- Felipe Souza – @felipe_dess
- Da BBC News Brasil em São Paulo
Twitter, Instagram e Facebook são redes sociais conhecidas pelas discussões políticas acaloradas em tempos de eleições. Mas, na reta final da corrida ao segundo turno à Presidência, um novo meio está ganhando protagonismo: o status do WhatsApp.
A BBC News Brasil conversou com militantes de ambos os lados da disputa — Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) — para entender a importância que é dada à ferramenta na reta final das eleições.
De maneira informal, os dois grupos disseram usar e orientar outras pessoas a usarem o status do WhatsApp para fazer campanha eleitoral.
Pessoas ouvidas pela reportagem disseram ter identificado, nas últimas semanas, diversos amigos que usaram o espaço pela primeira vez, principalmente a favor de Lula. Já os bolsonaristas dizem que publicar imagens no status ocorre desde a campanha de 2018.
A ferramenta permite que usuários compartilhem fotos, textos, vídeos e GIFs que ficam visíveis durante 24 horas. No entanto, para que o conteúdo possa ser visualizado, tanto a pessoa que publica quanto a que visualiza “devem ter o número de telefone uma da outra salvo nas respectivas listas de contatos”, explica o próprio WhatsApp, controlado pela Meta.
A maior parte dos militantes ouvidos pela reportagem diz que foi orientada por pessoas ligadas a partidos ou outros militantes a usar o status para fazer campanha.
Uma das pessoas entrevistadas pela reportagem, que pediu para não ser identificada, afirmou que usou o status do WhatsApp pela primeira vez na vida após o primeiro turno nas eleições para fazer campanha para Lula, do PT. A intenção, diz ele, é “furar a bolha” e falar diretamente aos mais pobres.
“Eu nem olhava esse status, mas meus amigos disseram que eu deveria usar. E depois vi que faz muito sentido. Quando publico algo no Instagram ou Twitter são as mesmas pessoas que vão ter acesso. Mas, quando eu coloco no WhatsApp, quase todo mundo com quem eu já entrei em contato vê: a diarista, o mecânico e o eletricista. Então, eu rompo essa barreira do meu círculo social e alcanço muito mais pessoas”, afirma.
Procurado para saber se o número de publicações aumentou recentemente, o WhatsApp informou por meio de nota que “o status não tem algoritmo ou anúncios pagos, de modo que os conteúdos não podem ser impulsionados como em redes sociais. Assim como nas conversas dentro do aplicativo, o status está protegido com criptografia de ponta a ponta – o que significa que o WhatsApp não tem acesso ao conteúdo que é trocado”.
Amadurecimento da militância
Para Vitor Piaia, sociólogo e professor da ECMI (Escola de Comunicação, Mídia e Informação) da FGV, o uso do status do WhatsApp demonstra um amadurecimento da militância. Para ele, esse espaço tem um alcance relevante, mas costumava ser pouco utilizado.
“Esse movimento por parte da militância indica um amadurecimento do ponto de vista estratégico. Ocupar os espaços que as plataformas disponibilizam e jogar com a estrutura disponível é totalmente válido”, afirmou.
Piaia afirma, no entanto, que não há estudos que comprovem o impacto e o alcance dessa ferramenta, por se tratar de publicações restritas entre os contatos e criptografadas de ponta a ponta. Ele também disse que não é possível afirmar se a rede é mais popular entre os mais pobres.
“Só fazemos análises de Telegram e WhatsApp em grupos públicos, por isso não consigo responder. O que dá para dizer é que o WhatsApp é uma das plataformas mais populares do mundo, presente em mais de 90% dos smartphones. Também é uma rede que requer pouco desempenho do aparelho que está usando e é quase inescapável da sociedade. Você pode conhecer pessoas que não usam Twitter, Facebook, mas o WhatsApp é muito popular porque foi incorporado ao cotidiano das pessoas”, afirmou.
O pesquisador ainda lembra que muitas operadoras de telefonia móvel não descontam o uso do WhatsApp do pacote de dados. Isso faz com que o aplicativo se torne ainda mais popular.
“O WhatsApp não é tão político como o Telegram. A plataforma foi incorporada ao cotidiano das pessoas, que a usam para vender, entrar no grupo da igreja, do futebol, do colégio. Então, ocupar uma funcionalidade deste aplicativo que tem tanta capilaridade surge como uma estratégia interessante. Como a produção de conteúdo de campanha se intensifica muito nesse período, o que a militância faz é basicamente direcioná-la. Se vai ter resultado ou não é difícil dizer, mas é uma novidade e de baixo custo”, afirmou o professor da FGV.
O pesquisador afirmou que o incentivo ao uso do WhatsApp é mais uma ferramenta das campanhas para atingir o máximo número de pessoas em plataformas de grande alcance.
“Há algumas semanas, isso não era pauta, mas agora mudou. Neste ano, as campanhas tentaram implantar conteúdo principalmente no Kwai, Instagram e TikTok. Mas recentemente vimos esse movimento de tentar entrar nos status do WhatsApp como uma novidade estratégica nesse momento final”, afirma.
‘O povo brasileiro não está no Twitter’
Quatro dias após o primeiro turno das eleições deste ano, a médica e militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB) Júlia Rocha publicou uma espécie de cartilha para a militância pró-Lula.
No post, que já registrou mais de 13 mil curtidas, Júlia lista uma série de ações para incentivar as pessoas a militarem nas redes sociais. O primeiro ponto descrito por ela foi “usem o status do WhatsApp”.
Na mesma publicação, ela ainda disponibilizou uma série de materiais, como ilustrações e reportagens com críticas a Bolsonaro e incentivando o voto em Lula.
Em entrevista à BBC News Brasil, ela afirmou que a ideia surgiu logo após o apoio do PCB à campanha do ex-presidente petista. Ela disse que a ideia de focar os esforços no status do WhatsApp surgiu com a intenção de atingir um público já cativo dos partidos da direita.
“A gente está no Twitter, mas o povo brasileiro não está. As pessoas estão muito no Facebook e recebendo notícia e informação que levam à tomada de decisão pelo WhatsApp, mas a gente não tinha organizado uma rede de distribuição por lá. A direita fez essa espécie de trabalho de base e nós não. Nós não podemos agir da mesma forma que eles se a gente não construiu essa rede”, afirmou a militante.
No entanto, a médica diz que as postagens no status do WhatsApp não devem ser feitas de maneira agressiva.
“Tem que usar o status de forma passiva, não para enviar as notícias. Você precisa deixar a sua reflexão no status e abrir o diálogo a partir dali. Dizer que está à disposição para conversar. Essa não é uma rede que vai alcançar milhares, mas são pessoas com relação íntimas, que têm seu telefone. São pessoas que ajudam na limpeza da sua casa, vendem bijuteria e está no seu convívio. Se a sua publicação provocou essa pessoa e ela está indecisa, vai buscar informação”, afirma.
Ela explica que esse é um trabalho a longo prazo e que a intenção não é que a pessoa mude de ideia e até mesmo de voto instantaneamente, mas “plantar uma sementinha”.
“É um trabalho de conscientização e de base que a gente faz de forma muito artesanal. Esse é um jeito que gera impacto porque são pessoas reais. Não só virar voto, mas virar a consciência.”
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