Diante das enchentes históricas no Sul do Brasil, o Governo Federal decidiu adiar as provas do Concurso Público Nacional Unificado (CPNU), ou “Enem dos Concursos“, previstas para o domingo (5/5).
A informação foi confirmada pelo governo federal na tarde desta sexta-feira (3/5).
“A gente percebeu realmente que esta é uma situação de agravamento sem precedentes”, disse a ministra da Gestão e Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, responsável por organizar o concurso.
Ela afirmou que a situação das chuvas na região Sul do país tem se agravado cada vez mais, o que impede a realização das provas em diversas localidades.
Ainda não há uma nova data para a aplicação da prova. Dweck, afirmou que ainda é preciso fazer discussões logísticas em todo o país para definir a nova data.
“Nas próximas semanas poderão divulgar nova data, mas neste mmento, toda a questão logística não permite divulgar nova data”, disse.
A decisão do governo acontece após chuvas torrenciais atingirem o Sul do país, especialmente o Rio Grande do Sul.
Segundo o último balanço na tarde desta sexta-feira, o governo gaúcho contabilizava 37 pessoas mortas e 74 desaparecidas. Também havia mais de 23 mil desalojados.
O ‘Enem dos Concursos’
Com mais de 6,6 mil vagas, este vem sendo chamado em sites de cursos preparatórios de “o maior concurso de todos os tempos”.
Uma novidade que vem sendo destacada é que o modelo de seleção tenta ampliar o acesso ao concurso público, segundo os responsáveis, já que a prova será aplicada em 220 cidades em todas as regiões do país — em vez de, por exemplo, ser feita apenas em Brasília.
O governo sempre disse que isso vai “ampliar e democratizar o acesso da população às vagas públicas” e “pode aproximar o perfil dos aprovados em concursos públicos ao perfil da população do Brasil”.
Alketa Peci, professora de Administração Pública e Governo da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (Ebape) FGV, diz que é positiva a mudança que deixa o concurso público “mais perto” de candidatos de várias regiões do país.
A oferta de provas em mais cidades, ela aponta, reduz custos como aqueles com passagens e hospedagem.
“Os candidatos enfrentam custos como com avião, hotel, e muitos por vezes não conseguem ultrapassar essa barreira”, diz. “Só de sair do eixo de Brasília e diversificar com regiões do país, você traz outros olhares, mais diversos.”
Peci destaca, no entanto, que é difícil pensar que haverá mudança no fato de que os candidatos com melhores condições socioeconômicas saem na frente.
“Acredito que esse concurso vai manter esse mesmo padrão. O Brasil é um país extremamente desigual, duvido que só pela parte da regionalização a gente conseguiria ver outra composição sociodemográfica de pessoas que passam no concurso público.”
A seguir, veja respostas a algumas perguntas sobre o Concurso Nacional Unificado, com base nas informações do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos:
1. Como vai funcionar o ‘Enem dos concursos’?
O concurso será feito para selecionar 6.640 futuros servidores públicos para ministérios e outros órgãos (veja mais detalhes sobre as vagas abaixo).
Os candidatos puderam escolher entre “blocos temáticos”, ou seja, escolher uma área onde desejam trabalhar, e dentro do bloco escolhido podem concorrer a mais de um cargo.
“É como se a pessoa fizesse 5 ou 6 concursos em uma prova”, explicou a ministra da Gestão, Esther Duek
As provas serão aplicadas em um único dia, em dois turnos (matutino e vespertino).
De manhã, a prova para cargos de nível superior terá 20 questões objetivas de conhecimentos gerais mais uma prova discursiva de conhecimento específico do bloco, com 2h30 para responder. À tarde, o candidato terá 3h30 horas para responder 50 questões objetivas de conhecimentos específicos.
Para os cargos de nível médio, o tempo de prova é o mesmo, mas de manhã haverá prova objetiva com 20 questões de conhecimentos gerais mais um redação. À tarde, haverá uma prova objetiva com 40 questões.
A professora Alketa Peci destaca que, embora o ponto mais discutido do novo modelo de concurso seja sua descentralização na aplicação da prova, ela considera que sua principal novidade está em abrir a discussão sobre deixar o serviço público “menos engessado”.
“Tem um problema que se enfrenta hoje no setor público que é uma falta de mobilidade entre diversas carreiras e cargos. A pessoa entra naquela vaga, naquela instituição, e permanece a vida toda. Hoje nosso arcabouço legal não nos permite muito reajustar a força de trabalho de acordo com as novas demandas”, diz. “É natural que alguns cargos fiquem obsoletos e outros tenham demanda crescente.”
“Não é com um concurso público que vai se resolver isso, mas acredito que outras medidas podem ser pensadas para caminhar nessa direção. Serão necessárias mais mudanças, que vão permitir maior flexibilidade e mobilidade da força de trabalho, mas o concurso abre janela de oportunidade para avançar nessa direção, na medida em que trabalha com grandes áreas estratégicas.”
2. Quais são os cargos disponíveis?
Os cargos e especialidades estão divididos em 8 blocos temáticos, que vão conter vagas para carreiras nas mesmas áreas do conhecimento. Cada bloco terá vagas em diversos órgãos e ministérios do governo.
Um mesmo órgão (como a AGU ou o IBGE) pode ter vagas em diferentes blocos, dependendo do tipo de trabalho que o servidor irá realizar.
Os blocos temáticos são:
- Insfraestrutura, exatas e engenharia (727 vagas) – Terá vagas para arquitetos, engenheiros, cartógrafos, gestores em pesquisa, entre outros.
- Tecnologia, dados e informação (597 vagas) – Terá vagas para estatísticos, desenvolvedores em TI, cientistas de dados, especialistas em TI, especialistas em redes e telecomunicações, entre outros.
- Ambiental, agrário e biológicas (530 vagas) – Terá vagas para engenheiros agrônomos e florestais, geógrafos, analistas ambientais, biológos, veterinários, químicos, zootecnistas, meteorologistas, entre outros.
- Trabalho e saúde do servidor (971 vagas) – Terá vagas para médicos, psicólogos, entre outros.
- Educação, saúde, desenvolvimento social e direitos humanos (1016 vagas) – Terá vagas para pedagogos, indigenistas, antropólogos, assistentes sociais, sociólogos, entre outros.
- Setores econômicos e regulação (359 vagas) – Terá vagas para economistas, bachareis em direitos, entre outros.
- Gestão governamental e administração pública (1748 vagas) – Terá vagas para administradores, contadores, bachareis em comunicação social, historidades, produtores audiovisuais, bachareis em letras, entre outros.
- Nível intermediário (692 vagas) – Terá vagas para nível médio e cursos técnicos de nível médio.
Nesta tabela é possível verificar todas as carreiras disponíveis, com os respectivos órgãos e a quantidade de vagas disponíveis.
3. Quais órgãos aderiram e há quantas vagas para cada?
O concurso unificado terá vagas para 21 órgãos públicos, entre ministérios, agências reguladoras e outros braços do Executivo federal.
Veja a lista completa a seguir de órgãos e do total de vagas para cada:
- Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos – 1480 vagas
- Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços – 110 vagas
- Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) – 30 vagas
- Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) – 40 vagas
- Ministério da Agricultura e Pecuária & Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) – 520 vagas
- Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) – 742 vagas
- Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação – 296 vagas
- Ministério dos Direitos Humanos – 40 vagas
- Ministério da Educação – 70 vagas
- Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) – 502 vagas
- Ministério da Saúde – 220 vagas
- Ministério da Justiça e Segurança Pública – 130 vagas
- Ministério do Trabalho e Emprego – 900 vagas
- Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc) – 40 vagas
- Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) – 310 vagas
- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – 620 vagas
- Advocacia Geral da União (AGU) – 400 vagas
- Ministério dos Povos Indígenas – 30 vagas
- Ministério do Planejamento e Orçamento – 60 vagas
- Ministério da Cultura – 50 vagas
- Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) – 50 vagas
Fonte: BBC
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