• Mariana Alvim
  • Da BBC News Brasil em São Paulo

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Para 98% dos entrevistados em pesquisa IPEC/Instituto Península, os professores são capazes de transformar a vida de uma pessoa

A maioria dos brasileiros, 74%, acreditam que ser professor é tão ou mais difícil do que ser médico, engenheiro ou advogado — mas apenas 25% da população considera que os docentes são tão valorizados quanto aqueles profissionais.

Este descompasso entre um enorme reconhecimento pela população da importância do professor e a percepção de que eles são pouco valorizados em suas comunidades foi revelado por uma pesquisa realizada pelo IPEC e pelo Instituto Península e divulgado na véspera do Dia do Professor, celebrado neste sábado, 15 de outubro.

A partir de uma amostra de entrevistados com características semelhantes à população brasileira, a pesquisa estimou que nada menos de 98% dos brasileiros acreditam que bons professores são capazes de transformar a vida de uma pessoa e 86% que esses profissionais estão sempre agindo no melhor interesse dos estudantes.

Mas, para a maioria dos entrevistados, 53%, os docentes não têm carinho e respeito dos colegas, alunos e famílias no ambiente escolar. Para 45% dos entrevistados, os professores são sim respeitados e cuidados no ambiente escolar.

Segundo Heloisa Morel, diretora executiva do Instituto Península, o objetivo da pesquisa foi quantificar como os professores são vistos pela sociedade brasileira, algo do qual pouco se sabia. E, para ela, alguns dos resulatdos foram surpreendentes.

“Foi uma grata surpresa saber o quanto as famílias e a sociedade de fato reconhecem a importância do professor e o quanto elas têm clareza sobre a complexidade dessa profissão”, afirmou Morel à BBC News Brasil por telefone.

“Levando em consideração alguns estudos que nós fizemos durante a pandemia, temos a percepção de que, quando a escola entrou para dentro da casa das famílias (com aulas remotas, por conta do isolamento social), isso deixou muito evidente, quase palpável para cada um dos brasileiros a real complexidade do que é ser professor.”

Para a diretora do instituto, formada em engenharia química e com uma carreira anterior na área de negócios, a mesma sociedade que entende a importância do professor considera que as condições para o trabalho dele não são favoráveis.

“O sistema educacional e as escolas não oferecem todas as melhores condições de trabalho para que o professor possa exercer o ofício dele da melhor maneira. Então não é uma questão da sociedade não enxergar o professor. É que se você olha para as condições de trabalho do professor, para o desenvolvimento profissional e o reconhecimento dele, você vê que tem algumas peças faltando nesse tabuleiro”, diz Morel.

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‘A minha percepção é que a gente ainda tem um universo importante de crianças, estudantes e pais que respeitam profundamente os professores’, diz Heloisa Morel, diretora executiva do Instituto Península

“Quando você pergunta para os professores o que significa a valorização profissional, eles falam do reconhecimento das famílias, eles falam de salário, claro, mas eles também falam de formação continuada, eles falam do ambiente escolar, eles falam de jornada de trabalho”, acrescenta, enumerando diferentes fatores que influenciam o desenvolvimento profissional e o reconhecimento dos professores.

Para Morel, a percepção majoritária de que os professores não são cuidados e respeitados por colegas, alunos e famílias não é um reflexo apenas de casos de agressões — verbais ou físicas — contra docentes.

“Os casos extremos, com toda razão, recebem muita divulgação, mas eles não representam o dia-a-dia da escola. A minha percepção é que a gente ainda tem um universo importante de crianças, estudantes e pais que respeitam profundamente os professores.”

Uma questão prática que é parte do cotidiano de boa parte dos professores brasileiros e pode explicar alguma “peça faltando” na relação entre colegas é o acúmulo de trabalho em diferentes escolas — com professores trabalhando em duas, três ou até mais escolas.

“Esse profissional tem menos tempo de planejamento das aulas, menos tempo de engajamento na comunidade escolar e de troca com colegas. Muitas vezes, o professor se sente muito solitário.”

O professor é o foco do Instituto Península, fundado em 2010 pela família de Abilio Diniz, que se propõe apoiar iniciativas que lidem com o desenvolvimento emocional, cognitivo, relacional e social desses profissionais.

A pesquisa foi realizada pelo IPEC no início de junho e contou com 2 mil participantes, entrevistados pessoalmente.