- Giulia Granchi
- Da BBC News Brasil em São Paulo
O jogador de futebol americano Damar Hamlin está em estado crítico após sofrer uma parada cardíaca durante um jogo da NFL (Liga Nacional de Futebol dos Estados Unidos) na última segunda-feira (2/1).
O atleta de 24 anos, parte da defesa da equipe do Buffalo Bills, caiu no chão após colidir com um adversário do Cincinnati Bengals. Ele chegou a se levantar, e na sequência, sofreu o que aparentava ser um desmaio.
Sua equipe, o Buffalo Bills, confirmou em um comunicado que o atleta sofreu uma parada cardíaca, mas que os batimentos do coração foram restabelecidos em campo.
Hamlin recebeu atendimento médico por mais de 30 minutos antes de ser levado a um hospital de Cincinnati, cidade onde ocorreu a partida.
Enquanto os profissionais de saúde tentavam reanimar Hamlin, seus companheiros de equipe choravam e rezavam, o que deu ao público uma noção da gravidade do quadro.
A NFL cancelou o jogo da noite cerca de uma hora após o incidente.
De acordo com um estudo de 2016, há anualmente entre 100 e 150 mortes após uma parada cardíaca em competições esportivas nos Estados Unidos.
Hamlin permanecia em estado grave nesta terça (3/1) — não foram divulgados detalhes sobre sua condição.
Morte súbita abortada
O atleta do Buffalo Bills teve, após ser reanimado em campo, o que especialistas chamam de “morte súbita abortada”.
A morte súbita, também chamada pelo termo leigo “mal súbito”, acontece quando o coração para de bater de forma repentina.
Segundo uma pesquisa do Incor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas de São Paulo), em 90% dos casos a arritmia cardíaca (alteração do ritmo dos batimentos do coração) é a responsável pela morte súbita.
Entre jovens, esse distúrbio do ritmo cardíaco que pode levar à parada pode ocorrer por conta da liberação de adrenalina durante a prática de atividade física associada a anomalias no coração ou ao uso indevido de drogas ilegais que danificam o funcionamento do coração — não foi divulgada nenhuma informação relacionada a Hamlin sobre esses casos.
É importante ressaltar, aponta Fátima Cintra, cardiologista da SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia) especialista em arritmias, que a prática de esportes por si só não aumenta o risco de morte súbita.
“São pessoas com alguma condição prévia que têm o risco aumentado. Em caso de atletas que vão jogar em nível competitivo, é importante ter os exames em dia para detectar qualquer fator que possa contribuir para problemas cardíacos.”
Cintra cita que outra possível causa do quadro em atletas é chamada de “commotio cordis“, que significa, em latim, “agitação do coração”.
“É uma causa secundária de arritmia cardíaca grave, chamada de fibrilação ventricular, que acontece após um trauma direto na região anterior do tórax.”
“Pela imagem do trauma e também pelo atleta continuar em estado grave, embora não tenhamos detalhes médicos do caso, não podemos descartar a hipótese de que a parada cardíaca foi causada pelo contato”, complementa Pedro Farsky, cardiologista e doutor pela Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo).
Segundo o especialista, entre as principais causas de morte súbita para adultos com mais de 35 anos estão doença arterial coronária (causada pelo acúmulo de gordura nas artérias), doença isquêmica do coração (quando uma parte do coração não recebe sangue suficiente para bombear de maneira adequada), miocardiopatia hipertrófica (hipertrofia do coração) e miocardites (inflamação do músculo do coração).
Cada minuto é crucial
A morte cerebral inicia-se após alguns minutos da parada cardíaca, e o atendimento imediato é essencial para manter a pessoa viva e preservar suas funções normais.
Na maioria das vítimas, o quadro pode ser revertido em poucos minutos por meio de um desfibrilador que emite choque elétrico a fim de restabelecer o ritmo do coração.
“Além de ser essencial ter os equipamentos certos em um caso como esse, é necessário ter profissionais que saibam usá-los corretamente, porque cada minuto é crucial para salvar o paciente”, indica Cintra.
Quem já teve o quadro e sobreviveu deve ser monitorado de perto nos primeiros dias após o episódio e seguir com acompanhamento médico ao longo da vida.
“A prioridade é identificar e reverter a causa. Em casos de arritmia, podemos colocar um desfibrilador automático, do tamanho de um marca-passo, internamente, no coração do paciente. O aparelho serve para identificar a arritmia e iniciar um choque automático”, diz Farsky.
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