Alimentos ultraprocessados já foram associados a mais de 30 problemas de saúde diferentes, incluindo doenças cardíacas, câncer e ansiedade.
Um novo estudo diz que alimentos veganos ultraprocessados também podem ser prejudiciais à saúde.
Os alimentos ultraprocessados representam mais de 50% da dieta média nos EUA e no Reino Unido e tornam-se cada vez mais populares no mundo todo.
Mas como identificar o que é um alimento ultraprocessado?
O que são alimentos ultraprocessados?
Não existe uma definição única de alimentos ultraprocessados, mas em geral eles contêm ingredientes não utilizados na culinária caseira.
Muitos são produtos químicos, corantes e adoçantes usados para melhorar a aparência, o sabor ou a textura dos alimentos.
Refrigerantes, doces e nuggets de frango são exemplos. No entanto, também podem ser incluídos na categoria alimentos menos óbvios, como alguns pães, cereais matinais e iogurtes.
Qual a diferença entre os alimentos ultraprocessados e os alimentos processados?
Para ajudar as pessoas a identificar os diferentes tipos de alimentos, frequentemente se utiliza um sistema que os divide em quatro grupos:
Alimentos não processados e minimamente processados; ingredientes processados; alimentos processados e alimentos ultraprocessados.
Os alimentos processados são uma combinação de alimentos integrais – como frutas, vegetais, nozes e ovos – e ingredientes culinários processados.
Por exemplo, o pão feito com farinha de trigo, água, sal e fermento é um alimento processado.
Porém, se forem adicionados emulsificantes, corantes ou conservantes, o pão seria ultraprocessado.
Como posso reconhecer alimentos ultraprocessados?
Um produto que contenha mais de cinco ingredientes provavelmente será ultraprocessado, de acordo com Maira Bes-Rastrollo, especialista em saúde pública da Universidade de Navarra, na Espanha.
Alimentos ultraprocessados costumam ser ricos em sal, açúcar e gorduras saturadas. No Reino Unido e em alguns outros países, isso estará destacado na embalagem.
Poderiam ser “alimentos frescos”, mas tem uma vida útil longa, por causa dos conservantes.
Verifique nos rótulos se há ingredientes como benzoato de sódio, nitrato e sulfito, BHA e BHT.
Como os alimentos ultraprocessados se espalharam pelo mundo?
O Reino Unido e os EUA são onde mais se consome alimentos ultraprocessados, de acordo com o British Medical Journal e o Centro Nacional de Informações sobre Biotecnologia dos EUA.
Em 2023, os ultra-processados representavam 58% da ingestão calórica média de um adulto nos EUA e 66% da ingestão calórica de uma criança.
Os números são de 57% e 65% para adultos e crianças no Reino Unido.
Segundo o Centro Nacional de Informações sobre Biotecnologia dos EUA, em países asiáticos, como a Coreia do Sul e o Japão, e em países da América do Sul, como o Brasil e o Chile, os alimentos ultraprocessados normalmente representam 20 a 30% das calorias consumidas. Na África do Sul, 39%.
Comer alimentos ultraprocessados faz mal?
Não há evidências definitivas sobre o impacto da ingestão de alimentos ultraprocessados na saúde.
Mas um estudo de fevereiro de 2024 publicado no British Medical Journal – com base em informações sobre 9,9 milhões de pessoas do mundo todo – associou o consumo a:
- um risco maior de morte por doenças cardiovasculares (como ataque cardíaco e acidente vascular cerebral)
- obesidade
- diabetes tipo 2
- problemas de sono
- ansiedade e depressão
O estudo não conseguiu provar, no entanto, que o processamento dos alimentos causava as doenças.
Pode ser porque os alimentos são ricos em gordura, açúcar e sal, que são causas conhecidas de ganho de peso, diabetes tipo 2, doenças cardíacas e alguns tipos de câncer.
Obesidade
“Ganho de peso é o primeiro e mais óbvio efeito da ingestão de alimentos ultraprocessados”, diz Chris van Tulleken, imunologista da University College London, que também já escreveu sobre nutrição.
“Esses alimentos já são ricos em gordura, sal e açúcar. Mas também foram pensados – por meio de suas texturas, cores e sabores – para serem consumidos em excesso”.
Um estudo de fevereiro de 2024 do Imperial College London afirma que, em 2022, mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo viviam com obesidade – o equivalente a uma em cada oito pessoas.
E diz que, entre 1992 e 2022, a taxa global de obesidade mais do que duplicou entre mulheres adultas, quase triplicou entre homens adultos e aumentou cinco vezes entre crianças e adolescentes.
Os dados mais recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Observatório Global de Saúde, de 2016, afirmavam que mais de 28% dos adultos nas Américas eram obesos, assim como 26% na Europa, 19% no Mediterrâneo Oriental e 9 % na África.
De acordo com a OMS, em 2016, 2,8 mil milhões de pessoas estavam morrendo todos os anos por excesso de peso ou obesidade.
“Em muitos países do mundo, os alimentos ultraprocessados são agora mais baratos e mais acessíveis do que os alimentos integrais tradicionais nos mercados”, afirma Claire Johnson, especialista em nutrição da agência das Nações Unidas para crianças, a Unicef.
Diabetes
Mais pessoas em todo o mundo têm hoje diabetes tipo 2, de acordo com a Federação Internacional de Diabetes.
“O açúcar, o sal e a gordura dos alimentos ultraprocessados são fatores de risco para o desenvolvimento de diabetes tipo 2 – assim como uma dieta rica em calorias e pobre em nutrientes”, diz Jaakko Tammilehto, professor de saúde pública na Universidade de Helsinque.
O Oriente Médio e o norte da África registaram um aumento especialmente elevado no número de pessoas com diabetes tipo 2.
“Muitos desses países não produzem alimentos”, diz o professor Tammilehto. “Alimentos ultraprocessados são fáceis de transportar e armazenar. É o que as empresas alimentícias mais transportam.”
Desnutrição
Os alimentos ultraprocessados estão contribuindo para a desnutrição em muitos países subsaarianos, afirma a Johnson.
“Muitas vezes eles não têm os micronutrientes contidos nos alimentos integrais tradicionais, como ferro, minerais e vitaminas”, diz ela.
No entanto, cientistas da Universidade Purdue, nos EUA, dizem que os alimentos ultraprocessados podem trazer alguns benefícios, incluindo:
- fornecer nutrientes como vitamina E e cálcio;
- oferecer uma opção mais acessível que os alimentos frescos para pessoas de baixa renda;
- reduzir o desperdício de alimentos e o risco de intoxicação alimentar.
A British Nutrition Foundation, que trabalha e recebe doações de empresas alimentícias, também destaca que os alimentos ultraprocessados não são todos iguais.
“Alguns alimentos que podem ser classificados como ultraprocessados, como cereais matinais integrais, pães integrais e iogurtes desnatados, podem ter baixo teor de gordura, sal e açúcar”, diz Sara Stanner, diretora científica. “Essas podem ser fontes de nutrientes essenciais e fibras.”
Doença cardíaca
Um estudo de junho de 2024 da Universidade de São Paulo e do Imperial College London sugere que alimentos ultraprocessados à base de plantas também podem representar uma ameaça à saúde.
O estudou afirmou que a ingestão de alimentos vegetais ultraprocessados estava associada a um aumento de 7% no risco de ataques cardíacos e derrames, em comparação com a ingestão de alimentos vegetais não processados.
Que medidas foram tomadas contra os alimentos ultraprocessados?
O governo do Reino Unido criou um imposto sobre as bebidas açucaradas em 2018 e vários fabricantes reagiram reduzindo os níveis de açúcar.
Em 2023, a Colômbia impôs uma taxa de 10% – que aumentará com o tempo – sobre bebidas açucaradas e alimentos ultraprocessados.
Em 2016, o Chile – que tem uma das taxas de obesidade infantil mais elevadas do mundo – colocou rótulos de advertência em alimentos ricos em açúcar, gorduras ou calorias.
A publicidade e promoção de alimentos ricos em açúcar, sal e calorias para crianças também foi restringida.
No entanto, nos quatro anos seguintes à introdução das medidas, as taxas de obesidade infantil continuaram a aumentar.
Fonte: BBC
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