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Com shows do Coldplay, Botafogo reabre Nilton Santos de olho no alto faturamento de arenas multiuso

O Nilton Santos estará lotado neste sábado, no domingo e na terça. Mas não se espante, torcedor, você não está perdendo nenhum jogo, já que o Botafogo entra em campo na segunda-feira, em Volta Redonda, contra a Portuguesa, pela semifinal da Taça Rio. Trata-se da banda britânica Coldplay, que vai colorir o público no estádio num passo importante no projeto alvinegro de ser uma referência em grande eventos no Rio de Janeiro. São três apresentações, algo que está sendo visto internamente como uma “mudança de patamar” nas aspirações do clube.

Apoiado pelo empresário John Textor, o Botafogo agora segue a lógica dos grandes clubes europeus e utiliza o Nilton Santos para outros eventos além do futebol, entrado de cabeça no ainda jovem mercado das arenas multiuso. Além do Coldplay, já estão marcados shows de The Weeknd e das bandas RBD e Red Hot Chili Peppers para os próximos meses.

“O Nilton Santos é um estádio histórico na área esportiva e que já viveu grandes eventos. Mas nessa nova gestão, olhamos para o local e pensamos que ele pode ser mais rentável, mais utilizável e estar mais a serviço do Rio de Janeiro. Nós vimos que o Rio era deficitário em pontos para receber grandes shows e nós tínhamos essa estrutura. Então, entramos em contato com as grandes promotoras, que se animaram com a ideia”, afirma o Diretor de Infraestrutura e Operações Alexandre Costa, que revela que a negociação para um show como o do Coldplay pode durar de seis a nove meses.

Grama sintética

O Botafogo passou por um longo processo que permitirá a reabertura do estádio para esse tipo de evento: a instalação de grama sintética. A obra, que causou reclamações do técnico Luís Castro pela ausência do Nilton Santos no Carioca, foi decidida no fim do ano passado e iniciada em janeiro. Na reta final desses preparativos, o alvinegro iniciará o Brasileirão com sua casa disponível para os jogos e os shows.

“Com o gramado sintético, temos flexibilidade para a colocação do palco, que pode ser centralizado ou depois da linha de fundo, algo que não ocorre nos gramados naturais. Por exemplo, o show de Coldplay tem muito efeito, muita luz, muita participação do publico. É algo diferente e difícil de ser feito em outros lugares. As bandas preferem lugares maiores. Pelo mundo, eles procuram por estádios e no Rio nós somos referência”, completa Costa.

O clube não fala em valores, mas o diretor diz que se trata de uma “linha de receita importante” para orçamento anual, dada a seriedade com que tem tratado o mercado. Vale lembrar o alto custo operacional do Nilton Santos: na partida contra o Santos, a última no estádio no Brasileirão do ano passado, o Botafogo declarou R$ 216.511,67 em “despesa operacional”, com as despesas totais da partida chegando a R$ 757.804,34. No caso dos shows, todo e qualquer possível prejuízo fica com a produtora. O clube ainda lucra com estacionamento, áreas de hospitalidade, refeição e outros pontos previstos em contrato.

Essas receitas alternativas, que também incluem camarotes, por exemplo, são alguns aspectos que o alvinegro segue de olho. Um pensamento alinhado com o da WTorre, que gere os eventos do que hoje é o maior caso de sucesso em arenas multiuso no Brasil: o Allianz Parque, em São Paulo — estádio do Palmeiras.

Em conversa com o GLOBO, Claudio Macedo, CEO da WTorre Entretenimento, conta que o aluguel da arena é só parte de um negócio maior.

“A locação do show é expressiva, mas é relativamente pequena no mix de receitas. O que ela faz é tornar esse estádio um destino não só para o torcedor do futebol, mas para todas as outras pessoas que gostam de ir a shows, incluindo empresas. Com isso, o valor da sua cota de patrocínio sobe, o valor de seus camarotes aumenta. Você gera toda uma gama de receitas que vem desse mix de jogos e shows, não necessariamente da locação.”

Negócio recente

Com 16 shows entre realizados e anunciados para este ano, Claudio revela que há mais pedidos de reserva do que datas no Allianz. Ele vê com bons olhos a chegada do Botafogo no mercado e revela que a WTorre ajudou a intermediar os shows do Coldplay no Nilton Santos. Na arena paulista, o ano já totaliza 34, contando shows já realizados, divulgados, ainda não divulgados e aqueles que seguem em negociação. A projeção é fechar o ano entre 27 e 28 shows realizados. Um sucesso que gera um retorno, entre aluguel e as demais receitas, significativo para a empresa e para o Palmeiras.

“Posso te falar que é um valor bem expressivo. A parte de repasse para o clube deveria estar na casa de um patrocínio relevante”, revela Claudio Macedo.

Só da Crefisa, da presidente Leila Pereira, o Palmeiras recebe cerca de R$ 81 milhões em patrocínio anualmente. No acordo mais recente com a Cimed, o clube engordou a conta em R$ 3 milhões.

O modelo das arenas multiuso é recente: CEO da Trevisan Escola de Negócios e especialista em marketing esportivo, Fernando Trevisan lembra que o Nilton Santos foi inaugurado em 2007, enquanto a maioria das arenas modernas do Brasil surgiram no caminho para a Copa do Mundo de 2014. Ele explica que os estádios mais modernos, até mesmo aqueles fora do Brasil, têm buscado a flexibilidade para contornar o alto custo de manutenção. Casos das novas arenas do Tottenham e da Juventus, por exemplo, que têm construções propícias para montagem e desmontagem de estruturas.

“O princípio é ser flexível e que possa receber vários eventos na mesma semana, conquistar novas fontes de receita por meio dessa flexibilidade. Dificilmente vai haver um estádio moderno, construído nas últimas duas décadas, que não vai incluir esse conceito de multiuso. Só por ser um estádio moderno e novo, significa, naturalmente, um aumento de público pros jogos. O Tottenham é um exemplo, o Arsenal é outro. O Emirates Stadium foi construído em 2006 e desde então, o Arsenal é um dos clubes que mais fatura em dia de jogos, os matchdays, mesmo não sendo um dos maiores em receita em geral da Europa”, explica.

Para o futuro das arenas multiuso no Brasil, Trevisan aponta ainda alguns desafios como questões de calendário envolvendo os clubes da casa, localização e gramado (superada nos casos de Botafogo e Palmeiras, que aderiram ao sintético). No segundo contexto, enxerga exemplos, como a Amsterdam Arena, projeto do Ajax e da prefeitura que revitalizou a região ao redor do estádio. Ele cita ainda lojas, tours, restaurantes e experiências como possíveis oportunidades de rentabilizar fora dos dias de jogos.

“É importante passar a olhar o estádio não apenas como um centro de custo. Ele tem que se tornar uma fonte de receita.”

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Fonte: Folha PE

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