“Os casos de assédio são frequentes. É uma coisa tão rotineira que toda vez que a gente está aqui, convive com esse medo”. Esse é o relato da estudante do 3º período de psicologia Lyvia Pessoa, de 21 anos, que estuda no Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Entre os estudantes, o medo e a falta de segurança são diários ao frequentar o local.
Na terça-feira (28), três mulheres foram vítimas de importunação sexual na instituição. O homem suspeito pelo crime teria importunado duas estudantes de artes visuais e, em seguida, registrado imagens de uma estudante de educação física amamentando a filha em um seminário no CFCH.
Insegurança diária
Os estudantes relatam os frequentes casos de importunação sexual e outros crimes dentro da instituição, principalmente no prédio do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH). Os crimes, em sua maioria, são realizados por pessoas de fora da universidade. A estudante de psicologia Lyvia Pessoa, relatou que, no começo do ano, houve dois casos de importunação sexual no prédio. Um homem desconhecido estava escondido no banheiro e filmou uma mulher.
“A gente vive com essa incerteza se podemos estar andando sozinhas em um corredor, ou em um dos andares, principalmente em um dos andares mais acima do CFCH. É uma segurança que para a gente está sempre dentro do campo da dúvida”, disse a estudante.
Estudante de psicologia Lyvia Pessoa. Foto: Arthur de Souza/ Folha de Pernambuco
Ela destacou que no Centro de Artes e Comunicação (CAC), existe uma equipe de segurança maior em comparação com o CFCH.
“O CFCH é o prédio mais alto e mais amplo da Federal inteira, e eu tenho aula em outros prédios como o próprio CAC e a gente vê que lá existe uma equipe de segurança maior, existe uma vigilância maior de quem entra e quem sai, porque nem sempre as questões das catracas é viável, mas que se tenha mais essa tentativa de controle e da segurança mesmo”, destacou.
A estudante de ciências sociais, Livia Oliveira, pontuou que desde a semana de recepção dos calouros, algumas orientações são dadas para os novatos, como não ir ao banheiro sozinha, no caso das mulheres, e não ficar nos andares mais altos do CFCH no período noturno, entre outros procedimentos.
Estudante de ciências sociais, Livia Oliveira. Foto: Arthur de Souza/ Folha de Pernambuco
Livia é de Alagoas e veio morar em Pernambuco para estudar na UFPE.
“Eu não sou daqui de Pernambuco e, às vezes, já parei para pensar se foi uma boa escolha eu ter vindo para a UFPE por conta dessa falta de segurança. Será que eu vou voltar para casa intacta todos os dias? É algo que também é falado na semana de recepção dos calouros, que muitos alunos acabam desistindo do curso por conta da questão da segurança”, reiterou a aluna.
O estudante do 3º período de psicologia, Diogo Alves, de 20 anos, também relatou o sentimento de insegurança de quem frequenta o campus Recife da UFPE. Ele destacou que não encontrou nenhuma câmera de segurança no prédio do CFCH e nem uma quantidade numerosa de guardas ao longo da universidade.
Estudante de psicologia, Diogo Alves. Foto: Arthur de Souza/ Folha de Pernambuco
“A situação está um pouco complicada, não é a primeira vez que houve um caso de assédio no CFCH. Foi um caso de assédio que aconteceu durante o dia e é perigoso. Frequentemente as pessoas entram aqui no prédio, não tem ninguém que verifique se essas pessoas são estudantes, se estão matriculadas em algum curso”, disse.
A também estudante de psicologia, Gabriella Felix, de 22 anos, declarou que não existe uma regulação de quem entra e quem sai do prédio. Além disso, a estrutura não favorece a boa visualização das coisas que acontecem, com locais mais afastados e corredores horizontais.
Estudante de psicologia, Gabriella Felix. Foto: Arthur de Souza/ Folha de Pernambuco
“Não só pessoas que vêm de outros cursos, mas pessoas que não estão vinculadas à UFPE, podem acabar entrando, e isso já aconteceu logo quando eu comecei no curso. É muito fácil subir as escadas e ter acesso aos banheiros e a maioria das portas não têm trancas, não tem uma vigilância em torno dos banheiros em muitos andares, então a gente fica sem saber se tem mais alguém de fora, principalmente no banheiro”, disse a estudante.
Segundo funcionários que trabalham no prédio do CFCH, os casos de assédio são provenientes do descaso de controle de acesso ao prédio e por não haver uma identificação para entrar no local. As pessoas têm livre acesso para transitar em todos os andares, e a presença não é questionada.
No prédio do Centro de Informática (CIN), por exemplo, a entrada é feita mediante passar por uma catraca com crachá de identificação. O local é o único centro da universidade que realiza esse método.
Além disso, em alguns prédios isolados, como o de oceanografia, o crachá também é solicitado. Já no CAC, o porteiro para e pergunta para onde a pessoa vai.
O que diz a UFPE?
Em nota, a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), afirmou que solicitou apoio à Secretaria de Defesa Social em caráter de urgência para estabelecer diálogo e medidas, entre outras parcerias, para a melhora do policiamento da área que envolve o campus Joaquim Amazonas.
A instituição reiterou que, em diálogo com o CFCH, “deu início aos procedimentos para mudanças da localização da guarita de segurança do prédio e autorizou recursos financeiros para uma primeira etapa de instalação de câmeras”. Além disso, reiterou que está intensificando campanhas que destacam a importância da denúnia, assim com os canais institucionais para isso.
Ainda segundo a universidade, a mudança da localização da guarita de segurança tem como objetivo mudar a forma de acesso ao prédio, já que atualmente os seguranças ficam na área lateral e quem entra, não passa por eles.
Com relação à instalação de catracas e a apresentação de crachás na entrada do CFCH, ainda não se tem, até o momento, uma mudança nesse sentido. Para que isso ocorra, é necessário um consenso por parte do conselho do prédio.
A Secretaria de Defesa Social afirmou que irá se pronunciar nesta quinta-feira (30).
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