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Em 2022, mineiro teve um terço dos votos que ganhou em sua estreia na política, aos 26 anos

A trajetória de Aécio Neves (PSDB) na política é pouco convencional.

Em carreira arrebatadora, o tucano de 62 anos conquistou alguns dos cargos mais importantes do Brasil e acumulou recordes de votação até 2014, quando começou a derreter e, pouco a pouco, desaparecer do debate público e das redes sociais.

No domingo (2/10), após ser governador duas vezes, senador e quase presidente da República, Aécio se reelegeu deputado federal com um terço dos votos que recebeu aos 26 anos, em sua estreia como deputado federal, em 1986.

O encolhimento reflete a trajetória da presença do mineiro em redes sociais: Aécio abandonou o Twitter – plataforma preferida por políticos em todo o país – e manteve presença apagada no Facebook, onde é seguido por 3,5 milhões de pessoas.

No TikTok, Aécio tem pouco mais de 6,5 mil seguidores e menos de 100 curtidas em boa parte de suas publicações. A título de comparação, Nikolas Ferreira, deputado mais votado de Minas Gerais nesse ano, tem 1,9 mihão de seguidores e centenas de milhares de curtidas em seus posts no TikTok.

Corrupção

A curva política ascendente de Aécio Neves se chocou com uma sequência de escândalos de corrupção.

Em ação movida pela Procuradoria Geral da República, em maio de 2020, Aécio foi acusado de receber R$ 65 milhões em propina das construtoras Andrade Gutierrez e Odebrecht.

Segundo a Polícia Federal, os supostos crimes teriam ocorrido em contratos para a construção de usinas hidrelétricas em Rondônia e obras envolvendo a estatal mineira Cemig e a federal Furnas.

Aécio sempre negou qualquer irregularidade.

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Acusação mais famosa contra Aécio foi em 2016, quando gravação mostrou o tucano pedindo R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista, da JBS.

Em agosto deste ano, o PGR Augusto Aras recuou da denúncia, pedindo que o Supremo Tribunal Federal rejeitasse a ação por conta de impedimentos legais em denúncias com base em delações.

Mas a acusação mais famosa acontecera 3 anos antes, em 2016, quando Aécio chegou a ser afastado temporariamente da função de senador após uma gravação mostrar o tucano pedindo R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista, da JBS.

De acordo com procuradores, à época, Aécio, a irmã Andrea Neves e o primo Frederico Pacheco de Medeiros teriam recebido dinheiro do empresário em troca de favores políticos. Andrea e Frederico chegaram a ser presos.

Aécio dizia que os R$ 2 milhões seriam na verdade um empréstimo pessoal para pagar advogados.

Em março deste ano, Aécio foi absolvido pela Justiça Federal de SP pela acusação de recebimento de propina de Joesley, alegando que não havia provas de que o mineiro tivesse usado seu cargo para beneficiar o empresário.

O político comemorou a decisão e disse, em nota, “depois de cinco anos de explorações e injustiças, foi demonstrada a fraude montada por membros da PGR e por delatores que colocou em xeque o estado democrático de direito no país”.

Vindo de uma família rica mineira, neto do ex-presidente Tancredo Neves, Aécio foi eleito pela primeira vez deputado federal em 1986 e participou da construção da Constituição de 1988.

Foi deputado federal até 2002, quando se elegeu pela primeira vez governador de Minas Gerais com a maior votação da história do Estado até então: 5.282.043 votos.

Em 2006, foi reeleito ao governo e bateu o próprio recorde: 7,4 milhões de votos.

Em 2010, ganhou 100 mil novos apoiadores e foi o terceiro senador mais votado do Brasil, com 7,5 milhões de votos.

Em 2014, o mineiro era um dos políticos mais influentes do país. Tentou a presidência da República e alcançou impressionantes 51 milhões de votos no segundo turno. Teve 48,36% do total e perdeu para a petista Dilma Rousseff, que alcançou 54,5 milhões de votos.

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Vida política de Aécio virou depois de 2014, quando perdeu disputa presidencial para Dilma Rousseff

Em 2015, Aécio tentou contestar, sem sucesso, o resultado da eleição que o derrotara. E foi a partir daí que a curva ascendente de Aécio mudou.

Em 2018, o tucano recuou, fechou-se novamente em seu Estado de origem e disputou a Câmara dos Deputados por Minas Gerais.

Teve apenas 1,4% dos votos que amealhara 12 anos antes como governador: 106.702, o que o tornou o 19° deputado mais votado no Estado naquele ano.

Agora, em 2022, Neves recua mais um pouco: 85.341 votos, 21 mil a menos que na eleição anterior.

Reeleito, ele caiu para 34° na lista de deputados mais votados em MG.

Quatro anos após declarar R$ 6.152.994 de patrimônio, em 2018, Aécio declarou R$ 1,9 milhão em 2022 – uma queda de R$ 4,2 milhões.

‘Timidez’ online

Enquanto concorrentes como Andre Janones (Avante), segundo deputado federal mais votado em Minas Gerais, chegam a ter média superior a 10 tuítes por dia, o perfil de Aécio na rede preferida por políticos segue abandonado desde 2018.

No Facebook, rede em que é mais popular, Aécio chegou a passar mais de 10 dias sem nenhuma nova publicação – mesmo no auge da campanha.

Nikolas Ferreira, o campeão de votos no Estado, publica entre 4 e 8 mensagens diárias na mesma rede.

A rede em que Aécio se manteve mais presente foi o Instagram, onde celebrou o Dia Internacional do Idoso, na véspera da votação, e costuma publicar memes com sua foto e seu número nas urnas: 4545.

Recentemente, em um vídeo, ele compartilhou com seguidores quais seriam suas três músicas favoritas: Deixa a Vida me Levar (Zeca Pagodinho), Por Você (Barão Vermelho) e Tocando em Frente (Almir Sater).

Destoando de outros candidatos, que apostam em publicar intensamente fotos com eleitores e visitas a campo, Aécio postou poucas imagens de campanha nas ruas, incluindo visitas a cidades mineiras como Contagem, São João Del-Rei, Lagoa Dourada e Francisco Sá.

No TikTok, mesmo com baixo engajamento e poucos seguidores, Aécio se arriscou a dançar e participar de desafios virais.

O último grande momento de Aécio Neves nas redes sociais foi sem querer.

Em meio ao racha que fez o PSDB ficar sem candidato à presidência pela primeira vez em sua história em 2022, Aécio virou meme ao aparecer com o rosto mudado em uma foto ao lado de Paulinho da Força e Eduardo Leite (PSDB).

Segundo a imprensa mineira, a estratégia de Aécio seria voltar gradualmente ao debate nacional até 2026, quando tentaria novamente um cargo de maior expressão: um eventual terceiro mandato em Minas ou no Senado Federal.

Para tanto, o político vai precisar reverter a trajetória de queda de votos que vem enfrentando desde 2018.

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