Tubarões que nadam pela costa entre a praia do Paiva, no Cabo de Santo Agostinho, até Del Chifre, em Olinda, deverão ganhar chips para auxiliar em sua identificação e monitoramento. Essa faixa costeira, na Região Metropolitana do Recife, compreende ainda as praias da capital pernambucana e de Jaboatão dos Guararapes.
Nesta quarta-feira (12), membros do Comitê de Monitoramento de Incidente com Tubarões em Pernambuco (Cemit) se reuniram para definir as novas ações estratégicas que visam prevenir incidentes com os animais e banhistas da região.
Durante a conversa, foram avaliadas medidas de curto e longo prazo, envolvendo desde reposição das placas de sinalização, até o uso da tecnologia para monitorar os tubarões.
O monitoramento desses animais usando um transmissor, no entanto, não é exatamente uma novidade. Em 2019, pesquisadores do Projeto Megamar, uma parceria entre Suape, a Fundação Apolônio Salles (Fadurpe) e a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), usaram a tecnologia para analisar o comportamento das espécies que passavam pelas áreas de risco no litoral pernambucano.
Segundo o professor da UFRPE e supervisor científico do projeto, Paulo Oliveira, enquanto o equipamento ficou ativo, foram analisados cerca de dez tubarões das espécies Tigre e Cabeça-Chata. Porém, como qualquer equipamento eletrônico, os dispositivos tinham um prazo de validade e foram, aos poucos, parando de funcionar com o passar dos anos.
“Essas marcas tem um tempo de vida útil. Tem uma durabilidade, uma vez implantados nos animais duram cerca de quatro anos, depois que passa esse tempo ela para de emitir [sinal]”, explica o especialista. Agora, os transmissores – que funcionam em conjunto com receptores de sinal instalados em paralelo à linha da praia – deverão ser recolocados nos animais e nas costas monitoradas pelo Cemit.
Como é feita a captura
Tubarão Tigre. Foto: Creative Commons/Wikipédia
Para conseguir que os tubarões carreguem o chip transmissor, os pesquisadores precisarão – literalmente – pescar os animais. Porém tudo ocorre de maneira a não machucar os bichos, usando um espinhel – aparelho de pesca que funciona de forma passiva, usando anzóis no formato de alças circulares que, ao contrário do anzol em forma de jota, não machucam os animais.
“Nós vamos sair com uma embarcação e o aparelho de pesca para pegar animais de grande porte, com um anzol circular que é menos danoso que o anzol tipo jota. Esse aparelho de pesca vai ficar na água por um tempo determinado, mas não muito longo para que ele não venha a óbito durante a captura e será recolhido poucas horas depois”, explica Oliveira, afirmando que o procedimento deverá ser feito várias vezes por dia.
Ao ser capturado, o tubarão será colocado na embarcação, medido e identificado. Enfim, passará por uma micro-cirurgia na região ventral (barriga), local em que será inserido o transmissor. Por fim, receberá os pontos e deverá retornar ao mar, em uma distância maior da costa do que quando foi recolhido.
“O animal é embarcado, tem os olhos vendados para minimizar o estresse, é colocado uma mangueira de água salgada para que ele continue respirando. O procedimento dura aproximadamente cinco, seis minutos no máximo”, detalha o professor, garantindo que a ideia é liberar o tubarão o mais afastado da costa possível, até mesmo para identificar se ele tentará se aproximar novamente.
Como funciona o equipamento
Para que o monitoramento e a análise das espécies de tubarão encontradas em praias do litoral pernambucano que já tiveram relatos de incidente entre banhistas e esses animais, será necessário o funcionamento de dois aparelhos.
O primeiro é o chip transmissor, que irá acompanhar o animal, o segundo é um receptor, um equipamento similar a uma garrafa PET. Ele possui em uma extremidade a boia e, na outra, um cabo com uma âncora, para ficar firme embaixo d’água.
“A cada três segundos ele emite um sinal, caso ele [o tubarão] esteja a 500, até 700 metros de raio do equipamento, o dispositivo vai captar e guardar a informação”, conta Paulo Oliveira. As informações ficam armazenadas no receptor que, de tempos em tempos, é recolhido pelos especialistas do projeto Megamar para análise dos dados de comportamento.
Ao todo, serão instalados 30 receptores, sendo 20 a serem implantados na região de Suape e dez na área dos incidentes com os tubarões, ao longo da costa, entre as praias do Paiva, no Cabo de Santo Agostinho e Del Chifre, em Olinda. Eles são instalados em locais com certo grau de profundidade, entre oito e dez metros, não tão próximos à orla.
Reunião do Cemit para definir ações de prevenção a ataques de tubarões. Foto: Divulgação
“Não existem ex-praias em que aconteceram incidentes com tubarões”
Apesar de todo o investimento, o especialista também aponta para o fato de que, ações de monitoramento não são medidas criadas para que as praias voltem a ficar aptas para os banhistas.
“Não existem ex-praias em que aconteceram incidentes com tubarões. Uma vez que acontece, essa praia já é marcada como um local em que pode haver um incidente. A praia, o mar, estão aí com um bem de todos. Estamos procurando uma maneira de uma convivência harmoniosa entre animais marinhos e os humanos”, afirma Oliveira.
Segundo ele, as ações vão auxiliar na educação da população para ajudar a conviver melhor com o meio ambiente marinho. “Entender mais esses animais é necessário para avaliar o que está acontecendo e passar para a população em forma de educação ambiental”, finaliza.
Outras ações
Além dos transmissores, o Cemit também definiu, para esta primeira etapa, a recolocação das placas de área de risco, atividades de educação ambiental, assim como sinalização na orla com bandeirolas nos dias e horários em que as condições de maré estiverem menos propícias ao banho – como nos momentos de maré alta e nos dias de chuva.
Segundo nota, foi discutida também a necessidade de um Estudo de Viabilidade dos Repelentes de Tubarões, equipamento a ser usado pelos guarda-vidas do Corpo de Bombeiros, em situações de resgate.
A respeito do monitoramento das áreas em que houve incidentes entre banhistas e tubarões, a previsão é de aumentar o patrulhamento aéreo e marítimo para alertar pessoas que ainda insistem em tomar banho de mar nos trechos e nas condições mais delicadas.
Outra sugestão foi que os municípios em que ficam as praias monitoradas analisem a instalação de mais chuveirões e banheiros na orla, de acordo com sua capacidade de saneamento. para evitar que as pessoas entrem no mar apenas para se refrescar ou para “ir ao banheiro”.
O monitoramento dos tubarões faz parte de uma segunda etapa, prevista para ser finalizada até setembro – quando começa a alta temporada de praias no Estado. As ações estão sob responsabilidade da Secretaria de Meio Ambiente, Sustentabilidade e Fernando de Noronha de Pernambuco (Semas-PE).
O valor deste investimento foi anunciado no último mês pelo Governo do Estado e será de R$ 1,5 milhão, via Porto de Suape, para ampliação do Projeto Megamar.
Essa pesquisa inclui a observação da megafauna marinha na área dos incidentes com tubarões e, numa segunda etapa, a implantação de transmissores e receptores nos tubarões que serão monitorados por pesquisadores do projeto.
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