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Deslocamento de grandes quantidades de água afeta a distribuição de massa na Terra

  • Author, Redação
  • Role, BBC News Mundo

A extração e transporte de águas subterrâneas fizeram com que o eixo de rotação da Terra se inclinasse quase 80 centímetros para o leste entre 1993 e 2010.

A conclusão é de um estudo publicado na última edição do periódico Geophysical Research Letters, da União Americana de Geofísica (AGU, na sigla em inglês).

Segundo os pesquisadores, o deslocamento de grandes massas de água devido à interferência humana nos aquíferos não só está provocando essa mudança no eixo de rotação da Terra, como também afeta o nível do mar.

“As águas subterrâneas bombeadas evaporam para a atmosfera ou correm para os rios. E elas acabam nos oceanos por meio da precipitação ou do deságue”, explicou à BBC Mundo Ki-Weon Seo, professor de Ciências da Terra na Universidade Nacional de Seul, Coreia do Sul, e principal autor do estudo.

Desta forma, “a água se move da terra para os oceanos. É uma grande redistribuição de água.”

A capacidade da água de alterar a rotação da Terra já havia sido descoberta em 2016.

Até agora, no entanto, o efeito específico do deslocamento das águas subterrâneas nas mudanças rotacionais não era conhecido.

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Extração e transporte de águas subterrâneas tem efeito sobre o nível do mar

Efeitos da ação humana

O eixo de rotação da Terra é o ponto em torno do qual o planeta gira. Esse eixo imaginário liga o Polo Norte ao Polo Sul e, ao fim de 24 horas, a Terra dá uma volta completa sobre si mesma.

A ideia de que os polos geográficos da Terra — ou seja, os pontos por onde o eixo de rotação passa — são ligeiramente móveis já é bastante conhecida. E esse é um processo natural, já que o campo gravitacional terrestre não é perfeitamente igual em todos os pontos da superfície e mudanças na distribuição da massa do planeta fazem com que o eixo se mova.

Mas o tipo de deslocamento que se observa desde os anos 1990 tem marcas profundas da ação humana.

A distribuição da água no planeta afeta ainda mais como a massa é distribuída em nosso planeta. Segundo os cientistas, esse processo é quase como adicionar mais peso a um pião que não para de girar.

Da mesma forma que acontece com o brinquedo, a Terra gira de forma um pouco diferente conforme a água se move.

“O polo de rotação da Terra realmente muda muito”, observa Seo. “Nosso estudo mostra que, entre as causas relacionadas ao clima, a redistribuição das águas subterrâneas tem o maior impacto na deriva rotacional dos polos”.

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As mudanças no eixo de rotação observadas desde a década de 1990 ressaltam a marca da ação humana

Os cientistas determinaram ainda que a redistribuição da água localizada originalmente nas latitudes médias tem um impacto maior no eixo de rotação.

Durante o período de estudo, a maior parte da água que foi redistribuída estava localizada no oeste da América do Norte e no noroeste da Índia, ambos em latitudes médias.

Os esforços dos países para reduzir a captação de águas subterrâneas, especialmente em regiões tão sensíveis, teoricamente poderiam alterar as mudanças na movimentação dos polos geográficos da Terra.

Mas isso só acontecerá se esses esforços forem mantidos por décadas, diz Seo.

No novo estudo, os cientistas estudaram o modelo de mudanças observadas no eixo de rotação da Terra e no movimento da água.

Crédito, SEO ET AL. (2023), GEOPHYSICAL RESEARCH LETTERS

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Os cientistas compararam o movimento de rotação natural da Terra (seta vermelha) com o de um modelo artificial no qual não há redistribuição das águas subterrâneas (seta azul pontilhada) e outro em que há redistribuição (seta azul contínua)

Primeiro, eles consideraram apenas os deslocamentos de água causados ​​pelo derretimento de calotas de gelo e geleiras. Depois adicionaram diferentes cenários de redistribuição de águas subterrâneas.

O modelo apenas correspondeu à mudança de inclinação registrada atualmente quando uma redistribuição de águas subterrâneas de 2.150 gigatoneladas foi incluída.

Estudos anteriores estimavam que o homem havia extraído 2.150 gigatoneladas de água subterrânea entre 1993 e 2010, uma quantidade que equivale a mais de 6 milímetros de aumento do nível do mar.

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Entre as causas relacionadas ao clima, a redistribuição das águas subterrâneas tem o maior impacto na rotação da Terra, de acordo com o estudo

O novo estudo é uma contribuição importante para a humanidade, diz Surendra Adhikari, cientista pesquisador do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, que não esteve envolvido na pesquisa.

“Eles quantificaram o papel da extração de águas subterrâneas no movimento da Terra, e isso é muito significativo”.

Adhikari foi um dos autores do estudo de 2016 sobre o impacto da redistribuição da água.

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Outro estudo de 2021 concentrou-se no impacto no eixo de inclinação da Terra do derretimento do gelo nas regiões polares

Seo esclarece que a redistribuição da água não afeta as estações do ano.

“O eixo de rotação da Terra normalmente muda vários metros em um ano. Portanto, uma variação de cerca de um metro por cerca de duas décadas não afetaria o clima.”

O importante para o cientista é ter verificado “que a extração de água subterrânea afeta o eixo de rotação da Terra”.

“Usamos o eixo de rotação como evidência observacional para a extração de águas subterrâneas.”

‘Como pai, estou preocupado’

“Estou muito satisfeito por ter encontrado uma causa até então inexplicável das mudanças no eixo de rotação”, diz Seo.

“Por outro lado, como morador da Terra e pai, estou preocupado e surpreso ao ver a extração das águas subterrâneas como outra fonte de aumento do nível do mar.”

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“Por outro lado, como morador da Terra e pai, estou preocupado e surpreso”, disse Seo, autor do estudo

A intensificação das secas devido às mudanças climáticas pode levar ao aumento da extração e transporte de águas subterrâneas.

O cientista está preocupado com a ligação entre esses movimentos das massas de água e a elevação do nível do mar.

“Essa é uma preocupação geral porque muitos de nós moramos em cidades costeiras”, observa Seo. “Minha geração estaria bem, mas meus filhos poderiam ter problemas devido ao aumento do nível do mar.”