Uma série de ações foi feita para relembrar a população sobre as 105 vidas perdidas no trânsito do Recife em 2022 e alertar sobre o respeito às leis de trânsito. Além disso, a cidade está publicando o relatório anual de 2022 com dados sobre vítimas fatais e feridas. (Foto: Helia Scheppa/PCR)
Ocorrências de sinistros de trânsito são vistas como fatalidades pelas pessoas, entretanto, especialistas em segurança viária afirmam que todas as mortes no trânsito podem ser evitadas. Por isso, a Prefeitura do Recife, através da Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU), em parceria com a Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global (BIGRS), realizou ações educativas neste domingo (19) e segunda-feira (20) para sensibilizar a população sobre as vidas perdidas no trânsito e alertar sobre os riscos do desrespeito às leis de trânsito.
As atividades, que marcam o Dia Mundial Em Memória às Vítimas de Trânsito, envolveram a projeção do número de vítimas, com a frase “Mortes no trânsito podem ser evitadas. Respeite a vida”. A intervenção foi feita a partir das 18h na fachada do estacionamento do Paço Alfândega, com visibilidade em áreas como a Rua da Aurora e Cais da Alfândega. Além disso, foi feita uma intervenção urbana com carcaças de motocicletas envolvidas em sinistros graves, na segunda-feira (20), para sensibilizar os cidadãos sobre os riscos de comportamentos incorretos no trânsito.
Os dados do Relatório Anual de Segurança Viária do Recife em 2022, lançado nesta segunda-feira (20), indicam que 105 vidas foram perdidas no trânsito do Recife nesse período. As informações foram coletadas por órgãos como a CTTU, Secretaria de Saúde do Recife, Secretaria de Defesa Social e Samu Recife, integrados pelo Comitê Municipal de Acidentes de Trânsito (Compat). Os números de 2022 revelam um alerta de aumento em relação a 2021. As vítimas fatais aumentaram em 19,3% e os pedestres foram as principais, correspondendo a 42% dos casos.
Em relação a vítimas feridas, foram contabilizadas 1.806 ocorrências de sinistros, 72% delas envolvendo motocicletas, o que é um dado de alerta. Além disso, o aumento das ocorrências com feridos foi de 13% em relação a 2021. O principal alerta à sociedade continua sendo o excesso de velocidade, que é a principal causa de morte no trânsito segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Ao todo, estima-se que 50% das mortes no trânsito são por excesso de velocidade. Além disso, temos o uso incorreto do capacete e do cinto de segurança, e a ingestão de álcool ao volante.
“O grande desafio na gestão do trânsito do Recife tem sido investir em ações que resultem em promover a segurança viária. Ações com foco na educação; na fiscalização e na sinalização viária contribuem para reduzir os riscos de sinistros de trânsito e para conscientizar os condutores sobre os fatores de risco. Uma mudança de atitude dos condutores no respeito à velocidade, em não usar o celular ao dirigir e não dirigir após ingerir bebida alcoólica, por exemplo, são importantes para evitarmos lesões e mortes no trânsito. Acreditamos que essa responsabilidade é compartilhada. Por um lado, o poder público com suas ações e, por outro, os condutores com maior conscientização, assim, juntos, salvaremos vidas no trânsito”, enfatiza a presidente da CTTU, Taciana Ferreira.
“Nos unimos à Prefeitura do Recife para pedir que os cidadãos tenham respeito às leis de trânsito, especialmente ao limite de velocidade. O risco de morte de um atropelamento a 70 km/h, por exemplo, é de quase 100%. Já se for a 50 km/h, o risco cai para 80%, a 30 km/h, vai pra quase 10%. As vias da cidade devem ter limites de velocidade adequados às interações dos diversos modos de transporte e os limites estabelecidos precisam ser respeitados.”, explica o coordenador executivo da Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global no Recife, Gustavo Sales.
COMPORTAMENTO – Em análise dos dados de infrações realizada pela CTTU verificou-se que, no ano de 2022, 32% de todas as infrações de trânsito registradas na cidade foram cometidas por condutores que excederam em 20% os limites de velocidade estabelecidos nas vias. Ainda assim, esse número corresponde a 0,2% dos condutores porque, onde há fiscalização por excesso de velocidade, o índice de respeito é de 99,8%. A Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global (BIGRS) realizou uma pesquisa observacional no Recife por meio da Universidade Johns Hopkins para medir o índice de respeito à velocidade e ficou comprovado que, onde não há fiscalização eletrônica, o excesso de velocidade é cometido por 24% dos veículos. Os usuários que mais excedem a velocidade são os motociclistas, 35% das motos andam acima desse limite. No caso de veículos leves o número é 21% e, entre os pesados, 14%.
O uso correto do capacete pelos motociclistas do Recife foi de 92% no caso dos condutores e 84% entre os passageiros. Essa é uma conduta importante porque reduz em 42% o risco de morte e em 69% o risco de lesões graves na cabeça. O bombeiro civil Ítalo Abner é uma das pessoas que teve a vida salva pelo capacete, mas ainda assim, teve lesões graves por sinistro de trânsito. Ele estava na garupa de uma motocicleta em uma noite chuvosa de 2017, quando tinha apenas 31 anos. Após uma colisão com um ônibus, o bombeiro precisou amputar a perna esquerda devido à gravidade do sinistro. Ele conta que o condutor do ônibus fez uma ultrapassagem incorreta e estava em excesso de velocidade. “Vamos respeitar os limites de velocidade e a sinalização nas estradas para que possamos evitar sinistros. Hoje me encontro com a perna esquerda amputada por conta de um acidente de trânsito que um ônibus bateu na gente por conta de imprudência de um motorista, uma ultrapassagem indevida, além de problemas da rodovia com buracos. Aconteceu esse acidente e muitos outros acontecem por conta de imprudência de motoristas quanto a bebida, limites de velocidade, falta de respeito à sinalização de trânsito. Vamos ter consciência de como estamos dirigindo pra poder não acontecerem tantos sinistros”, convoca Ítalo.
AÇÕES PREVENTIVAS – As ações da CTTU têm feito os condutores do Recife mudarem de comportamento. Apesar de o grande número ainda desrespeitar o limite de velocidade máximo regulamentado na via, as pesquisas observacionais mostram um aumento do respeito de 20% onde não há fiscalização eletrônica. Esse resultado é fruto de uma série de ações voltadas para potencializar a política de segurança viária do Recife. No objetivo da mudança de comportamento, estão a fiscalização de trânsito e as campanhas de comunicação, além das ações educativas. Ao todo, em 2023, foram realizadas mais de 550 operações, com 62 mil abordagens, 10% delas resultaram em notificações. Todas, entretanto, tiveram orientações dos agentes de trânsito quanto ao respeito no trânsito para garantir a segurança viária. Já a educação para o trânsito e comunicação realizou investimento em duas campanhas de mídia de massa em 2023 e uma série de ações que resultaram em diversos públicos atingidos, como motociclistas, ciclistas, entregadores de aplicativo, motoristas de ônibus, motoristas de carros e crianças. As ações foram diversas como a operação volta às aulas, operação Piloto Seguro, eventos como o “Bora de Bike, Recife?” e ações itinerantes como “A Liga Mandou Dizer”.
Além disso, o eixo de infraestrutura viária tem trabalhado intensamente com a perspectiva de inverter a prioridade das ruas, dando mais espaço e segurança para os que são mais frágeis no trânsito. Em média, as áreas que receberam urbanismo tático tiveram uma redução de 50% dos sinistros de trânsito com vítimas. Na interseção das ruas do Hospício e Princesa Isabel, por exemplo, a redução foi de 50%. Já na Rua José de Alencar, a redução chegou a 91%. No Largo da Paz, em Afogados, a redução foi de 67%. As áreas de urbanismo tático são grandes ganhos para a cidade porque além de promover travessias e caminhadas mais seguras, adequam a velocidade do veículo motorizado, geralmente, para 30 km/h, que é o indicado em locais com grande número de pedestres.
Já no que diz respeito à malha cicloviária, o ganho foi de mais de 600% nos últimos 10 anos. No momento, a Ciclovia Agamenon e a Ciclofaixa Centro Sul estão em implantação, o que vai somar um ganho de 8,8 km de malha cicloviária. Ao todo, o Recife conta com 183 km de rotas cicláveis e mais de 1.600 vagas de paraciclos na cidade.