“O sexo dói tanto que eu raramente faço. A dor que sinto depois é simplesmente horrível.”
Hollie, de 24 anos, é uma entre 1,5 milhão de mulheres no Reino Unido que sofrem com a endometriose.
Esse é o nome dado à condição em que o tecido que reveste o útero cresce para fora do órgão, em regiões como ovários e tubas uterinas — o que significa que a fertilidade pode ser afetada.
No caso de Hollie, assim como o de muitas mulheres, o quadro também causa episódios de dor intensa.
Foi o que a cantora Anitta relatou em suas redes sociais. A artista disse sofrer com dores há nove anos e falou que se submeterá a uma cirurgia após ser diagnosticada com a doença. Ela não especificou a data, mas disse que o procedimento já está agendado e teve “que cancelar muita coisa” em sua agenda, já que, após a cirurgia, “não pode fazer muito esforço por um mês”.
A endometriose causa cólicas menstruais intensas, dores nas relações sexuais, dor e sangramento intestinais e urinários durante a menstruação e até infertilidade.
“Nove anos dessa novela e eu já tentei de tudo que todos os tipos de médicos já falaram. Todas as dicas, conselhos, técnicas que os médicos deram ou do Google também já tentei. E nada (e 9 anos deu foi tempo de eu tentar solução, hein?) porém nunca me pediram uma ressonância. Nenhuma matéria, artigo, site etc cogita a cistite de repetição como um possível sintoma de endometriose”, desabafou Anitta no Twitter.
Para a britânica Hollie, a endometriose afetou todos os aspectos de sua vida, de sua educação até perspectivas de carreira, passando por sua saúde mental.
“Não é apenas o fato de dificultar a concepção, a possibilidade de ter filhos, de formar uma família, mas a doença também afeta a vida sexual”, conta.
Em 2019, Hollie participou de uma pesquisa da BBC sobre a condição, junto a outras 13,5 mil mulheres, como parte da maior investigação sobre o assunto no Reino Unido.
Danos e angústia
A jovem foi diagnosticada com o problema em março de 2018, depois de passar cinco anos com sintomas.
“Quando você tem isso [a capacidade de fazer sexo] tirado de si, a saúde mental é afetada.”
Hollie tem uma filha com seu parceiro. Ela diz ter recebido muito apoio dele, diante das dores que sente, mas os impactos da doença não deixam de ser uma preocupação.
“Isso me faz sentir como se estivesse falhando, como se não fosse uma boa namorada”, diz ela, destacando que a ansiedade que sofre como resultado da doença é “debilitante”.
Outro problema com que algumas mulheres que têm endometriose lidam é a dificuldade em engravidar.
As razões por trás disso não são totalmente compreendidas, mas a hipótese mais aceita é de que seja resultado dos danos às tubas uterinas e aos ovários.
A cirurgia para remover os focos da endometriose podem ajudar, mas não há garantia. O procedimento ainda pode gerar complicações, incluindo hematomas nas proximidades do útero ou — em casos menos comuns, mas mais sérios — danos ao órgão.
Hollie conta que quer mais um filho, mas acredita ter poucas chances.
“Nós dois sabemos, no fundo, que isso não vai acontecer. Mas não falamos sobre o assunto, porque me deixa triste.”
Assim como Hollie, Sophie (nome alterado para preservar sua identidade) sofreu com crises de dor extrema, até chegar ao ponto de não conseguir fazer sexo com seu parceiro.
“A endometriose arruinou minha relação. Quando estávamos na cama, eu simplesmente não conseguia fazer nada. Eu não sabia o que era aquela dor e não me sentia levada a sério”, afirma ela.
“Mas era uma dor terrível, e ele simplesmente não entendia. No fim das contas, ele acabou dormindo com outras pessoas. Agora, eu não estou buscando ativamente uma relação, porque me preocupo com sexo e com essa minha dificuldade em fazer.”
Para Sophie, o sexo pode desencadear uma crise dos sintomas que ela descreve como “insuportável para mim e para quem está em volta — quando estou com dor, fico irritada”.
Tratamentos e cirurgia
De acordo com o sistema público de saúde britânico (NHS, na sigla em inglês), não há ainda uma cura para endometriose, mas vários tratamentos podem aliviar os sintomas.
Entre eles estão os remédios analgésicos e medicamentos hormonais, assim como intervenções mais extremas, como as cirurgias para tirar os focos de tecido endometrial, ou mesmo para remover o útero, no procedimento conhecido como histerectomia.
Algumas mulheres optam pela histerectomia como solução para a dor extrema causada pela endometriose, o que significa que não podem mais ter filhos.
Sophie sofreu com as dores por mais de uma década até obter um diagnóstico — agora, ela tem 26 anos de idade.
Nos últimos tempos, a dor ficou tão forte que Sophie suspeita que a histerectomia seja sua única saída, ainda que coloque um fim à possibilidade de ter filhos.
“Eu falei com meu médico há algumas semanas e ele disse ‘vou ser sincero, você provavelmente tem apenas mais um ano para engravidar’. A endometriose pode arruinar as minhas chances de ter um bebê”, diz ela.
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