- Author, Equipe de Jornalismo Visual
- Role, BBC News
Faz um ano que Israel invadiu e iniciou ataques e bombardeios contra o território palestino da Faixa de Gaza, em reação ao ataque sem precedentes do Hamas a Israel em 7 de outubro.
O país argumenta que está tentando destruir o poder militar e político do grupo islâmico, que controla Gaza desde 2007 e rejeita a presença e existência de Israel.
Mas a guerra também teve um impacto devastador entre as pessoas que vivem, ou viviam, no território. Quase 42 mil palestinos morreram desde então, segundo o ministério da Saúde gerido pelo Hamas.
Este guia visual traz dados e histórias que mostram como a vida mudou para os moradores de Gaza vivendo em meio à guerra que já devasta o território há um ano.
A vida antes da guerra já era difícil em Gaza. Por anos, o território palestino foi alvo de um bloqueio israelense-egípcio que limitava fortemente quem e o que podia entrar e sair — o que estes países argumentavam ser necessário para a segurança.
Quase dois terços da população estava na pobreza, de acordo com o Banco Mundial, e milhares viviam em campos de refugiados geridos pelas Nações Unidas (ONU). Mas o território também tinha hospitais, escolas, universidade e lojas.
Asdaa City era um dos maiores parques de diversões de Gaza e oferecia lazer para as cerca de 2 milhões de pessoas — quase metade delas crianças — que viviam na Faixa de Gaza.
Imagens do parque em Khan Younis capturadas antes da invasão de Israel e aquelas tiradas nos últimos meses revelam claramente como um ano de conflito abalou Gaza.
Os brinquedos estão em ruínas, não há energia para operá-los e milhares de tendas foram erguidas para abrigar famílias forçadas a deixar suas casas.
Após os ataques de 7 de outubro, nos quais atiradores do Hamas mataram mais de 1,2 mil israelenses e estrangeiros e levaram 251 reféns para Gaza, Israel começou intensos bombardeios no norte da Faixa de Gaza — onde disse que os combatentes do Hamas estavam escondidos entre a população civil.
Como a destruição se espalhou
A cidade de Beit Hanoun, ao norte, a apenas 2 km da fronteira, foi uma das primeiras áreas atingidas pelos ataques israelenses. Os danos ali foram enormes.
Israel bombardeou continuamente a Cidade de Gaza e outros centros urbanos no norte. O país também ordenou que civis se deslocassem em direção ao sul do rio Wadi Gaza por “segurança e proteção”, antes de começar sua invasão por terra no final de outubro.
Mas Israel também lançou ataques aéreos contra as cidades do sul, para as quais centenas de milhares de moradores de Gaza do norte estavam fugindo.
No final de novembro, partes do sul do território estavam em ruínas, assim como grande parte do norte.
Israel intensificou os bombardeios no sul e centro de Gaza no início de dezembro, antes de lançar uma ofensiva terrestre em Khan Younis. Em janeiro, mais da metade dos edifícios de Gaza já tinham sido danificados ou destruídos.
Um ano de conflito provavelmente afetou quase dois terços das construções em Gaza, e a Cidade de Gaza sofreu a destruição mais pesada, de acordo com especialistas do CUNY Graduate Center e da Oregon State University, nos EUA, que têm analisado imagens de satélite.
Ao longo do ano, o Hamas — que é classificado como uma organização terrorista por Israel, Reino Unido, Estados Unidos e vários outros países — e seus aliados têm se envolvido em batalhas intensas contra as forças israelenses em terra.
O Hamas também tem disparado milhares de foguetes contra Israel.
Grande cidade de tendas
Gaza — com apenas 41 km de extensão e 10 km de largura, com território delimitado pelo Mar Mediterrâneo e fronteiras fechadas com Israel e Egito — agora é em grande parte inabitável.
Bairros inteiros foram destruídos. Terras agrícolas onde antes havia estufas com lavouras foram reduzidas a areia e entulho por veículos pesados e tanques usados por tropas israelenses.
Antes da guerra, a maioria dos 2,2 milhões de habitantes de Gaza vivia em suas quatro principais cidades — Rafah e Khan Younis no sul; Deir al-Balah no centro; e a Cidade de Gaza, que abrigava 775 mil pessoas —, mas quase toda a população agora está desalojada.
Famílias precisaram se deslocar diversas vezes porque Israel mudou o foco de sua operação — inicialmente dizendo às pessoas no norte para se mudarem para o sul, e depois declarando uma série de zonas de evacuação no sul.
Imagens de satélite mostram uma vasta proliferação de tendas erguidas por pessoas desalojadas em al-Mawasi, uma estreita faixa de terra ao longo da costa do Mediterrâneo, perto da fronteira com o Egito, que Israel designou como “área humanitária” em janeiro.
Israel expandiu a zona em maio, incluindo partes de Khan Younis e Deir al-Balah, após lançar sua ofensiva terrestre em Rafah, onde mais de um milhão de pessoas estavam abrigadas.
Mas a área foi várias vezes reduzida em tamanho desde então, já que Israel tem atacado lugares onde diz que o Hamas está operando e lançado ataques em meio a civis desalojados.
Estima-se que 1,8 milhão de pessoas estejam agora abrigadas em al-Mawasi, que abrange cerca de 50 km² e carece de infraestrutura e serviços básicos.
A superlotação se tornou uma grande preocupação nos abrigos emergenciais das Nações Unidas no centro e sul de Gaza, com alguns excedendo em muito sua capacidade.
Outras famílias estão vivendo em tendas ou abrigos improvisados, às vezes até em praias.
O Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha) está alertando que a próxima estação chuvosa na região só deve piorar as “já terríveis condições de vida” em Gaza, levando provavelmente a temporais e inundações.
A angústia por comida
Quase 500 mil pessoas estão lutando contra uma fome catastrófica e há um alto risco de fome em todo o território palestino, de acordo com a Integrated Food Security Phase Classification (IPC), o órgão global responsável por declarar situações de fome.
Mesmo antes do conflito atual, cerca de 80% da população de Gaza precisava de ajuda humanitária.
As entregas de ajuda foram completamente interrompidas por cerca de 10 dias quando Israel e Egito fecharam travessias após o 7 de outubro e foram retomadas em níveis muito mais baixos.
Cerca de 50 caminhões de ajuda entraram diariamente em Gaza em setembro, de acordo com a ONU.
Israel contesta esses números, mas mesmo seus dados mostram apenas 142 caminhões por dia em setembro. O maior número já registrado, 226, ocorreu em abril.
Em março, o Programa Mundial de Alimentos declarou que atender a necessidades alimentares simples exigiria a entrada de pelo menos 300 caminhões por dia em Gaza — um número que não foi alcançado desde o início do conflito.
Autoridades da ONU atribuem a situação às restrições militares impostas por Israel, aos ataques em andamento e à quebra da lei e da ordem.
Israel insiste que não há limites para a quantidade de ajuda que pode chegar a Gaza e culpa as agências da ONU por não distribuir suprimentos. O país também acusa o Hamas de roubar itens humanitários, o que o grupo nega.
Trabalhadores humanitários também foram mortos em ataques aéreos e outros relataram terem sido alvejados por soldados israelenses.
Também houve relatos de multidões saqueando caminhões com ajuda.
A ONU diz que, apesar das agências fornecerem 600 mil refeições por dia em Gaza, a falta de suprimentos fez com que mais de 1,4 milhão de pessoas não recebessem alimentos em setembro.
A pobreza está aumentando
O conflito também teve um impacto devastador na economia de Gaza, que o Banco Mundial disse ter contraído 86% no primeiro trimestre de 2024, na “maior contração econômica já registrada”.
O banco afirma que praticamente 100% da população vive agora na pobreza, em comparação com 64% antes da guerra, e o custo de itens básicos aumentou em quase 250%.
Muitas unidades de saúde ficaram impossibilitadas de funcionar devido a danos ou falta de insumos e de combustível.
Muitos hospitais também foram invadidos por forças israelenses, com os militares alegando que esses locais eram usados para fins militares pelo Hamas.
O Hamas e autoridades hospitalares negam essas alegações.
O hospital al-Shifa, na Cidade de Gaza, já foi o maior centro médico do território palestino e ficou em ruínas, embora tenha conseguido reabrir seu departamento de atendimento de emergência.
As forças israelenses disseram que capturaram e mataram centenas de “terroristas” e que teriam encontrado armas “por todo o hospital” em suas duas grandes operações feitas no local.
Longa recuperação prevista
Além do custo humano, o Programa para o Meio Ambiente da ONU (PNUMA) afirmou que levará muito tempo para reparar os danos em Gaza.
O órgão diz que os sistemas de água e saneamento estão “quase totalmente desativados”; alerta sobre o acúmulo de lixo; e aponta para o risco de contaminação por conta de munições usadas no conflito e painéis solares destruídos.
O PNUMA estima que mais de 40 milhões de toneladas de detritos já se acumularam e que pode levar 15 anos e mais de US$ 500 milhões apenas para limpá-los, junto com restos de explosivos da guerra.
“Os danos ambientais significativos e crescentes em Gaza correm o risco de sujeitar seu povo a uma recuperação longa e dolorosa”, disse a diretora executiva Inger Andersen.
E sem nenhum sinal de fim para o conflito, levará muito tempo até que a vida no território palestino volte ao normal.
Fonte: BBC
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