A vice-presidente do Peru, Dina Boluarte, assumiu a Presidência do país nesta quarta-feira (07/12), depois que o Congresso aprovou a destituição de Pedro Castillo do cargo.
Mais cedo, ele havia anunciado o estabelecimento de um “governo de exceção” e a dissolução do Congresso, mas não teve apoio e acabou sendo removido do cargo após uma votação dos parlamentares.
Assim, Boluarte se torna a primeira mulher na presidência do Peru. O mandato dela deve se estender até 2026, a menos que convoque eleições antecipadas.
Quando Castillo anunciou sua decisão de dissolver o Congresso, Boluarte demarcou distância dele e descreveu o ato como “inconstitucional”.
“Rejeito a decisão de Pedro Castillo de levar à frente a quebra da ordem constitucional com o fechamento do Congresso. É um golpe de Estado que agrava a crise política e institucional que a sociedade peruana terá que superar com o estrito cumprimento da lei”, escreveu Boluarte em suas redes sociais.
Pouco depois de Castillo ser deposto e preso, Boluarte foi empossada como presidente perante o Congresso peruano.
Em sua primeira mensagem à nação, a presidente novamente rejeitou o que chamou de “tentativa de golpe” de Castillo, afirmando que o ato “não encontrou eco nas instituições democráticas e nas ruas”.
“Peço uma trégua política para instalar um governo de unidade nacional. Esta grande responsabilidade deve ser assumida por todos”, escreveu na mensagem.
“Cabe a nós conversar, dialogar, chegar a um acordo, algo tão simples quanto inviável nos últimos meses. Por isso, convoco um amplo processo de diálogo entre todas as forças políticas representadas ou não no Congresso.”
Boluarte anunciou que a sua primeira medida é fortalecer o combate à corrupção nas instituições do Estado, para o que pediu o apoio do Ministério Público Federal para “enfrentar sem meias medidas as instituições corruptas”.
Experiência política
Dina Boluarte nasceu em Apurímac no ano de 1962, e hoje tem 60 anos. Em meados de 2021, a chapa dela e de Castillo pelo partido Peru Libre venceu as eleições em segundo turno.
Advogada de profissão, Boluarte fez mestrado em Direito Notarial e Registral na Universidade San Martín de Porres. Desde 2007, ela trabalhou como funcionária do órgão Registro Nacional de Identificação e Estado Civil (Reniec) e já foi diretora assistente da Ordem dos Advogados de Lima.
Nas eleições municipais de 2018, Boluarte foi candidata a prefeita de Surquillo pelo partido Peru Libertário, mas teve apenas 2.040 votos e ficou em nono lugar.
Além da vice-presidência, durante o breve governo de Pedro Castillo, Boluarte também ocupou o cargo de ministra do Desenvolvimento e Inclusão Social.
Momento histórico
A ascensão de Dina Boluarte como a primeira mulher presidente do Peru é, na opinião do cientista político Gonzalo Banda, um marco histórico para o país — mas infelizmente ocorre em um momento traumático.
“Não é um momento muito feliz para este importante evento acontecer. Deveria ter ocorrido em um período menos traumático”, avalia.
Para o analista, Boluarte tem credenciais para assumir o cargo, apesar de não ter muita experiência política.
“Boluarte assumiu o cargo de ministra por mais de um ano, um cargo de alto risco porque não se costuma durar muito nele. Esse tempo permitiu que ela aprendesse como se faz política no Peru. Além disso, ela tem liderança maior que Castillo e mais capacidades políticas”.
No entanto, Banda alerta que a nova presidente não terá vida fácil se não conseguir o apoio dos partidos que têm maioria no Congresso.
“Temos um parlamento com maioria na oposição ao partido Peru Libre. Ela precisa dos votos dos congressistas dos quais se distanciou e do resto das forças para conseguir algum progresso.”
O cientista político não acredita que a ampla crise política peruana termine com a chegada da nova presidente, porque podem surgir investigações e questionamentos por ela ter feito parte do governo Castillo.
No entanto, o analista afirma que Boluarte na Presidência pode representar uma trégua, caso ela consiga formar um gabinete plural.
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