• Jessica Bradley
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O café pode não ser um perdedor óbvio na corrida por uma alimentação mais saudável, especialmente porque tem sido associado a um risco menor de certas doenças, incluindo as cardíacas e alguns tipos de câncer.

Mas à medida que nos tornamos mais conscientes da relação entre dieta e saúde, a cafeína é frequentemente apontada como culpada por problemas de ansiedade e no sono.

Como resultado, as empresas de café têm observado um interesse cada vez maior no tipo descafeinado por parte daqueles que amam o sabor ou o ritual de tomar uma boa xícara de café.

Os clientes da Decadent Decaf Coffee Co, no Reino Unido, optam pelo descafeinado por motivos de saúde, diz a cofundadora Laura Smith. E, segundo ela, sua reputação — outrora ruim — vem melhorando.

Mas nos últimos anos, tem havido um aumento na oferta de bebidas descafeinadas alternativas ao café que afirmam oferecer um estímulo mais “natural” de energia sem nos deixar agitados, usando ingredientes como ervas medicinais antigas e os chamados “superalimentos”.

Em algumas cafeterias hoje, além dos lattes (bebida com leite) de café tradicionais, você encontra lattes de beterraba, cúrcuma e maca. Ginseng e moringa são alguns outros ingredientes que estão sendo comercializados como alternativas saudáveis ​​ao café que também oferecem um estímulo energético.

Muitos destes ingredientes contêm compostos bioativos vegetais que, quando consumidos, podem influenciar nossa saúde. Mas será que trocar o café descafeinado por uma alternativa ao café realmente aumenta sua energia e melhora sua saúde?

Uma das alternativas sem cafeína mais onipresentes ao café é a maca, preparada a partir da raiz de mesmo nome, que geralmente é adicionada em pó ao leite.

Mas a maca não oferecerá a você um estímulo energético semelhante ao café, afirma Michael Heinrich, professor de etnofarmacologia e farmacognosia do University College London (UCL), no Reino Unido.

“A maca não é um estimulante como o café”, diz. “Não aumenta a atenção.”

E tampouco se pode esperar que um latte de maca seja mais saudável que o de café, segundo ele.

Em um artigo de 2017, Heinrich argumenta que, depois de a maca ser usada como alimento e remédio pelo povo andino por mais de 2 mil anos no Peru, o conhecimento local sobre os benefícios desta raiz para a saúde foi “tirado de contexto para atender às demandas de um mercado em expansão para remédios à base de plantas”.

“Os benefícios para a saúde da maca não foram bem estudados e nem todos os estudos são tão sólidos e confiáveis ​​quanto deveriam ser”, observa.

O ginseng, outra planta tradicionalmente usada como remédio, também se tornou um ingrediente popular para os substitutos do café.

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O ginseng é um ingrediente popular nos lattes alternativos ao café

Mas embora Heinrich diga que o ginseng tampouco oferece um estímulo energético comparável ao café, “algumas pesquisas sugerem que pode ter efeitos preventivos, especialmente no caso de doenças infecciosas, e, como outros afirmam, também na prevenção de alguns tipos de câncer”.

Da mesma forma, alguns estudos mostram benefícios para a saúde ligados à cúrcuma. Mas você não verá nenhum destes benefícios ao tomar um latte de cúrcuma, afirma Charlotte Mills, professora de ciências nutricionais da Universidade de Reading, no Reino Unido.

“Você só pode digerir a cúrcuma até certo ponto, então, para obter os efeitos mostrados em algumas pesquisas, a dose que você precisaria é incrivelmente alta. Não tenho certeza se você conseguiria isso por meio de uma alternativa ao café”, diz ela.

“Estamos pesquisando o café há muito tempo”, observa Gunter Kuhnle, professor de ciências alimentares e nutricionais da Universidade de Reading.

“Sabemos como a cafeína age. A cúrcuma é usada como tempero e corante em pequenas quantidades, mas em grandes quantidades em bebidas não sabemos.”

Kuhnle concorda e diz que é mais provável que você observe efeitos adversos se consumir uma quantidade grande o suficiente de cúrcuma.

“Não foram realizadas pesquisas sobre a toxicidade potencial de tomar grandes quantidades de cúrcuma ou outros bioativos vegetais, o que é preocupante”, diz ele.

Mas há algumas pesquisas sugerindo que consumir cúrcuma durante a gravidez, amamentação ou com medicamentos específicos, como insulina, pode oferecer certos riscos à saúde.

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É pouco provável que os benefícios para a saúde da cúrcuma sejam encontrados nas quantidades adicionadas ao latte, dizem os especialistas

E se um latte de cúrcuma faz você se sentir mais acordado, isso provavelmente se deve a outra propriedade, sugere Kirsten Brandt, professora do Instituto de Ciências da Saúde da População da Universidade de Newcastle, no Reino Unido.

“É impossível dizer porque não foi devidamente investigado, mas parece que há poucas evidências de que a cúrcuma oferece um estímulo energético. Pode fazer você se sentir bem porque é isso que você espera; a cúrcuma tem um forte efeito placebo por causa de sua cor e sabor fortes.”

Outro ingrediente alternativo ao café é a moringa, planta nativa da Índia, que também é misturada em pó com leite.

“A moringa é rica em proteínas e fibras, vitaminas e minerais, e possui uma ampla variedade de fitoquímicos bioativos, alguns dos quais têm sido associados a ajudar a prevenir diabetes tipo 2 e doenças cardíacas”, diz Wendy Russell, professora de nutrição molecular da Universidade de Aberdeen, no Reino Unido.

Mas, segundo ela, é improvável que um latte de moringa ofereça qualquer um destes benefícios.

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A quantidade de moringa nos lattes também costuma ser pequena

“A moringa tem um gosto horrível”, diz Russell.

“Provavelmente uma bebida não teria quantidade suficiente da planta para torná-la benéfica. A quantidade de moringa nestas bebidas será realmente muito pequena.”

“Vi sua popularidade e as vendas de bebidas de moringa aumentarem drasticamente, mas estou preocupada que as pessoas estejam sendo enganadas, sendo levadas a pensar que faz bem para elas”, afirma.

Uma bebida padrão de moringa tampouco dará a você aquele gás do café, acrescenta Russell.

“A cafeína é um composto muito importante para propiciar estímulo energético”, diz ela.

Mas buscar este estímulo do café em alternativas sem cafeína pode ser uma missão infrutífera de qualquer maneira.

Alguns cientistas acreditam que o café apenas resolve os sintomas de abstinência do último café que você tomou, em vez de melhorar seu desempenho, diz Brandt.

Na ausência de qualquer aumento de energia comprovado entre qualquer alternativa sem cafeína, os pesquisadores se perguntam por que as pessoas que querem renunciar à cafeína não optam simplesmente por tomar um café descafeinado normal.

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Muitos dos compostos da cúrcuma e da moringa são polifenóis, que também são encontrados em grandes quantidades no café

Muitos dos compostos da cúrcuma e da moringa são polifenóis — micronutrientes encontrados nas plantas —, aos quais frequentemente se atribui muitos dos benefícios à saúde encontrados nestas bebidas, diz Mills. Mas também são encontrados em grandes quantidades no café.

“Muitos dos benefícios para a saúde do café são ignorados, mas ele é cheio de compostos bioativos. Há muito mais no café do que só cafeína.”

Tradicionalmente, as alternativas sem cafeína eram consumidas porque eram mais baratas que o café. As pessoas costumavam adicionar, por exemplo, chicória ao café para que durasse mais, conta Kuhnle.

“Livros de culinária antigos tendem a sugerir muitas maneiras de fazer o café durar mais, muitas vezes usando ingredientes caseiros, porque os grãos de café eram caros”, acrescenta.

Como os tempos mudaram. Hoje, um latte de beterraba ou cúrcuma de uma cafeteria provavelmente custará tanto quanto um café.

Mas, de acordo com Mills, a razão pela qual as pessoas podem dar as costas para o café pode ser a confusão sobre se faz bem ou não à saúde.

“O café é um assunto bem complexo. Esta confusão pode estar direcionando as pessoas para coisas que são mais unidimensionais, como os chamados ‘superalimentos’, por exemplo, que são mais fáceis para as pessoas abraçarem sem entender os detalhes.”

Mas acontece que não há uma resposta simples. Os lattes de cúrcuma, maca e moringa contêm doses muito pequenas destes ingredientes para que tenham efeitos benéficos à saúde — e podem causar efeitos colaterais adversos que ainda não conhecemos.

“Precisam ser feitas muito mais pesquisas sobre estas coisas antes de tomá-las como bebidas saudáveis”, conclui Mills.

“Se você quer um café sem cafeína, sugiro um café descafeinado.”

Kuhnle concorda e diz que a área de pesquisa mais rica se concentra na cafeína.

Embora possa não ser tão inovador ou tão colorido quanto a beterraba ou a cúrcuma, um bom café descafeinado à moda antiga pode ser a aposta mais segura por enquanto.

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