Mais de um quinto do eleitorado sueco votou no partido de extrema-direita SD (Sverigedemokraterna, ou democratas suecos, em sueco) nas eleições de domingo no país escandinavo.
O SD agora é a segunda maior força política do país e terá direito a 73 cadeiras no Parlamento. Com isso, terá um papel crucial na coalizão de direita que vai governar a Suécia.
A coalizão de direita é formada pelo SD, pelo Partido Moderado, pelos Democratas Cristãos e pelos Democratas Liberais. O mais cotado para ser o próximo primeiro-ministro é Ulf Kristersson, do Partido Moderado.
Com o destaque na coalizão, o SD alcançou um patamar antes inimaginável: é a primeira vez que um partido nacionalista — que surgiu de um grupo neonazista — chegou tão perto do poder em Estocolmo.
O foco da campanha eleitoral em questões envolvendo imigração e crimes violentos fez com que a ideologia do SD chegasse ao coração do primeiro escalão da política sueca.
O partido foi criado em 1988 por simpatizantes do nazismo e durante grande parte de sua existência ficou à margem da política no país. O SD lutou por duas décadas para ganhar votos suficientes para eleger sequer um parlamentar.
Mas desde que entrou no Parlamento, em 2010, o partido só cresceu, levando a uma virada política em um país que normalmente é conhecido por sua política estável e previsível.
Com 99% das urnas apuradas, o SD tem 20,6% dos votos das eleições de domingo — o que o torna o o segundo maior partido no Parlamento e o maior partido na coalizão de direita que agora tem maioria no Parlamento.
“É algo dramático considerando que o SD entrou no Parlamento em 2010”, afirma o cientista político Johan Martinsson, da Universidade de Gotemburgo. “Três eleições depois, eles são o segundo maior partido. A Suécia costumava ter um sistema de partidos políticos extremamente estável e previsível.”
Martinsson descreve o partido como anti-imigração, contrário ao multiculturalismo e nacionalista.
No domingo, o SD substituiu o Partido Moderado como o partido de direita mais popular do país.
Martinsson diz que os resultados são um marco na história sueca.
De pária ao poder
O sucesso do SD levou a um debate acirrado sobre o quanto o partido mudou ideologicamente — ou não — durante sua transformação de pária político em peça-chave do poder.
O atual líder do grupo, Jimmie Akesson, que assumiu em 2005, afirmou que teria uma “política de tolerância zero” contra o racismo e o extremismo há dez anos. Em 2015, ele suspendeu toda a ala jovem do partido por suas ligações com a extrema-direita.
O partido também passou por uma extensa reformulação de imagem, substituindo o logotipo da chama ardente por uma flor de aparência mais inocente e descartando o slogan “mantenha a Suécia sueca”.
Mas essas mudanças não foram suficientes para acabar com as acusações de que o partido representa uma ameaça aos grupos minoritários da Suécia.
Um dos críticos mais frequentes é Willie Silberstein, presidente do Comitê Contra o Antissemitismo da Suécia, que se tornou alvo de antissemitismo nos últimos dias depois de usar sua posição para criticar publicamente o SD em uma entrevista na televisão.
“A coalizão tem um problema com partidos fundados por nazistas. Isso não é uma opinião, é um fato”, disse ele à BBC. “Se um partido está tão cheio de pessoas que precisam ser excluídas porque são nazistas, isso diz algo sobre esse partido.”
Ele aponta para um estudo amplamente divulgado publicado no mês passado pelo grupo de pesquisa sueco Acta Publica que afirmou ter identificado 289 políticos dos maiores partidos que expressaram opiniões que poderiam ser consideradas racistas ou até nazistas. A grande maioria deles – 214 – eram membros do SD.
“Me assusta que eles possam ter uma grande influência na política sueca”, diz Silberstein. “Penso não apenas na minoria judaica, mas também nos imigrantes em geral.”
Tuítes e outras postagens de mídia social de membros do partido – em alguns casos, pessoas com mandato eletivo – continuam a causar problemas de imagem ao grupo.
No auge da campanha eleitoral, o porta-voz oficial do SD, o deputado Tobias Andersson, de 26 anos, tuitou uma foto de um metrô de Estocolmo com as cores do partido.
“Bem-vindo ao expresso de repatriação. Aqui está uma passagem só de ida. Próxima parada em Cabul”, escreveu ele.
Alguns comentaristas suecos criticaram o post, mas o líder do SD se recusou a pedir desculpas, argumentando que a postagem era uma ironia com pessoas que se ofendiam com propagandas do partido, segundo a agência de notícias AP.
Partido nega
O partido nega as acusações de racismo.
“Tudo isso foi antes de eu nascer”, diz Emil Eneblad, vice-presidente do movimento jovem do SD. “Não acho que o fato de ter havido pessoas suspeitas no partido 30 anos atrás tenha afetado nossa posição eleitoral”, diz o ativista de 21 anos à BBC.
Ele afirma que o partido teve quase o dobro de apoio entre os jovens na eleição de domingo – algo que ele credita ao foco do grupo em três questões: segurança, emprego e imigração.
“Os jovens estão procurando mudanças”, diz ele.
O cientista político Johan Martinsson diz que as questões em torno da imigração estão se tornando um tópico importante há muito tempo, apontando que a Suécia recebeu um dos maiores números de requerentes de asilo per capita do mundo nos últimos anos.
A ampliação da imigração e a percepção de aumento de crimes violentos podem explicar o aumento no apoio ao SD, um partido que não apenas faz campanha em ambas as questões há anos, mas ganhou destaque com sua afirmação controversa de que as duas questões estão ligadas.
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