Mais um ano. Este não foi fácil. Para ninguém. Vai deixar “a saudade do que nunca houve, o desejo do que poderia ter sido, a mágoa de não ser outro, a insatisfação da existência do mundo”, segundo Fernando Pessoa (no Livro do Desassossego). Mas vem aí a esperança de um novo tempo. Sem medo. Sem ódio. Sem mágoas. Respeitando a opinião do outro. E compreendendo que as diferenças nos enriquecem. Até porque, caro leitor, ensina Carlos Drummond de Andrade (em Receita de ano novo) “Para você ganhar Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido/ Você tem de merecê-lo, / Tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil/ Mas tente, experimente, consciente./ É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre”. Mas é com um poema de Ferreira Gullar (Ano Novo) que desejo, a todos e a cada um dos nossos leitores, um esplendoroso Ano Novo.
“Meia noite. Fim
de um ano, início
de outro. Olho o céu:
nenhum indício.
Olho o céu:
o abismo vence o
olhar. O mesmo
espantoso silêncio
da Via-Láctea feito
um ectoplasma
sobre a minha cabeça:
nada ali indica
que um ano novo começa.
E não começa
nem no céu nem no chão
do planeta:
começa no coração.
Começa como a esperança
de vida melhor
que entre os astros
não se escuta
nem se vê
nem pode haver:
que isso é coisa de homem
esse bicho
estelar
que sonha
(e luta)”
*É especialista em gastronomia e escreve quinzenalmente neste espaço
Fonte: Folha PE
Autor: Letícia Cavalcante
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