- Author, Faran Krentcil
- Role, BBC Culture
É difícil imaginar Cindy Crawford com medo.
Afinal, o olhar característico da supermodelo é bastante corajoso. Ela mantém contato visual direto e um leve sorriso, como se estivesse sempre se lembrando de uma ótima brincadeira.
Mas, pouco antes de completar 35 anos, em 2001, Cindy Crawford lembra que se sentiu “um pouco assustada”.
“Fui contratada da Revlon por cerca de 13 anos”, conta a modelo à BBC, da sua casa em Los Angeles, nos Estados Unidos.
“Eles foram maravilhosos para mim. Mas as modelos não duravam além dos 35 anos. Era simplesmente o pensamento do setor na época.”
Quando chegou a época da renovação do seu contrato de beleza milionário, os tabloides chamaram Crawford de “velha demais”.
Ao mesmo tempo, eles ironicamente destacavam paparazzi para fotografar cada movimento da modelo para figurar nas suas capas.
Crawford havia acabado de dar à luz sua filha Kaia Gerber, que hoje é famosa. Seu primeiro filho, Presley Gerber (que, hoje, também é modelo), era bebê.
“E eu dizia ‘OK, vou simplesmente me retirar? Ou vou apostar em mim mesma e tentar fazer algo sozinha?'”, ela conta. “Eu simplesmente sabia que tinha que dar uma chance para mim mesma. Era uma aposta.”
E, quando o assunto são apostas de carreira, Cindy Crawford é uma espécie de gênio. No mundo da moda, ela parece uma jogadora de pôquer profissional.
Crawford era modelo de catálogos americanos até explodir nas passarelas europeias. Ela foi uma das primeiras modelos a trabalhar simultaneamente com marcas populares e estilistas de luxo.
Em 1991, ela estrelou um comercial da Pepsi, ao mesmo tempo em que dominava as passarelas para Ralph Lauren e Versace. Em 1996, ela posou nua para a Playboy, enquanto atuava como o principal rosto da marca de relógios de luxo Omega. E os anos que ela passou apresentando o programa House of Style na MTV ajudaram a trazer a alta costura parisiense para a cultura popular.
Essas investidas simultâneas em áreas populares e de alto perfil, hoje, são comuns entre as modelos. Gigi Hadid é o rosto da Victoria’s Secret e da Miu Miu, enquanto Kendall Jenner representa a Calvin Klein e a Uber Eats.
Mas Cindy Crawford foi quem abriu o caminho, desfilando com saltos altos Chanel e camiseta da Hanes.
Fundar uma marca de maquiagem seria uma mudança simples para a modelo que convenceu milhões de mulheres a usar o estranho batom marrom nos anos 1990. Mas Crawford planejava algo diferente.
Ela queria explorar uma tendência nascente, na época, chamada “beleza da garota francesa”. Para ajudá-la, ela chamou seu dermatologista parisiense, Jean-Louis Sebagh.
“Não tínhamos uma palavra para aquilo na época – não havia redes sociais”, relembra Crawford.
“Mas, em 2001, havia esta ideia de como as mulheres francesas mantêm tão bem sua aparência quando envelhecem, como elas cuidam de si próprias e como elas são tão chiques. E eu pensei ‘eu sei como elas conseguem! É o Dr. Sebagh!”
Crawford respeitava e concordava com a técnica “sem pânico” de Sebagh em relação à pele de pessoas na casa dos 30 anos de idade.
“Ele chama o seu trabalho de ‘manutenção da idade'”, explica ela. “É algo realista. Você está cuidando; você está tentando parecer bem pelo máximo de tempo possível. Você não está lutando contra os anos que você conquistou.”
Juntos, eles decidiram engarrafar a fórmula facial antioxidante de Sebagh, que Crawford começou a usar na clínica do médico em Paris. Eles a batizaram de Meaningful Beauty (“Beleza Significativa”, em português) e falaram com lojas de departamento de luxo antes de lançar o produto, com um infomercial.
“Era muito importante que a Meaningful Beauty fosse acessível para todas as pessoas”, explica Crawford.
“Veja, os tutoriais de beleza e os TikToks são basicamente pequenos infomerciais, certo? Naquela época, infomercial lembrava algo como facas Ginsu de má qualidade.”
Hoje em dia, é comum vender linhas de beleza direto para o consumidor e os vídeos das marcas são o padrão. A Meaningful Beauty criou seus vídeos com amigas famosas da geração X, como a estrela da série Anatomia de Grey Ellen Pompeo, de 54 anos, e Kristin Davis, de Sex and the City, de 59.
Paralelamente, a própria Cindy Crawford se tornou uma espécie de estrela de TV, graças à série documental As Supermodelos (2023), da Apple TV . A produção mostra a ascensão de Crawford, ao lado de Naomi Campbell, Linda Evangelista e Christy Turlington.
“Acho que as pessoas não percebem como nós parecíamos estranhas para a indústria da moda naquela época”, relembra Crawford.
“Falo sério! A geração anterior à nossa era toda de meninas loiras de olhos azuis. Eles as chamavam de ‘totalmente americanas’, mas é claro que as americanas são muito mais do que isso. Naquele ambiente, estávamos ampliando a ideia da beleza. Não parece algo maluco hoje em dia?”
Crawford conta que o sucesso da série foi suficiente para que os executivos de TV discutissem uma segunda temporada.
“Estive pensando, ‘se fizermos isso, qual história da moda queremos contar em seguida?’ E olho para o que aconteceu na moda, o que tem sido incrível. Temos uma variedade muito maior de cores de pele, tamanhos, nacionalidades e idades. Por isso, eu disse, ‘se tivermos este programa de novo, temos que continuar defendendo que a beleza tem muitos aspectos diferentes.”
E também existem aspectos que se repetem. É o caso da filha de Crawford, Kaia Gerber, hoje com 23 anos.
A aparência de Gerber é quase idêntica à sua famosa mãe nas fotografias. Às vezes, ela desfila no tapete vermelho com os mesmos vestidos usados por Cindy Crawford na passarela.
No Festival de Cinema de Toronto, no Canadá, em setembro, Gerber usou um vestido bandagem Hervé Léger – uma recriação do famoso vestido usado pela mãe na cerimônia de entrega do Oscar de 1993.
“Nunca pensei que as tendências voltariam desta forma”, comenta Crawford, sobre a súbita atração pelo estilo dos anos 1990.
Mas Crawford tem mais interesse em descobrir o que fará amanhã do que em revisitar o passado. “Comecei a oferecer palestras mais longas, de 45 minutos, sobre questões que me preocupam, e este é um grande desafio.”
Crawford também discute novas ideias de negócios com seu marido, Rande Gerber, que é um dos donos da bilionária marca de tequila Casamigos, com o ator George Clooney.
“Temos cérebros muito, muito diferentes”, ela conta. “Nós compartilhamos as coisas entre nós. Nem sempre entendemos as ideias um do outro, mas nos entendemos um ao outro.”
E Crawford ainda desfila, atualmente para as marcas Donna Karan e Good American. “Honestamente, eu não fazia ideia de que ainda estaria sendo fotografada nesta idade”, diz.
Mas espere: as pessoas não diziam que Cindy Crawford era “velha demais” para campanhas de moda internacionais com 35 anos?
“Então [risos], acho que eles estavam errados.”
Fonte: BBC
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