À frente da vice-presidência da República e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin (PSB) ainda não viajou para nenhuma agenda no exterior. Em contrapartida, já foi presidente em exercício por quase um mês, apenas no primeiro semestre.
Pela quantidade de viagens feitas por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a nove países, Alckmin já passou pelo menos 26 dias como presidente interino. Naturalmente, pela linha sucessória, é Alckmin que deve ficar no comando do país na ausência de Lula. As informações são do Metrópoles.
A Constituição Federal, no entanto, assegura que, na sequência, estão os nomes do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP); do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (PSD); e do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber.
Veja as vezes que Alckmin assumiu a presidência por viagens de Lula. O levantamento compreende o tempo de deslocamento para países mais distantes, como China e Japão:
- Argentina e Uruguai – de 22 a 25 de janeiro;
- Estados Unidos – 9 a 11 de fevereiro;
- China e Emirados Árabes – 13 a 16 de abril;
- Portugal e Espanha – 21 a 26 de abril;
- Reino Unido – 5 e 6 de maio; e
- Japão – 18 a 21 de maio.
Alckmin x Mourão
Em uma rápida comparação com o ex-vice-presidente da República Hamilton Mourão (Republicanos), no primeiro semestre de 2019, o vice do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) fez quatro viagens ao exterior. O ex-mandatário, por sua vez, fez sete. O período de comparação considera janeiro a junho de 2019.
À frente do Conselho Nacional da Amazônia Legal (Cnal), Mourão buscou manter um diálogo internacional para questões ambientais. Apesar de, por vezes, ser chamado de “decorativo”, Mourão também se mostrou um vice diplomático, que prezava pela interlocução com gigantes internacionais e, em algumas ocasiões, até tentou apaziguar crises políticas envolvendo outros países.
No primeiro semestre de 2019, Mourão foi à Colômbia, aos Estados Unidos, à China e à Itália. Todos os compromissos tiveram um tom de cortesia.
Veja os motivos:
24 de fevereiro: Reunião do Grupo de Lima, na Colômbia;
5 a 9 de abril: Nos Estados Unidos, encontrou-se com brasileiros e estudantes da Universidade Harvard e participou de uma reunião oficial com o vice-presidente americano, Mike Pence;
19 a 24 de maio: Encontro com o presidente e vice-presidente chinês, Xi Jinping e Wang Qishan, respectivamente, além da participação na reunião da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban); e
25 de maio: Na Itália, homenagem à Força Expedicionária Brasileira que lutou contra a Itália fascista na Segunda Guerra Mundial.
Ministério
Apesar de apenas ter feito viagens nacionais, Alckmin tem um longo caminho pela frente, em relação à atuação no Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), uma pasta que está diretamente relacionada com o comércio e com a economia do exterior.
Apesar de estar sendo extremamente ativo nas conversas com empresários de todos os ramos e com embaixadores de diversos países, o titular precisa buscar meios, principalmente de elaborar estratégias de desburocratização para que empresas estrangeiras busquem investimento no Brasil, e que os próprios governos se disponham para firmar parcerias com o país.
O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva já declarou, em maio, que deseja, a partir de 2024, que Alckmin “coloque o Brasil debaixo do braço” para ir vender projeto brasileiros. O desejo foi manifestado pelo petista durante reunião na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), no dia 25 de maio.
Segundo auxiliares do vice-presidente, a primeira viagem internacional deve acontecer no fim do mês de junho, a Portugal. Para o resto do ano, ainda não há previsão de novas agendas.
“Um vice diferente”
Para Rodolfo Tamanaha, professor de Ciências Políticas do Ibmec Brasília, Alckmin mantém uma postura diferente para demonstrar que está apto e desenvolver qualquer função.
“Geraldo Alckmin é realmente um vice-presidente diferente dos outros. Ele já assumiu essa posição desde as eleições, como o cabo eleitoral, de parcela da população que era do PSDB [Partido da Social Democracia Brasileira] ou que era anti-PT [Partido dos Trabalhadores]. Então, não é à toa que ele também acabou assumindo não só pro vice-presidência como o ministério — e um ministério importante”, pontua o especialista.
Para o professor, as viagens que os vice-presidentes costumam fazer no exercício de seus mandatos costumam ter baixa relevância, o que seria mais um motivo para que Alckmin não tenha tanta gana pelas saídas. “Normalmente, o vice-presidente quando faz viagens internacionais, como o Mourão fez, são viagens de cunho institucional, ou seja, que tem pouco efeito dentro da política interna, ou mesmo no plano internacional” salienta Tamanaha.
“Como ele [Alckmin] tem um ministério pra tocar, além da vice-presidência, acho que ele está sendo mais contido com relação a essa questão das viagens internacionais, exatamente porque ele, estando no Brasil até quando o Lula não está, assume a presidência e faz a articulação dele; ou seja, mostrar que ele está presente e que ele não é uma figura decorativa. A estratégia é essa. Ele tem pouco a ganhar com viagens internacionais e tem muito a ganhar quando o Lula está fora e ele assume a caneta”, sugere o especialista.
Fonte: Blog do Jorge Lemos
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