- Author, Yolande Knell
- Role, Da BBC News em Jerusalém
Cinquenta anos depois da Guerra do Yom Kippur, que começou com uma invasão surpresa de Israel por parte do Egito e da Síria, militantes palestinos lançaram um novo grande ataque no sábado (7/10).
O ato foi inesperado, e aconteceu durante um feriado judaico.
O Hamas, no entanto, planejava uma operação sofisticada e coordenada.
Na manhã de sábado (7/10), quando uma intensa sequência de mísseis foi lançada, alguns deles atingindo lugares tão distantes como Jerusalém e Tel Aviv, os combatentes palestinos entraram no sul de Israel por mar, terra e ar.
Os combatentes mantiveram cidades e postos militares israelenses sob cerco durante horas, mataram muitas pessoas e levaram um número desconhecido de civis e soldados israelenses como reféns para Gaza.
O drama se desenrolou ao vivo nas redes sociais e na imprensa.
Milhares de israelenses que tinham saído para uma rave durante a noite em campos perto de Gaza se viram rapidamente sob fogo cerrado. As imagens mostraram pessoas correndo para salvar as próprias vidas.
Depois que o parceiro foi procurá-la, Gili Yoskovich contou à BBC como ela havia se escondido dos combatentes fortemente armados no meio da mata.
“Eles andavam de árvore em árvore e atiravam para todos os lados. Vi pessoas morrendo por toda parte.”
“Eu pensei: ‘Ok, vou morrer, está tudo bem, apenas respire e feche os olhos’, porque [ouvia] tiros por toda parte. Estava muito, muito perto de mim.”
O jornal Israel HaYom citou Ella, uma residente de Be’eri, que teme pelo pai. O homem foi para um abrigo depois que as sirenes dispararam para alertar sobre o lançamento de mísseis.
“Ele me escreveu dizendo que os terroristas estavam no abrigo. Depois, vi a foto dele no Telegram dentro da Faixa de Gaza”, relatou ela.
Muitos israelenses expressaram choque pelo fato de as forças de segurança não terem agido mais rapidamente para os ajudar. Entretanto, imagens compartilhadas nos canais do Hamas mostraram que soldados em postos do Exército de Israel e um tanque foram rendidos.
Também foram várias as imagens de celebrações em Gaza, onde veículos militares israelenses capturados foram conduzidos pelas ruas.
“Estou feliz com o que o Hamas fez até agora, vingando-se das ações israelenses em al-Aqsa”, disse um jovem morador da cidade de Gaza à BBC, referindo-se ao recente aumento de visitantes judeus ao complexo em Jerusalém Oriental, anexada por Israel, durante feriados importantes.
A Mesquita de al-Aqsa é o terceiro local mais sagrado do Islã e também o lugar mais importante para os judeus, conhecido como Monte do Templo.
Ainda assim, o homem expressou medo pelo que aconteceria a seguir, após avisos de que as ações militares israelenses iriam começar.
“Estamos preocupados, a minha família já perdeu a nossa loja quando a Torre Shorouk foi atingida por Israel na guerra de 2021”, disse ele.
“A atitude que o Hamas tomou desta vez foi grande, por isso haverá uma resposta israelense ainda maior.”
Os hospitais palestinos já estão sobrecarregados pelas vítimas dos ataques aéreos israelenses, que causaram grande destruição.
A Faixa de Gaza — um pequeno enclave costeiro que alberga cerca de 2,3 milhões de palestinos — foi tomada pelo Hamas em 2007, um ano depois de o grupo ter vencido as eleições parlamentares locais.
À época, Israel e Egito reforçaram ainda mais o bloqueio ao território.
A Faixa de Gaza continua a ser uma região empobrecida, com desemprego na faixa dos 50%.
Após o grave conflito entre Israel e o Hamas em 2021, negociações indiretas mediadas por Egito, Qatar e Nações Unidas ajudaram a garantir milhares de autorizações para que os habitantes de Gaza pudessem trabalhar em Israel.
Também foram relaxadas outras restrições em troca de uma relativa tranquilidade.
No mês passado, quando centenas de palestinos começaram a se juntar aos protestos — numa recordação das manifestações em massa que começaram há cinco anos — presumia-se que esse crescimento das animosidades acontecia com o aval do Hamas e tinha como objetivo extrair mais concessões de Israel e ajuda financeira do Qatar.
Os protestos agora parecem uma pista falsa. Alguns especulam se eles foram de fato uma oportunidade de inspecionar as barreiras antes da infiltração realizada no sábado (7/10).
A partir da mais recente operação, o Hamas parece interessado em polir mais uma vez as suas credenciais como organização militante. Tudo indica que a missão do grupo continua comprometida com a destruição de Israel.
No início da ofensiva, o obscuro comandante militante do Hamas, Mohammed Deif, apelou aos palestinos e a outros árabes para se juntarem à ação que tinha como objetivo “varrer a ocupação [israelense]”.
Uma grande questão agora é se os palestinos na Cisjordânia ocupada, em Jerusalém Oriental ou em qualquer outro lugar da região atenderão ao apelo.
Israel vê, sem dúvida, potencial para uma guerra que poderá abrir-se em múltiplas frentes.
O pior cenário é o que poderia atrair para a batalha o poderoso grupo militante libanês, o Hezbollah.
Entretanto, os militares israelenses ordenaram um reforço maciço nas tropas. Para além dos intensos ataques aéreos a Gaza, as forças armadas do país indicaram que planejam uma operação terrestre no local.
A captura de soldados e civis israelitas, que os militantes palestinos esperam utilizar como escudos humanos ou moeda de troca, é uma complicação grave neste cenário.
“Atualmente estamos ocupados em recuperar o controle da região, com ataques amplos e cuidado com a área ao redor da Faixa de Gaza”, disse o porta-voz das forças israelenses, o contra-almirante Daniel Hagari.
“Faremos uma revisão muito precisa e completa.”
Embora uma revisão completa possa estar ainda um pouco distante, não há dúvidas de que o sistema de inteligência e de segurança de Israel será questionado sobre por que não previu o ataque surpresa — e como não conseguiu evitar as enormes consequências dele.
Fonte: BBC
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