- Nathalia Passarinho e Andre Biernath
- Enviados da BBC News Brasil a Sharm El-Sheikh (Egito)
Ela tem cerca de um metro e meio, anda quase sempre de rabo de cavalo e mochila rosa. Quando se aproxima de líderes e ministros na COP27, eles não desconfiam que estão prestes a ficar em saia justa. Licypriya Kangujam tem 11 anos e é uma ativista ambiental indiana.
É convidada de honra em painéis importantes na conferência sobre mudanças climáticas nas Nações Unidas, em Sharm El-Sheikh, no Egito. E, nas redes sociais, tem mais de 160 mil seguidores. Mas ficou particularmente conhecida por questionar duramente lideranças internacionais, principalmente de países ricos, nos corredores da cúpula do clima.
Na segunda-feira (14/11), Kangujam confrontou o ministro de Energia e Mudanças Climáticas do Reino Unido, Zac Goldsmith, que aparece em imagens gravadas pela mãe da ativista aparentemente tentando fugir da menina.
No vídeo, que viralizou nas redes sociais, a menina aborda Goldsmith, que pergunta a idade dela. Ela responde 11 anos e ele repete a idade e sorri com incredulidade. Depois, Kangujam pergunta ao ministro o que ele fará sobre a detenção de ativistas ambientais no Reino Unido.
“Quando o senhor vai soltar os ativistas climáticos que protestavam contra investimentos em petróleo no Reino Unido?”, perguntou.
No mês passado, pelo menos 28 ativistas foram detidos pela polícia britânica em protestos contra novas concessões na área de petróleo e gás, e por ações mais concretas no combate às mudanças climáticas. Entre eles, estavam duas jovens de cerca de 20 anos que atiraram sopa num quadro de Vincent van Gogh, na London National Gallery, em Londres.
A sopa não afetou a pintura, mas causou “pequenos danos à moldura”, segundo a galeria. As duas jovens forem detidas e autuadas por “depredação criminosa”, antes de serem liberadas.
“Eu falei à sua excelência, o honorável ministro da Energia, Clima e Meio Ambiente do Reino Unido, que eu soube que vários ativistas no Reino Unido são detidos diariamente por causa de protestos”, contou Kangujam à BBC News Brasil.
“Nós, ativistas pelo clima, nunca somos violentos. Sempre somos pacíficos. Em vez de responder à minha pergunta, ele só fugiu. Disse que não ‘tinha ideia’ do que estava falando e saiu andando. Quando ele começou a fugir, eu o segui por alguns minutos. A assessora dele tentou me empurrar duas vezes e depois tentou fechar a porta na minha cara, mas eu insisti.”
Kangujam realmente foi persistente e continuou a seguir o ministro pelos corredores da COP27, enquanto Goldsmith apertava o passo para sair do alcance da menina e a assessora tentava se colocar entre os dois.
“Eu continuei fazendo a mesma pergunta a ele. Ele, então, disse que não sabia sobre a prisão de ativistas, que ativistas não deveriam ser presos por protestar pacificamente. E falou que não podia fazer nada sobre o assunto”, relatou a ativista de 11 anos.
“Então por que ele é ministro? Se ele não pode fazer nada, por que está vindo até aqui à COP27? Essa é minha pergunta a ele.” A insistência da menina e a imagem do ministro tentando “escapar” geraram memes e debates nas redes sociais. O caso também ganhou os holofotes na imprensa internacional.
Kangujam também já cobrou resultados do enviado especial dos Estados Unidos, John Kerry, e outras lideranças internacionais. Após um painel com participação do ministro do Clima e Meio Ambiente da Noruega, Espen Barth Eide, ela defendeu que nações ricas façam mais para conter o aquecimento global.
“Sim, estou te escutando”, respondeu ele. “Não quero que você me escute, quero que você faça. É preciso agir”, respondeu a menina, para a surpresa do ministro.
Na quinta-feira, Kangujam se encontrou com o presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, durante reunião na COP27 entre o petista e representantes da sociedade civil.
Com Lula, ela foi menos rigorosa na cobrança. Abraçou o presidente brasileiro e disse que ele estava “recuperando a imagem do Brasil”.
“Na verdade, Lula traz esperança para todos nós. Nossos líderes precisam transformar liderança climática em ação climática. Acho que o presidente eleito Lula quer fazer isso. Nossos líderes precisam se inspirar nele”, disse.
Mas a ativista de 11 anos destaca que vai continuar de olho para garantir que as promessas feitas na cúpula do clima do Egito saiam do papel.
“As lideranças precisam transformar suas falas em resultados. Não valem de nada discursos bonitos em busca de aplausos se as promessas não se transformarem em ações concretas”, disse. “Não estou aqui fazendo essa cobrança por mim, mas pelos milhões de crianças pelo mundo.”
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