Crédito, NOAA

Legenda da foto, Imagem atualizada de 19 de agosto mostra como fumaça tem se espalhado

A situação do céu tem sido assunto em diferentes cidades brasileiras nos últimos dias.

Mas seja em Porto Alegre, a capital mais ao sul do país, ou em Manaus, no norte, a causa do fenômeno é a mesma: queimadas em regiões da Amazônia ou do Pantanal no Brasil e em países vizinhos.

No último dia 13 de agosto, a FioCruz Amazônia chegou a recomendar o uso de máscaras com sistema de filtragem especial (N95 ou PFF2) no “período crítico de exposição à fumaça” em Manaus.

“O que mais preocupa este ano em relação aos anteriores é que não se sabe, ao certo, se o que está acontecendo é simplesmente uma antecipação do período crítico ou se, realmente, este ano, teremos um período mais longo de exposição à fumaça tóxica, já que o pico da poluição em 2023 foi em outubro. Seria algo inusitado e extremamente preocupante, pois estenderia o sofrimento da população e traria consequências muito piores”, disse o epidemiologista Jesem Orellana, da FioCruz, no anúncio da recomendação.

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Céu de Manaus ficou encoberto pela fumaça nos últimos dias

Desde o início de agosto, Porto Velho, em Rondônia, também vem apresentando uma das piores qualidade do ar do país, segundo uma medição da IQAir, empresa suíça que mede os níveis de poluição do mundo. O aeroporto da cidade chegou a fechar devido à falta de visibilidade.

O Estado de Rondônia, como outros da região Norte, vive um período de seca extrema.

A prefeitura de Santa Cruz de La Sierra, maior cidade da Bolívia, alertou a população que, devido aos incêndios florestais, a qualidade do ar na cidade era “não saudável”.

Mais recentemente, desde o fim de semana, cidades como Porto Alegre também têm sentido os efeitos causados pela fumaça das queimadas.

Imagens de Satélite disponibilizadas por instituições como a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos EUA (NOAA) ou a Agência Espacial Americana (Nasa) mostram essa poluição avançando, se espalhando desde o Norte do Brasil e da Bolívia para regiões do Paraguai, Argentina, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e, Rio Grande do Sul

O mapa do NOAA (mais acima) mostra claramente em vermelho a concentração de aerossóis (AOD), que são partículas na atmosfera, como poeira, fumaça e poluição, que podem bloquear a luz solar.

Segundo o MetSul, empresa de meteorologia baseada no Rio Grande do Sul, “a fumaça se origina das queimadas na região amazônica, no Pantanal e em países vizinhos, sendo que a maior parte vem de incêndios na Bolívia e no sul da Amazônia brasileira”.

A fumaça deixou o céu acinzentado em cidades do Rio Grande do Sul, com o sol avermelhado e alaranjado.

Crédito, NOAA

Legenda da foto, Imagem de 15 de agosto da NOAA já mostrava fumaça se espalhando

‘Rio atmosférico de fumaça’

De acordo Estael Sias, meteorologista da MetSul, a fumaça tem se espalhado para lugares distantes por meio do fenômeno chamado de “rio atmosférico de fumaça”.

É um paralelo ao que ficou conhecido como “rios voadores“, que são enormes corredores de umidade atmosférica que vão da região amazônica até o centro-sul do país.

Esse “rio voador” carrega parte da água que evapora no norte para outras partes do território nacional, causando as chuvas torrenciais de verão, por exemplo.

Crédito, NASA MODIS Terra

Legenda da foto, Imagem de 16 de agosto do satélite NASA MODIS mostra a nuvem de fumaça vinda da Amazônia e alcançando o sul do Brasil. Pontos vermelhos mostram incêndios ativos

Nesse momento de seca, sem umidade, o que está sendo carregado pelos ventos que vem do Norte para o Sul é a fumaça.

“Este ano, especialmente, temos enfrentado muitos meses de escassez de chuva, o que favoreceu as queimadas e resultou em muita fumaça na atmosfera. Com o vento e a falta de chuva, acaba chegando toda essa camada de fumaça”, explica Sias.

A meteorologista explica que o fenômeno não é tão incomum, justamente porque há esse corredor (formalmente chamado de “jatos de baixos níveis”), conectando as duas regiões do Brasil.

Sias também explica que a situação em cidades como Manaus ou Porto Velho, mais perto dos focos de queimadas, é mais preocupante do que em Porto Alegre, a milhares que quilômetros de distância.

“Se imaginarmos essas partículas sendo transportadas na atmosfera sem barreiras físicas, parte se dispersa pelo caminho, encontrando diferentes condições de temperatura e umidade, então não chegam integralmente.”

“O céu está cinzento há dias aqui na Grande Porto Alegre, mas não se vê um prejuízo na visibilidade das rodovias tão forte quanto em outras regiões.”

Crédito, NOAA

Legenda da foto, Imagem de satélite do NOAA em 19 de agosto mostra fumaça na América do Sul

Sol alaranjado

Em cidades que estão recebendo essa fumaça, é comum ver um pôr do sol mais alaranjado ou avermelhado.

“Devido à refração dos raios solares ao encontrarem essas minúsculas partículas na atmosfera que a gente não enxerga, como a fuligem gerada pela fumaça ou poluentes que se acumulam na atmosfera devido à ausência de chuva e vento”, explica Estael Sias.

Isso também pode ser percebido no tom da lua – mais alaranjado. Nesta segunda-feira, isso ficará bastante visível na chamada “superlua azul“.

Quando melhora?

Crédito, NASA

Legenda da foto, Fumaças na Amazônia captadas pelo satélite Aqua da Nasa em 4 de agosto.

Entre quinta (22/8) e sexta-feira (23/8), a previsão é de que uma frente fria avance a partir do Sul do Brasil, trazendo chuvas e temporais, passando pelo Paraguai, sul de Mato Grosso do Sul e São Paulo.

De sexta para sábado (24/8), também deve chegar ao Brasil uma massa de ar polar, com vento gelado e seco, alcançando o Sudeste e o Centro-Oeste, de acordo com o MetSul.

“Tudo isso deve provocar queda de temperatura e ajudar a limpar a atmosfera. A melhora ocorrerá primeiro no Sul e, em seguida, em parte do Centro-Oeste e Sudeste”, diz Estael Sias.

Mas a camada densa de fumaça deve persistir na região Norte, além de Mato Grosso e Bolívia.