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Legenda da foto, Evento em NY foi programado para ser demonstração de força na reta final da campanha

Uma piada de um comediante em um comício de Donald Trump no domingo (27/10) gerou indignação e acusações de racismo.

O comediante Tony Hinchcliffe chamou Porto Rico de “ilha flutuante de lixo”. Hinchcliffe é conhecido pelo podcast Kill Tony, com 1,89 milhão de assinantes no YouTube.

“Muita coisa está acontecendo. Não sei se vocês sabem, mas literalmente existe uma ilha flutuante de lixo no meio do oceano agora. Acho que se chama Porto Rico”, disse. A piada foi considerada ofensiva pela comunidade porto-riquenha.

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Legenda da foto, Comediante Tony Hinchcliffe participou de comício de Trump

A oito dias das eleições americanas, o comentário gerou reações entre republicanos e democratas.

Kamala Harris condenou a piada. Ela também foi alvo de outro comentarista na abertura do comício de Trump.

Dois republicanos da Flórida, Estado que possui uma expressiva população porto-riquenha, criticaram a piada.

A parlamentar americana Maria Elvira Salazar disse estar “enojada” com o “comentário racista”. Ela afirmou na rede social X, antigo Twitter, que isso não reflete os valores do Partido Republicano e lembrou que milhares de porto-riquenhos servem nas Forças Armadas.

O senador Rick Scott declarou que “a piada foi um fracasso: não é engraçada e não é verdadeira”. Ele acrescentou que “os porto-riquenhos são pessoas incríveis e americanos incríveis”.

O comediante posteriormente defendeu seu material. “Essas pessoas não têm senso de humor”, escreveu ele no X em resposta às críticas da deputada democrata Alexandria Ocasio-Cortez.

Ele acrescentou: “Amo Porto Rico e tiro férias lá. Fiz piadas sobre todos… assistam à apreserntação completa”.

Ocasio-Cortez, que tem família em Porto Rico, disse que os comentários de Hinchcliffe foram “extremamente desagradáveis”.

O governador de Porto Rico, Pedro Pierluisi, criticou as piadas do comediante e pediu que os americanos de origem porto-riquenha “mostrem a força do nosso povo nas urnas e todos os dias”.

Representantes de Trump declararam que a piada “não reflete” as opiniões da campanha ou do ex-presidente.

Por que o voto dos porto-riquenhos importa?

Porto Rico é um território dos EUA, mas seus habitantes não podem votar na eleição presidencial. A ilha não possui votos no colégio eleitoral, mas seus residentes podem participar das primárias presidenciais.

No entanto, há uma grande diáspora espalhada pelo país que possui esse direito. E tanto Kamala Harris quanto Donald Trump têm buscado apelar para os porto-riquenhos que vivem no continente.

Como nativos de um território dos EUA, os porto-riquenhos que se mudam para o continente americano podem fazê-lo livremente, sem a necessidade de visto. Eles possuem cidadania estatutária e podem portar passaportes americanos.

Caso um porto-riquenho se mude para um Estado dos EUA e se registre para votar, ele terá o direito de participar das eleições.

Segundo o último censo de 2021, pelo menos 5,8 milhões de porto-riquenhos viviam nos EUA, representando cerca de 9% da população latina.

Há cerca de 36 milhões de eleitores latino-americanos aptos a votar este ano nos EUA, segundo o Pew Research Center.

Esse grupo geralmente compõe uma parte essencial da coalizão do Partido Democrata, com 59% dos latinos tendo votado em Joe Biden em 2020.

A Flórida abriga a maior comunidade, com 1,2 milhão de porto-riquenhos, seguida de perto por Nova York, com uma população de 950 mil.

No entanto, as repercussões das piadas de Tony Hinchcliffe podem ser mais relevantes na Pensilvânia — um Estado decisivo que pode pender para qualquer dos lados — onde vivem 450 mil porto-riquenhos.

Como o episódio pode impactar as eleições?

Os eleitores latinos em geral são uma grande minoria em vários Estados decisivos. Na Pensilvânia, eles somam cerca de 615 mil pessoas, segundo o Pew Research Center.

No Arizona, onde Trump lidera por uma pequena margem nas pesquisas, prevê-se que 855 mil latinos votem.

A repercussão da piada de Hinchcliffe ocorre no momento em que republicanos e democratas intensificam seus esforços para atrair eleitores latinos nos últimos dias desta campanha.

Comentários como este sobre Porto Rico podem ser um problema para Trump.

Uma das maiores celebridades latinas do mundo, o rapper porto-riquenho Bad Bunny compartilhou um dos seus vídeos de campanha de Kamala Harris nas redes sociais.

O artista divulgou materiais da campanha de Harris falando sobre a ilha, suas propostas para ajudar a população local e suas críticas sobre como Trump lidou com o furacão Maria durante sua Presidência, quando a tempestade mortal matou quase 3 mil pessoas em 2017.

Uma fonte próxima a Bad Bunny confirmou à emissora CBS News, parceira de notícias dos EUA da BBC, que isso representava uma declaração de apoio a Harris, quebrando sua longa tradição de não se envolver em questões políticas.

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Legenda da foto, Rapper porto-riquenho Bad Bunny anunciou apoio a Kamala Harris

No domingo, Harris apresentou políticas voltadas para ajudar a população de Porto Rico e, além de Bad Bunny, recebeu apoio de Jennifer Lopez.

Já a equipe de Trump está tentando reduzir danos após a piada de Hinchcliffe.

O correspondente da BBC News para a América do Norte, Anthony Zurcher, afirmou em análise que o comício do republicano no Madison Square Garden foi programado para ser uma demonstração de força na reta final da campanha presidencial.

Segundo a CBS News, um assessor da campanha manifestou frustração pelo fato de que as declarações do comediante estão ofuscando a mensagem de encerramento pretendida pelo ex-presidente.

“Trump tem tentado atrair os eleitores latinos — especialmente os homens — nestas eleições, e as pesquisas indicam que ele tem conquistado avanços entre esse eleitorado, tipicamente democrata”, disse Zurcher.

Esta não é a primeira vez que a campanha de Trump está relacionada a comentários controversos feitos por um apoiador.

Em setembro, a ativista conservadora Laura Loomer — que estava viajando com o ex-presidente — fez comentários depreciativos nas redes sociais sobre a ascendência indiana de Kamala Harris.

Na época, Trump afirmou discordar de suas declarações, mas disse que ela “tinha o direito de dizer o que quisesse”.

Faltando apenas oito dias para a eleição, cada incidente de campanha ganha um peso maior.

“As notícias mais recentes, sejam boas ou ruins, marcam as preocupações dos eleitores quando vão às urnas”, lembra Zurcher.

No entanto, os republicanos têm conseguido avançar entre o eleitorado latino, especialmente entre membros da comunidade cubano-americana.

Naquela eleição, Donald Trump aumentou sua parcela de votos entre eleitores hispânicos para 38% — em comparação com os 25% que os republicanos receberam nas eleições legislativas de 2018.

Por isso, os comentários feitos no comício de domingo ganharam tanta importância.

Alexandria Ocasio-Cortez incentivou os eleitores latinos na Pensilvânia a assistirem aos trechos do comício. Enquanto isso, Trump rapidamente repudiou os comentários.

* Com informações de Phil McCausland e Christal Hayes, da BBC News