- Author, Redação*
- Role, BBC News
O presidente da Câmara, Kevin McCarthy, abriu a porta – pelo menos uma brecha – para iniciar o processo de impeachment contra o presidente Joe Biden.
Em comentários feitos durante uma entrevista à Fox News, o republicano da Califórnia disse que as investigações do Congresso sobre os possíveis laços de Biden com as transações financeiras de seu filho, Hunter Biden, estão “subindo ao nível de um inquérito de impeachment”.
O impeachment pela Câmara dos Deputados é o primeiro passo em um processo formal para remover um presidente – ou outro executivo sênior ou funcionário judicial – do cargo.
É necessária uma maioria simples de votos na Câmara para desencadear um julgamento no Senado dos EUA, onde uma maioria de dois terços é necessária para condenação e remoção do cargo.
O presidente Donald Trump sofreu impeachment duas vezes quando os democratas controlavam a Câmara – sobre a Ucrânia em 2019 e o motim do Capitólio de 6 de janeiro em 2021 – mas foi absolvido pelo Senado em ambas as ocasiões.
Por que Biden poderia sofrer impeachment?
McCarthy não mencionou acusações específicas, mas os republicanos estão conduzindo uma série de investigações.
Os comentários dele na segunda-feira vêm uma semana depois que um comitê da Câmara ouviu o testemunho de dois funcionários da Receita Federal que alegaram que o Departamento de Justiça de Biden impediu uma investigação mais completa do envolvimento do presidente nas finanças pessoais de Hunter Biden.
O filho do presidente – alvo de longa data das críticas republicanas – está sob investigação federal desde 2018.
Em junho de 2020, Hunter Biden concordou em se declarar culpado de dois crimes fiscais de contravenção e admitir a posse ilegal de uma arma enquanto era usuário de drogas, de acordo com os autos do tribunal.
O acordo de confissão não silenciou seus críticos, no entanto. Em sua rede Truth Social, o ex-presidente Donald Trump comparou a situação a “uma mera ‘multa de trânsito'” e declarou: “Nosso sistema está QUEBRADO!”
Trump e seus aliados há muito alegam que o filho de Biden, de 53 anos, é culpado de corrupção generalizada, particularmente em seus negócios estrangeiros na China e na Ucrânia.
Na quinta-feira passada, o senador republicano Chuck Grassley divulgou um documento do FBI detalhando como uma fonte de inteligência repassou alegações de que a família Biden havia recebido dois pagamentos de US$ 5 milhões (quase R$ 24 milhões) de uma empresa de energia ucraniana depois que o então vice-presidente Biden pressionou a Ucrânia a remover um alto funcionário do governo encarregado de investigar corrupção.
O presidente Biden, por sua vez, demonstrou apoio ao filho.
A Casa Branca emitiu uma breve declaração em resposta ao acordo: “O presidente e a primeira-dama amam seu filho e o apóiam enquanto ele continua a reconstruir sua vida. Não faremos mais comentários”.
Na próxima semana, um ex-sócio de Hunter Biden testemunhará a um Comitê da Câmara – prevê-se que ele dirá que Joe Biden estava mais envolvido nos negócios de seu filho do que admitiu.
Nem os investigadores do IRS, a Receita Federal dos EUA, nem o documento do FBI forneceram evidências conclusivas de conduta ilegal ou imprópria do presidente, mas os republicanos na Câmara afirmaram que as informações deveriam ser suficientes para desencadear uma investigação formal de impeachment.
Que poderes teria um inquérito de impeachment?
McCarthy, em seus comentários à Fox, continuou dizendo que o processo de impeachment daria aos republicanos da Câmara novas ferramentas poderosas para investigar acusações de impropriedade financeira de Biden e “obter o restante do conhecimento e das informações necessárias”.
Ele passou a traçar paralelos com Richard Nixon, que foi alvo de uma investigação do Congresso em 1974, mas renunciou antes de sofrer um impeachment formal.
“Estamos vendo este governo usar a máquina de forma muito parecida com Richard Nixon, negando-nos a obter as informações de que precisamos”, disse ele.
No passado, o presidente da Câmara relutava em endossar os apelos de alguns republicanos da Câmara para iniciar o processo de impeachment, dizendo que era muito cedo para isso.
E em uma reunião a portas fechadas com os republicanos da Câmara na quarta-feira, McCarthy supostamente moderou seus comentários anteriores, dizendo que seu partido só lançaria uma investigação formal quando tivesse provas suficientes para isso em mãos.
Biden poderia ser afastado do cargo?
A chance de sucesso de um impeachment na Câmara é muito duvidosa.
Os republicanos têm uma maioria estreita na Câmara e alguns centristas do partido, que terão pela frente disputas desafiadoras pela reeleição em novembro de 2024, expressaram desconforto em avançar com um processo que apenas inflamará as divisões políticas nos Estados Unidos.
A equipe de Biden foi rápida em reagir aos comentários de McCarthy.
“Em vez de focar nas questões reais que os americanos querem que abordemos, como continuar a reduzir a inflação ou criar empregos, é isso que o Partido Republicano quer priorizar”, escreveu o porta-voz da Casa Branca, Ian Sams, em comunicado nas redes sociais. “Sua ânsia de ir atrás [do Sr. Biden] independentemente da verdade é aparentemente sem limites.”
Apenas três presidentes dos EUA sofreram impeachment – Andrew Johnson em 1868, Bill Clinton em 1998 e Donald Trump duas vezes. Nenhum foi condenado pelo Senado.
Atualmente, os democratas têm uma maioria de 51 a 49 no Senado, praticamente garantindo que qualquer encaminhamento de impeachment de Biden da Câmara tenha um destino semelhante.
*Com reportagens de Anthony Zurcher, Sam Cabral e Sarah Smith
Fonte: BBC
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