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America Ferrera na estreia de ‘Barbie’

  • Author, Laura García e Beatriz de la Pava
  • Role, BBC 100 Women

Após estrelar a aclamada comédia Betty, a Feia e assumir um papel importante em Barbie, o caminho da atriz America Ferrera, de 39 anos, para o sucesso tem sido “um conto de fadas”.

Ferrera é a primeira — e única — latina a ganhar um Emmy por um papel principal. Mas ela também tem plena consciência do quão excepcional é ter obtido essas conquistas.

“Embora eu tenha uma carreira incrível, cheia de oportunidades pelas quais lutei e trabalhei duro”, diz ela à BBC, “sei que a grande realidade para os latinos nesta indústria é que hoje é tão difícil quanto antes. Há 16 anos, ou mesmo 22, quando comecei.”

Os latinos são o maior grupo minoritário nos Estados Unidos, onde representam cerca de 20% da população.

Mas isso não se traduziu em representação nas telas, segundo Ferrera.

“Existem anomalias, momentos em que os latinos brilham. E é claro que tivemos esses momentos, mas sinto que todos esperávamos há muito tempo por esse momento decisivo”, afirma Ferrera, que foi selecionada como parte da lista BBC 100 Women, que reconhece 100 mulheres de todo o mundo que foram inspiradoras e influentes em 2023.

“É difícil conciliar a história quase de conto de fadas da minha jornada com o que sei ser a realidade para a grande maioria das pessoas como eu.”

Sonho americano

Nascida na Califórnia e filha de pais imigrantes hondurenhos, Ferrera diz que cresceu “acreditando no sonho americano”.

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Ferrera diz que teve dificuldade em conciliar sua herança latina com cultura americana dominante

“Desde muito cedo, meus pais me ensinaram — especificamente minha mãe — que aproveitar todas as oportunidades para estudar foi a razão pela qual eles imigraram para os EUA”, diz ela.

No entanto, navegar entre sua herança latina e a cultura dominante deixou-a confusa sobre sua identidade, explica.

Ser chamada de America também não facilitou as coisas.

“Todos presumiam que se tratava de uma homenagem patriótica aos meus pais imigrantes, mas a verdade é que, na América Latina, o nome America é muito mais comum”, diz a atriz, que tem o mesmo nome que sua mãe.

O início dela na indústria do entretenimento trouxe outros desafios.

Antes de conseguir seu primeiro papel aos 17 anos, ela diz que lhe disseram que era “muito morena, muito baixa, muito gordinha ou muito étnica” para a indústria.

Os primeros êxitos

Seu papel de destaque, interpretando Betty Suárez na comédia de sucesso Betty, a Feia, em 2006, lhe rendeu um Globo de Ouro, um prêmio do Screen Actors Guild (SAG), o sindicato dos atores dos EUA, e um Emmy, tornando-a a única mulher latina a ganhar um num papel de liderança.

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Ferrera como assistente de revista de moda na série de sucesso ‘Betty, a Feia’

“Estamos em 2023 e ainda sou a única que, acredito, mostra exatamente esse problema. Demorou tanto porque as oportunidades não existem”, diz Ferrera.

“Tive muita sorte em minha carreira por aparecer em uma época em que encontrei as mesmas poucas oportunidades que existem para uma jovem atriz latina se tornar uma protagonista… muito menos uma protagonista autoconfiante que não é representada como uma pobre imigrante criminosa ou uma latina hipersexualizada.”

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Ferrera é única latina a ganhar Emmy por papel principal

Mais sucessos profissionais vieram com a série de comédia de sucesso Superstore, que ela produziu e estrelou.

Neste ano, ela também ganhou as manchetes por seu papel no filme Barbie, dirigido por Greta Gerwig, na qual apresenta um monólogo apaixonado que tocou mulheres de todo o mundo.

Seu discurso que roubou a cena, que levou entre 30 e 50 tomadas para ficar perfeito, mostra como a personagem de Ferrera, Gloria, lida com pressões sociais.

“Sentimentos como raiva, ressentimento e retidão, ou mesmo alegria, bobagem e diversão… poder ver essas expressões (na tela) é um sentimento catártico”, diz ela.

“E para muitos de nós, muitas dessas experiências nunca vimos compartilhadas na grande mídia.”

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Monólogo que ela teve em Barbie tocou muitas mulheres ao redor do mundo

Ferrera diz que papéis como esse podem criar espaços para que mulheres, e as mulheres negras em particular, validem suas próprias experiências de vida.

“Muitas vezes temos que nos divorciar de partes de nós mesmas que não são aceitas”, diz ela.

“A verdade é que muitos de nós, comunidades sub-representadas, ainda lutamos para nos tornarmos visíveis.”

Ativismo

Aos 39 anos, Ferrera fará sua estreia na direção no próximo ano com I Am Not Your Perfect Mexican Daughter (“Não sou sua filha mexicana perfeita”, em tradução livre), uma adaptação do romance best-seller de Erika Sánchez sobre uma imigrante latina de primeira geração que vive em um bairro pobre de Chicago.

Os temas abordados no filme se aproximam do ativismo de Ferrera.

A atriz foi cofundadora da Harness, uma organização que amplifica as vozes e experiências de comunidades sub-representadas na cultura popular, especialmente em questões de justiça social.

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Ferrera, ativista há muitos anos, foi cofundadora da Harness, uma organização que trabalha em questões de justiça social e equidade.

Ferrera também é apaixonada pela participação política e usa parte do seu tempo para visitar comunidades minoritárias e incentivá-las a participar.

Às vésperas da eleição presidencial de 2020, Ferrera lançou uma série no Instagram para desmistificar o processo de votação, na qual abordou com clareza e humor questões como a repressão eleitoral para eleitores negros, pardos, femininos e jovens.

Agora ela está de olho nas eleições de 2024.

“Meu foco é manter as pessoas envolvidas no processo”, diz ela.

“Penso que um dos maiores perigos para a democracia é simplesmente o nosso desânimo, a sensação de que não fará diferença se prestarmos atenção e participarmos, quando, na verdade, esses resultados certamente afetam as nossas condições de vida.”

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Ferrera é considerada ícone para muitas jovens latinas nos EUA

Recentemente, Ferrera investiu em um time de futebol profissional exclusivamente feminino, fundado pela atriz Natalie Portman na cidade natal de Ferrera, Los Angeles, que luta para garantir salários e condições iguais para atletas femininas.

“É muito difícil mudar quando os sistemas que temos ainda estão configurados para beneficiar as pessoas que sempre estiveram em posições de poder”, diz ela.

“Temos que ver uma mudança de poder, temos que ver um verdadeiro movimento de poder”, diz ela.

De repente, ela parece animada, pronta para desafiar o status quo.

“Tenho uma proposta”, diz ela.

“Pegamos todo o dinheiro que as pessoas gastam em painéis de diversidade e usamos tudo para contratar mulheres e pessoas não brancas para fazerem coisas.”

“Realmente não é tão complicado… não se trata de caridade. Trata-se de fazer bons negócios.”