Vitórias em eleições parlamentares nos Estados de Nevada e Arizona deram ao partido democrata o controle do Senado dos Estados Unidos — fortalecendo a posição do presidente Joe Biden até o final de seu mandato. A contagem de voto segue nos Estados, mas as vitórias dos candidatos já foram projetadas matematicamente neste final de semana.
Os resultados dos democratas na chamada eleição de meio de mandato dos EUA — que define a composição da Câmara dos Representantes e do Senado em um pleito realizado na metade do mandato do presidente — foram os melhores de um partido americano no poder em 20 anos. Nas últimas duas décadas, eleitores americanos em geral puniram nas urnas o partido do presidente no poder, dando mais votos à oposição.
Biden disse estar “incrivelmente satisfeito” com os resultados e que agora é hora de os republicanos decidirem “quem eles são”.
A derrota dos republicanos gerou críticas às lideranças do partido que faz oposição a Joe Biden — sobretudo a Donald Trump, que teria planos de concorrer de novo à Casa Branca em 2024.
Mas mesmo com a derrota no Senado, os republicanos ainda devem conquistar a maioria da Câmara dos Representantes — a outra casa do Congresso americano — o que seria suficiente para barrar a agenda política de Joe Biden.
Entenda abaixo o que aconteceu na eleição de meio de mandato.
1) Vitórias em Nevada e Arizona selam controle democrata do Senado
A senadora democrata Catherine Cortez Masto, de Nevada, seguirá no seu cargo após derrotar o candidato republicano Adam Laxalt, segundo projeções da rede americana CBS na noite de sábado (12/11).
Com esse resultado, os democratas passam a ter 50 cadeiras no Senado e os republicanos, 49.
Ainda existe uma vaga em disputa no Senado americano: a da Geórgia, que será definida em segundo turno em 6 de dezembro.
Mas o resultado deste pleito não vai mudar o fato de que os democratas controlarão o Senado a partir do ano que vem.
Mesmo que os republicanos ganhem na Geórgia, empatando o número de vagas no Senado entre os partidos, caberà à vice-presidente democrata Kamala Harris votar em caso de empates nas decisões legislativas.
Na sexta-feira (11/11), o democrata Mark Kelly havia derrotado seu rival republicano Blake Masters na luta por uma vaga no Senado pelo Estado do Arizona, outra vitória crucial para os democratas.
2) Biden sai fortalecido nos próximos dois anos
A principal consequência da vitória democrata no Senado é que o presidente americano Joe Biden terá mais poder para governar nos dois anos que restam de seu mandato.
“Eu não estou surpreso com o comparecimento às urnas. Estou incrivelmente satisfeito. E acho que isso é um reflexo da qualidade de nossos candidatos”, disse Biden após as projeções de vitórias democratas.
O correspondente da BBC News nos Estados Unidos, Anthony Zurcher, explica a importância da vitória democrata para Biden — que terá poderes para, por exemplo, conseguir emplacar indicados seus para cargos altos, como na Suprema Corte americana.
Um resultado que fortalece Biden
Análise de Anthony Zurcher, correspondente da BBC nos EUA
Os democratas conseguiram manter o controle do Senado dos EUA, uma conquista que fará com que Joe Biden passe mais dois anos indicando nomes para os tribunais federais.
Quatro dias depois que dezenas de milhões de americanos foram às urnas, a vitória apertada de Catherine Cortez Masto em Nevada na noite de sábado (12/11) foi um marco decisivo na batalha política.
Agora, mesmo que os republicanos ganhem a disputa restante do Senado na Geórgia, empatando o número de vagas no Senado entre os partidos, a vice-presidente democrata Kamala Harris poderá votar em caso de empates nas decisões legislativas.
A vitória é importante porque agora, se um assento da Suprema Corte ficar vago devido à aposentadoria inesperada ou à morte de um juiz, os republicanos não poderão bloquear qualquer indicado por Biden.
A vitória em Nevada significa que o segundo turno do Senado da Geórgia em 6 de dezembro não é mais uma corrida crucial para determinar o controle da Casa.
No entanto, Biden disse que “é melhor” que os democratas cheguem a 51 cadeiras. A vaga extra certamente facilita a gestão de uma maioria e também ajudará em 2024, quando o partido terá que defender mais vagas na eleição parlamentar daquele ano.
Ainda há uma chance, embora não uma certeza, de que os republicanos conquistem uma pequena maioria na Câmara dos Deputados, o que trará uma série de dores de cabeça para o presidente.
O futuro político de Donald Trump foi abalado, mas ainda não se sabe quanto tempo esse dano deve durar. Enquanto isso, a posição de Joe Biden dentro de seu partido foi fortalecida.
O mundo político nos EUA é hoje bastante diferente do que era apenas uma semana atrás.
3) Partido Republicano enfraquecido?
A vitória democrata no Senado teve repercussões fortes entre alguns republicanos.
O senador republicano Josh Hawley, que representa o Missouri, disse no Twitter que seu “partido está morto” e que é preciso mudar.
A eleição americana foi considerada uma derrota para os republicanos por causa da possibilidade de uma “onda vermelha” (cor do partido) que havia se levantado antes do pleito — uma tendência que não se confirmou nas urnas.
Donald Trump — que ainda hoje insiste sem provas ter vencido as eleições presidenciais de 2020 — vem fazendo novas alegações sem fundamento sobre as eleições de meio de mandato.
“Os democratas estão encontrando tudo que é tipo de votos em Nevada e Arizona. Que vergonha que isso possa acontecer”, ele postou em sua plataforma de rede social na sexta-feira (11/11).
Acredita-se que Trump vai anunciar em breve que concorrerá à presidência novamente em 2024. Mas os candidatos que ele apoiou nas eleições de meio de mandato não foram bem-sucedidos. Além disso, ele viu dentro do partido o crescimento de um potencial rival: o governador reeleito da Flórida, Ron DeSantis.
Mas mesmo não tendo vencido no Senado, os republicanos ainda podem conquistar a maioria na Câmara dos Representantes (ou Deputados) dos EUA, o que lhes dá poderes para barrar diversas iniciativas do governo Biden.
Segundo projeções, o partido de Biden deve conquistar pelo menos 210 cadeiras, mas os republicanos parecem prestes a ficar com 214 vagas, a maioria da Casa. Republicanos precisam de mais quatro vitórias para retomar o controle da Câmara, que hoje pertence aos democratas.
Mesmo com a derrota, os democratas sentem que têm motivos para comemorar também na corrida pela câmara baixa do Congresso americano.
A maioria republicana deverá pequena. E democratas estão conseguindo algumas vitórias históricas, como no terceiro distrito congressional de Washington, onde os republicanos eram amplos favoritos.
A democrata Marie Gluesenkamp Pérez deve derrotar Joe Kent, um republicano de extrema direita endossado por Donald Trump. Essa vitória deve colocar o distrito na mão dos democratas pela primeira vez em 12 anos.
4) A importância das eleições de meio de mandato dos EUA
As eleições de meio de mandato escolhem os integrantes do Congresso americano, que é formado por duas partes: a Câmara dos Deputados (ou dos Representantes) e o Senado.
O Congresso cria leis em nível nacional. A Câmara decide quais leis são votadas, enquanto o Senado pode bloqueá-las ou aprová-las, confirmar as nomeações feitas pelo presidente e, em raras ocasiões, conduzir investigações contra autoridades.
Essas eleições são realizadas a cada dois anos, e caem sempre na metade do mandato de quatro anos do presidente.
Cada Estado tem dois senadores, que cumprem mandatos de seis anos. Os representantes (ou deputados) ocupam o cargo por dois anos e representam distritos menores.
Todos os assentos na Câmara dos Representantes estavam em disputa nas eleições de meio de mandato, juntamente com um terço do Senado.
Vários Estados importantes também realizaram eleições para seu governador e outros cargos locais.
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