- Spencer Kelly
- Apresentador do BBC Click
“Eles basicamente se agarram ao asteroide com toda força do mundo enquanto cruza o sistema solar”.
Mitch Hunter-Scullion está descrevendo um robô de seis pernas chamado Scar-e (Space Capable Asteroid Robotic Explorer), que ele pretende enviar a um asteroide para perfurar e buscar metais preciosos como ferro, níquel e platina.
Além de serem cada vez mais essenciais para criar telefones, laptops e carros, alguns metais como a platina também serão necessários para ajudar a produzir hidrogênio à medida que fazemos a transição para uma energia mais verde.
Com suprimento limitado desses minérios na Terra, há uma procura cada vez maior no espaço para atender a essa demanda.
É aí que entra o Scar-e. Sua garra poderosa, projetada em parceria com a Universidade de Tohoku, no Japão, precisa se agarrar a um asteroide no espaço antes que ele flutue para longe.
Foi inspirado na forma como as tarântulas se penduram nas paredes. “Eles se agarram ao lado do asteroide enquanto ele avança pelo sistema solar”.
“Tenho pavor de aranhas”, diz Mitch, “então achei que era bastante apropriado.”
Mitch é o fundador da Asteroid Mining Corporation (AMC). Ele admite que realizar tal façanha ainda está longe de acontecer.
Não apenas envolveria o pouso de robôs em uma rocha, mas também a construção remota de infraestrutura de mineração e, de alguma forma, enviar os materiais de volta à Terra.
Mas é fácil ver por que ele e outros querem tentar.
Uma nova corrida pelo ouro (ou platina)?
Os asteroides são feitos do mesmo material que o resto dos planetas rochosos em nosso sistema solar – e isso significa que eles também são ricos em alguns minerais preciosos que tanto procuramos aqui na Terra.
Encontrar grandes depósitos de platina em um asteroide, por exemplo, diz Mitch, “permitiria que a humanidade começasse a inovar de uma maneira que não fazemos há muito tempo”.
Obter recursos de asteroides apresenta um desafio diferente de obtê-los na Terra, segundo o professor John Bridges, um cientista da Universidade de Leicester envolvido na missão Hayabusa2.
Isso ocorre porque essas pequenas rochas espaciais não passaram pelos mesmos processos geológicos que seus primos terrestres.
“Eles não passaram por derretimento, vulcanismo e formação de montanhas, que acabam por concentrar alguns dos elementos em partes específicas da crosta. Então é por isso que na Terra podemos ter uma mina [em um determinado lugar] para extrair elementos de terra rara.”
Em um asteroide, “todos os elementos ainda estarão lá”, diz ele, “mas eles apenas estarão espalhados. A natureza não teve a chance de concentrá-los em veios de minério, por exemplo”.
E isso significa que os mineradores de asteroides teriam que processar uma enorme quantidade de material para a empreitada valer a pena.
O professor Bridges acredita que a mineração espacial comercial é uma “área fascinante”, mas duvida que resolverá o problema de recursos do mundo.
O truque, diz Mitch, será encontrar o asteroide certo. E é aí que entram a especialista Natasha Stephen e seu microscópio eletrônico.
A rocha que caiu na Terra
Nunca pensei que tocaria um pedaço da Lua, mas é isso que está na minha mão no Centro de Microscopia Eletrônica de Plymouth, uma cidade na Inglaterra.
É um pequeno pedaço de meteorito que caiu na Terra no deserto do Saara e foi identificado como um fragmento de rocha lunar lançado ao espaço após um impacto na superfície lunar.
Muitos meteoritos não vêm da Lua, mas de asteroides, e Natasha está usando o microscópio eletrônico para catalogar os elementos contidos neles.
Enquanto a caçada por meteoritos continua, agora o alvo vai para os “asteroides-pais”, que são ricos nos elementos buscados.
“Se encontrarmos uma concentração de platina em um de nossos meteoritos”, ela explica, “podemos dizer ao pessoal da AMC… ‘Agora é com vocês. Vá e encontre esse tipo de asteroide nos dados’.”
Quem é o dono do espaço?
Uma vez que um asteroide promissor tenha sido identificado, porém, há a complicada questão de descobrir a quem ele pertence.
Dhara Patel, do Centro Espacial Nacional do Reino Unido, explica que quando se trata de esclarecer questões de propriedade, a lei espacial não é adequada.
Nada ainda foi definido sobre se uma nação ou empresa pode reivindicar a propriedade de um asteroide, partes da Lua ou as riquezas que se encontram abaixo da superfície.
E quando as recompensas podem chegar a trilhões de dólares, é fácil ver como disputas, batalhas legais e até mesmo guerras reais podem ocorrer.
Em 1966, a ONU (Organização das Nações Unidas) elaborou o Tratado do Espaço Exterior, que tentou definir o que seria mau uso do espaço. O documento foi assinado por mais de 100 países.
“O Tratado do Espaço Exterior diz que ‘o espaço é uma área de interesse especial de toda a humanidade’. O problema é que faltam detalhes”, diz Dhara.
“Estamos usando um tratado que foi formado há mais de 50 anos, e a exploração espacial se desenvolveu muito desde então.”
A Nasa, agora planejando um retorno à Lua, elaborou os Acordos Artemis – um conjunto mais detalhado de princípios focados na exploração da Lua, Marte e outros corpos celestes.
Mas o documento ainda é vago caso uma empresa ou nação reivindique a propriedade dos recursos extraídos.
Vários países assinaram os Acordos Artemis, mas Dhara acredita que precisamos de uma abordagem global.
“Provavelmente começa com a ONU como base, garantindo que as políticas que implementamos estejam em nível internacional”.
Mitch está confiante, no entanto, que sob os princípios existentes, existem regras existentes que protegem os primeiros mineradores.
“Quem chegar primeiro terá prioridade.”
Então, quem chega primeiro, recebe primeiro, basicamente. Podemos ter aquela velha corrida do ouro.
Tudo isso está, é claro, a décadas de distância da realidade, e se serão empreendedores como Mitch, megabilionários como Elon Musk ou nações inteiras que acabarão se tornando os grandes mineradores ainda é uma incógnita.
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