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Conheça o câncer de pele não melanoma, o mais presente entre homens e mulheres no Brasil

O câncer mais frequente no Brasil é o de pele do tipo não melanoma, que corresponde a cerca de 30% de todos os tumores malignos registrados no País entre homens e mulheres de acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca). A entidade estima, em seu último levantamento realizado em 2020, que 83.770 pessoas do sexo masculino e 93.170 do sexo feminino serão acometidas anualmente pela doença até o fim de 2022.

Se diagnosticado precocemente, o câncer de pele não melanoma tem grande percentual de cura e de menor mortalidade. Em 2017, o Brasil registrou 1.301 mortes por esse tipo de câncer em homens e 949 óbitos pela doença em mulheres segundo o Inca.

A doença atinge, na maioria dos casos, pessoas de cor de pele clara – por produzirem pouca melanina -, albinos e profissionais que ficam expostos ao sol e, consequentemente, aos raios ultravioletas, por longos períodos.

Descamações e feridas que não cicatrizam são alguns dos sinais da doença, que possui maior incidência nas regiões Sul e Centro-Oeste do Brasil.

A médica dermatologista do Hospital de Câncer de Pernambuco (HCP) e professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Mecciene Mendes Rodrigues informou as principais caracteristicas da doença e informou, ainda, a diferença entre o câncer de pele melanoma e o não melonoma.

Segundo a especialista, o câncer de pele não melanoma, mais acometido no país, se caracteriza por lesões que não cicatrizam. São úlceras em pele fotoexpostas que sangram com facilidade, aparecendo mais frequentemente no rosto, no colo e no dorso das mãos, áreas que sofrem maior exposição solar e radiação ultravioleta. 

Já o câncer de pele melanoma se caracteriza por novas lesões ou manchas escuras, marrons ou pretas, com semelhanças de uma pinta, e que crescem rapidamente. Também pode ser desenvolvido por predisposição genética, atingindo pessoas de qualquer cor de pele. Em mulheres, os sinais surgem com mais frequência nas pernas. Já nos homens, é mais comum no tronco.

“O não melanoma são lesões ulceradas em pele fotoexposta. A exposição ao sol é o maior fator de risco. Está associado também à cor de pele, pele branca tem maior risco do que a cor de pele marrom e preta”, afirmou Mecciene.

A especialista também informou que moradores de localidades mais próximas da linha do Equador; de países tropicais, onde a incidência de luz solar é maior; e profissionais que ficam expostos por longos períodos à luz solar, sem a devida proteção, a exemplo de pescadores, agricultores, ambulantes e motoboys, possuem um risco elevado de desenvolver o câncer de pele não melonoma.

“Os agricultores são realmente os mais afetados aqui no Nordeste, talvez no país inteiro. Essas pessoas ficam expostas ao sol por mais de quatro horas diárias. A radiação ultravioleta altera o DNA da célula. Então, ela imunossuprime também. Essa célula com o DNA danificado sofre alteração e não obedece aos comandos do organismo. É quando começa a formação do câncer de pele”.   

“O melanoma é mais preocupante porque tem um crescimento mais rápido, mas, para todos os tipos de câncer de pele, há cirurgia e há chances de cura. Obviamente que, como para todo câncer, isso vai depender do tempo levado até se procurar o atendimento. Então, para todos eles, é importante o diagnóstico precoce e que a pessoa conheça seu próprio corpo, sua pele, seus sinais”, alertou Mecciene Mendes.

A médica disse também que, ao suspeitar de um possível câncer de pele, o paciente deve procurar uma unidade de saúde o mais breve possível. O médico clínico poderá verificar se trata de uma lesão benigna ou não.

“Suspeitando clinicamente, ele vai encaminhar para um dermatologista. Esse dermatologista, quando suspeita e realmente fecha o diagnóstico, já encaminha para os grandes hospitais, que realizam triagem e o exame de dermatoscopia (que permite visualizar algumas camadas da pele não vistas a olho nu) e encaminham o paciente para cirurgia. O tratamento é sempre cirúrgico”, informou a especialista, destacando que, após a retirada do câncer, é verificada a necessidade de o paciente fazer o uso de quimioterapia ou radioterapia.

Médica dermatologista do Hospital de Câncer de Pernambuco (HCP) e professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Mecciene Mendes Rodrigues. Foto: Cortesia

Ainda de acordo com a médica, o câncer não melanoma surge com mais frequência a partir dos 40 anos, pelo efeito acumulativo da radiação ultravioleta na população. Já o melanoma pode surgir em crianças a partir dos dois anos e em adultos depois dos 40 anos.

“À pessoa com albinismo, a gente orienta a não levar sol de forma alguma. O paciente passa a ter uma vida mais noturna mesmo. São pacientes de risco, e a gente já sabe que estão marcados para ter câncer de pele porque é uma condição genética”, afirmou Mecciene.

Atenção aos sinais e a regra do A, B, C, D, E


A regra A, B, C, D, E é usada por profissionais médicos para avaliar a morfologia dos sinais que aparecem na pele a partir da primeira letra das características observadas, de acordo com a médica dermatologista Mecciene Mendes Rodrigues.

O câncer melanoma, por exemplo, pode ser identificado após a observação do crescimento e aumento rápido do tamanho, além da mudança do formato e assimetria.

“A” refere-se à Assimetria: Para verificar a simetria de um sinal, pode-se traçar uma cruz passando no meio do sinal e constatar que as quatro partes são parecidas. Se forem diferentes, eles são assimétricos.

“B” refere-se à Borda: Presença de bordas irregulares, com prolongamentos que parecem expansões do sinal.

“C” de Cor: O paciente deve verificar se é marrom, preta, vermelha, se apresenta sangramento; a partir daí, é possível verificar se é ou não melanoma.

“D” é a Dimensão: O melanoma cresce com maior rapidez. Então, o paciente deve estar atento para o tamanho da lesão pois, quanto maior a demora do diagnóstico, maior poderá ser o câncer.

“E” de Evolução: A evolução se relaciona com todas as características. Um sinal normal, de acordo com a especialista, é simétrico, oval, marrom claro ou um pouco mais escuro. Já o melanoma cresce, muda de cor e regularidade, sangra e evolui.

“Então, qualquer evolução no sentido do tamanho, da cor, da regularidade, uma vez observada, é preciso marcar logo uma consulta”, alertou Mecciene.

Proteção é sinônimo de prevenção


O uso do filtro solar é sempre um aliado no combate ao câncer de pele. A médica dermatologista orienta que a população em geral deve usar o fator 30, no mínimo, e reaplicar o produto a cada duas horas. Mecciene orienta que protetores de fator solar 40 ou 50 devem ser usados principalmente por quem se expõe ao sol nos horários de maior incidência ultravioleta, entre as 9h, 10h e 15h.

“Nenhum filtro solar é bloqueador. A exposição é um risco de efeito acumulativo. Nesses horários (9h às 10h e 15h), predomina a radiação ultravioleta B. Ela é mais danosa do ponto de vista do câncer de pele do que a UVA, que é mais danosa às fibras elásticas e colágenas, promovendo o fotodano e fotoenvelhecimento precoce da pele. O melhor horário para exposição é antes das 9h e a partir das 15h30, 16h”, afirmou.

A especialista ressalta, ainda, que acessórios como óculos de sol, chapéus, viseiras e camisas UVs são importantes na proteção, mas que o protetor solar continua sendo insubstituível na prevenção da doença. 

“A partir da segunda, terceira lavagem, a proteção das camisa UVs já reduz muito. As pessoas têm que ter a consciência de colocar um protetor solar por baixo e que aquela roupa, depois de um determinado uso, está protegendo como outra roupa qualquer”, pontuou.

Incidência por região


A médica Mecciene Mendes informou que as áreas com maior comprometimento da camada de ozônio, como na Região Sul do Brasil, têm maior incidência de casos, isso porque a luz UV B incide mais diretamente nos horários das 9h e 15h. Na região, há ainda uma grande população branca, descendente de alemães, e que atua com agricultura.  

“A gente, às vezes, passa o dia na praia e não percebe que está se queimando. Depois que percebe que está vermelho, que se queimou. E é essa radiação que é a mais perigosa. Quando a radiação bate no solo, ela é refletida. Na água, reflete um pouco mais, assim como na areia e, principalmente, na neve. Por isso, devemos ficar alertos aos horários e à proteção por filtro solar”, reforçou Mecciene.

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