- Author, Mark Savage
- Role, Correspondente de Música da BBC
- Twitter, @mrdiscopop
Seu álbum Midnights, lançado em 2022, é um exemplo. Taylor Swift o descreveu como “a história de 13 noites sem dormir espalhadas ao longo da minha vida… uma jornada através de doces sonhos e pesadelos, os caminhos que percorremos e os demônios que enfrentamos”.
Na época, Midnights marcou o retorno da artista a temas mais pessoais, depois da abordagem romântica dos dois álbuns anteriores, Evermore e Folklore.
Em postagem no Instagram, Swift revelou que a faixa de abertura do álbum, Lavender Haze, foi inspirada no seu relacionamento de seis anos com o ator britânico Joe Alwyn.
Outra canção, Anti-Hero, é um “tour guiado” pelas inseguranças da estrela.
Sempre que Swift lança um novo álbum, o mais difícil é imaginar como ele será. Ela geralmente muda de gênero a cada dois álbuns.
No caso de Midnights, nem mesmo as emissoras de rádio receberam as faixas antes do lançamento.
Mas, como todos os grandes compositores, Swift desenvolveu uma linguagem musical própria, nunca seguindo o mesmo roteiro, mas sempre fazendo seu esforço valer a pena, segundo suas próprias palavras.
Ao longo dos anos, a estrela do pop ofereceu ao público diversas explicações sobre o seu processo criativo. Aqui estão algumas delas.
‘Na névoa, nas nuvens’: a fonte de inspiração
A inspiração pode surgir a qualquer momento e em qualquer lugar. Mas Swift costuma descrever a inspiração como uma presença física, espiritual.
Ela repetiu a metáfora em uma entrevista para a revista americana Harper’s Bazaar e acrescentou: “Esta é a parte mais pura do meu trabalho. Tudo pode ficar complicado em todos os outros níveis, mas compor ainda é o mesmo processo descomplicado de quando eu tinha 12 anos.”
Aparentemente, qualquer coisa pode gerar uma canção. Seu primeiro sucesso, Tim McGraw, veio para ela durante uma aula de matemática no ensino médio.
A canção Ronan foi inspirada no texto de uma mãe sobre seu filho com câncer, enquanto Tolerate It tomou inspiração no livro Rebecca, da escritora britânica Daphne du Maurier (1907-1989).
“Acontece sempre de forma diferente, e é por isso que continuo tão apaixonada por compor até hoje”, disse Swift.
‘Mas eu tenho um espaço em branco, querido’: compondo a letra
Swift começou na música country e mantém o dom de contar histórias, típico daquele gênero.
Suas letras são detalhadas e de fácil identificação — seja cantando sobre os crushes da adolescência em Begin Again (“Você não sabe por que estou ficando meio tímida/Mas eu sei”), ou expondo seu retrato na mídia, como em Blank Space (“Querido, sou um pesadelo vestido de devaneio”).
Leitora voraz, ela faz “listas e listas e listas” de palavras que ela adora, como “epifania” e “divorciada”, e costuma basear suas músicas em “frases que as pessoas dizem quando conversam”, como na canção You Need to Calm Down (“Você precisa se acalmar”).
“Às vezes, um conjunto de palavras simplesmente me surpreende e não consigo me concentrar em nada até que elas estejam gravadas ou anotadas”, contou ela a alunos da Universidade de Nova York, nos Estados Unidos, durante uma palestra em 2022.
Mas, à medida que ela amadurecia como compositora, suas letras se tornavam menos literais.
“Tenho essa canção chamada Picture to Burn, que conta como ‘eu odeio seu caminhão’, ‘eu odeio você ter me ignorado’, ‘eu odeio você'”, contou ela certa vez à emissora MTV, descrevendo seu primeiro álbum.
“Agora, a forma como eu diria aquilo e como eu sentiria aquele tipo de dor é muito diferente”, disse ela.
Em All Too Well, de 2012, ela já era capaz de escrever esta pérola devastadora: “Você me liga de novo apenas para me romper como uma promessa/Tão despreocupadamente cruel em nome de ser honesto”.
A coautora da canção, Liz Rose, conta que a letra surgiu com tanta rapidez que teve dificuldade para acompanhá-la.
“Ela tinha uma história e queria dizer algo específico. Ela tinha muita informação. Eu simplesmente a deixei falar”, declarou à revista americana Rolling Stone.
All Too Well é o que Taylor Swift chama de “música ‘caneta-tinteiro'”, que pinta “um quadro vívido de uma situação, até a tinta lascada do batente da porta e a poeira do incenso sobre a prateleira de vinil”.
Essa é a sua forma mais comum de compor, que podemos escutar novamente em faixas como New Year’s Day, Cruel Summer e Lover.
E Swift classifica suas outras letras de forma similar.
Inspirada por Romeu e Julieta, a canção Love Story é uma música “bico de pena”. Nela, “as palavras e os versos são antiquados” como “uma carta escrita pela bisavó de Emily Dickinson [poetisa americana, 1830-1886] costurando uma cortina de renda”.
Já Shake it Off é a música “caneta gel com glitter”: “frívola, despreocupada, saltitante, em perfeita harmonia com a batida”.
‘Esta sou eu tentando’: encontrando a melodia
Swift tem sido excepcionalmente generosa ao compartilhar seu processo criativo com os fãs. Ela publica lembretes em áudios e fitas demo com frequência.
O produtor musical Max Martin executa a faixa de fundo várias vezes, enquanto Swift compõe em movimento, improvisando sons e sílabas e examinando como elas se encaixam no ritmo, até encontrar a combinação certa.
Quando eles terminam, Swift grita de entusiasmo.
Seus colaboradores costumam mencionar o fluxo inesgotável de ideias de Swift.
“Um dia antes, Taylor manda para você uma mensagem de texto: ‘aqui está a letra, aqui está um verso, aqui está a melodia. Bum, bum, bum, bum, bum'”, conta Ryan Tedder, que trabalhou nas canções Welcome to New York e End Game.
“Ela começa no momento em que você entra e está na metade da música na hora do almoço e termina no final do dia. A maioria dos artistas não trabalha assim.”
‘Continuo compondo músicas sobre você’: escrevendo confissões
Swift é a única mulher a ter oito álbuns que chegaram ao primeiro lugar no Reino Unido no século 21.
“Se você fizer mal para mim, vou escrever uma canção sobre você, e você não vai gostar dela. É assim que eu trabalho”, disse Swift ao jornal britânico The Mail on Sunday em 2009.
Mas ela acabou lamentando esta declaração. A atenção da imprensa aos seus namorados — Jake Gyllenhaal, Harry Styles, Taylor Lautner e Tom Hiddleston — muitas vezes ameaçou ofuscar sua música.
Mas as músicas sobre seus namorados foram apenas uma parte da produção de Taylor Swift.
A canção Soon You’ll Get Better é uma comovente balada sobre alguém que se sente desolado frente ao câncer da sua mãe. E uma das suas primeiras composições foi The Outside, escrita quando a jovem Swift sofria bullying com 12 anos.
“Eu era muito diferente de todas as outras crianças e nunca soube realmente por quê”, ela conta.
“Eu era mais alta e cantava música country no karaokê e nas festas nos fins de semana, enquanto as outras meninas faziam festas do pijama.”
“Às vezes, eu acordava sem saber se alguém iria falar comigo naquele dia”, relembra a artista.
Descrever a estrela como cronista musical virou moda até que ela contestou essa definição no álbum Folklore. Suas composições contavam a história de um triângulo amoroso entre três adolescentes fictícios.
“Cheguei a um ponto como compositora em que eu só escrevia canções como se fossem um diário e senti que era insustentável para o meu futuro seguir adiante com aquilo”, contou ela ao locutor de rádio Zane Lowe, na época do lançamento do álbum.
“Eu me sentia sob um microscópio. Nos meus dias ruins, parecia que eu estava compondo uma melodia para chamar atenção, e não é isso que eu quero para minha vida.”
‘Nunca saímos de moda’: as marcas de Taylor Swift
Do “hee-hee” de Michael Jackson até o “ah-oh-wa” de Prince, muitos artistas têm marcas vocais registradas. Taylor Swift não é exceção, mas a sua marca é mais sutil do que a maioria.
O musicólogo Nate Sloan apelidou a marca de Swift de “queda em T” — uma progressão melódica única, em que ela dá um curto passo para baixo, precipitando-se em seguida, em queda acentuada.
Você pode ouvir essa marca em canções como You Belong with Me e State of Grace. Swift vai da quarta nota da escala para a terceira e, dali, pula até a sexta nota, uma oitava abaixo.
Mas esta não é a única marca registrada da artista. As músicas de Taylor Swift são repletas de imagens recorrentes de grandes cidades (representando a idade adulta), carros (para fugas, sejam elas românticas ou não), vestidos (vestidos, mesmo) e dezembro (aparentemente, um péssimo mês para rompimentos amorosos).
Muitas de suas histórias também acontecem na calada da noite, quando a vida normal é suspensa e tudo pode acontecer.
As canções Breathe, Enchanted e I Wish You Would se passam às duas horas da manhã. Já a meia-noite, tema do seu álbum de 2022, surge nas músicas Style, New Year’s Day e The Last Great American Dynasty.
A estrela nunca explicou sua obsessão pela madrugada (embora ela costume compor na calada da noite), mas, às vezes, ser específico simplesmente ajuda a contar a história.
“Quanto mais se parecer com uma anotação em um diário, melhor. Quanto mais parecer uma carta aberta, melhor. Quanto mais verdadeiro, honesto e real ficar, melhor.”
Fonte: BBC
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