, embora isso significasse perder uma renda estável”.
“Sinal forte da Fifa”
Mas para estas seis pioneiras, não é questão de buscar protagonismo ou de a questão de gênero em primeiro lugar.
“Vou fazer todo o possível para realçar a beleza do futebol. Não me interessam nem o poder, nem o controle”, declarou em entrevista à Yamashita há alguns meses.
Stéphanie Frappart não se cansa de repetir: “Desde 2019 e do primeiro jogo que fiz na Supercopa da Europa, as árbitras fazem parte do panorama do futebol masculino. Já não é uma questão de gênero, mas sim de competência”, diz a francesa, admirada por sua diplomacia e sua firmeza nos campos.
Mas não deixa de ser marcante entrar para a história do futebol e fazer isso no Catar, um país criticado com frequência pelo papel reservado à mulher em sua sociedade.
“É também um sinal forte da Fifa e das organizações para que as mulheres arbitrem nesse país. Eu não sou porta-voz feminista, mas se isto pode fazer as coisas avançarem…”, avalia Frappart, consciente de “desempenhar um papel” de modelo para toda uma geração de futuras árbitras.
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Fonte: Folha PE
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